Saturday, November 17, 2012

Sinal de fumaça

Gente do céu,

Nem acredito que estou finalmente aqui para tirar a poeira do meu blog. Tanto tempo ausente e tanta novidade que nem sei por onde começar. 2012 foi um ano de mudanças, conquistas e surpresas - surpresas muito agradáveis, devo dizer.

BabyLit - Romeo & Juliet
Em Fevereiro compramos nossa casa nova, depois de 5 anos de casamento finalmente encontramos um ninho para chamar de nosso! Em meio a reformas, escolhe cor, escolhe móveis, escolhe decoração, descobrimos que estávamos grávidos (em Abril). Entre enjoos, muito mais enjoos, mudamos para nossa casa nova em Maio e desde então temos tentado organizar a casa, a nossa vida, e a vida que está para chegar...

Meu ritmo de leitura diminuiu consideravelmente mas aos poucos estou conseguindo finalizar aqueles livros que sei que não terei tempo de ler quando nosso bebê chegar.

Sim, meu foco de leitura já mudou, e como duas das minhas companheiras de BookClub também estão grávidas, já estamos planejando Baby BookClub e pesquisando vários autores e livros que não podem faltar na estante das nossas crias. E como tem livro bom para bebês, gente! Estou impressionada com quão ignorante eu era sobre o assunto, e quando me deparei com esse site da Gibbs Smith - BabyLit - com clássicos literários em versão infantil, meu queixo caiu!

Tem muito mais que quero compartilhar e tentarei assim fazer quando tiver tempo livre, o que tem sido difícil, mas estou feliz que consegui vir aqui e compartilhar um pouco das novidades com vocês. Estou com quase 8 meses, e não vejo a hora de ver o rosto desse serzinho que vem crescendo dentro de mim de forma tão mágica, até agora me pego pensando: wow tem alguém crescendo dentro de mim! É incrível, é absolutamente incrível.

Fiquem bem, queridos e queridas. Até logo!

Julianne Haghverdian



Saturday, May 12, 2012

Poema de Sábado

Semana passada assisti The Raven, de James McTeige, com John Cusack. O filme fictício busca interpretar os últimos dias da vida de Edgar Alan Poe, que como sabemos, desapareceu por um certo período e foi encontrado poucos dias antes de sua morte, perambulando delirando e alucinando pelas ruas de Baltimore.

Em homenagem a Poe, escolhi um trecho do poema mencionado no filme... quem ainda não viu, corre, ainda dá tempo!

Annabel Lee

I was a child and she was a child,
Eu era uma criança e ela era uma criança,
In this kingdom by the sea:
Nesse reino a beira do mar:
But we loved with a love that was more than love—
Mas amávamos com um amor muito maior que amor—
I and my ANNABEL LEE;
Eu e minha ANNABEL LEE;
With a love that the winged seraphs of heaven
Com um amor que os anjos do céu
Coveted her and me.
Cobiçaram ela e eu.

(…)

The angels, not half so happy in heaven,
Os anjos, não felizes no paraíso,
Went envying her and me—
Decidiram invejar ela e eu—
Yes!— that was the reason (as all men know,
Sim!— esse foi o motivo (como todo homem sabe, 
In this kingdom by the sea)
Nesse reino a beira do mar)
That the wind came out of the cloud by night,
E o vento veio das nuvens a noite,
Chilling and killing my ANNABEL LEE.
Congelando e matando minha ANNABEL LEE.

(…)

For the moon never beams, without bringing me dreams
Porque a lua nunca brilha, sem trazer-me sonhos
Of the beautiful ANNABEL LEE;
Da bela ANNABEL LEE;
And the stars never rise, but I feel the bright eyes
E as estrelas nunca aparecem, sem que eu sinta os olhos brilhantes
Of the beautiful ANNABEL LEE;
Da bela ANNABEL LEE;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
E assim, em toda a maré noturna, eu me deito ao lado
Of my darling—my darling—my life and my bride,
da minha amada—minha amada—minha vida e minha noiva,
In the sepulchre there the sea,
Naquele sepulcro a beira do mar,
In her tomb by the sounding sea.
No seu túmulo a ouvir o barulho do mar.



Sunday, May 6, 2012

“When she opens her eyes, they are standing on the quarterdeck of a ship in the middle of the ocean.
Only the ship is made of books, its sails thousands of overlapping pages, and the sea it floats upon is dark black ink.”

“Quando ela abre os olhos, eles estão no tombadilho superior de um navio no meio do oceano.
Só que o navio é feito de livros, suas velas milhares de páginas sobrepostas, e o mar em que o navio navega é feito de tinta preta.”
The Night Circus, pag 261

Antecipadamente escolhido como o melhor livro lido em 2012!!

Tuesday, April 17, 2012

Daisy Miller (Henry James)

As vezes me pergunto se as mulheres de Henry James são secretamente inspiradas nas de Flaubert (de modo menos egoísta, diga-se de passagem), ou se James busca apenas fazer uma justaposição das sociedades Americana e Europeia. Digo isso porque, assim como a protagonista de The Portrait of a Lady, Daisy Miller é uma jovem nascida na América que, ao viajar para a Europa, vê-se em conflito com a opinião e comportamento daquela sociedade conservadora, considerada como o centro do pensamento livre, e modos liberais. Ambas sofrem humilhações nas mãos dos europeus, e acabam coagidas por serem consideradas insubmissas às normais sociais locais.
“Na pequena cidade de Vevey, na Suiça, existe um hotel particularmente confortável. Existem, na verdade, muitos hotéis; uma vez que entreter turistas é a maior fonte de renda do lugar, que, como muitos viajantes lembrarão, é localizado às margens de um lago azul inesquecível— um lago que atrai cada turista para uma visita.” (pag. 135)

 Escrita em terceira pessoa, o narrador relata a história usando o ponto de vista dos personagens, como se estivesse lendo suas mentes, explorando suas percepções e consciência.

Daisy Miller viaja com a mãe, o irmão e os criados pela Europa, vinda de Nova York. É na Suiça que conhece Winterbourne, que sem perceber se apaixona pela destemida e inocente Daisy Miller, e a segue até Roma, onde a história se desenvolve.

Ainda na Suiça percebe-se pelos comentários da tia de Winterbourne, Senhora Costello, que aquela sociedade não vê com bons olhos o modo liberal com que Daisy Miller se relaciona com os recém-conhecidos— e aqui a história me traz à memória Orgulho e Preconceito, quando Mr. Darcy demonstra pouco caso ao interagir com a família de Elizabeth Bennett até ser devidamente apresentado e ganhar certa intimidade... e quem não lembra como Mr. Darcy tratou Mr. Collins quando este último tentou uma aproximação? — É preciso uma introdução formal para que ambas as partes sejam consideradas 'conhecidos'. A sociedade europeia é seletiva e elitista, são poucos os que têm acesso ao círculos sociais mais elevados, e os que não se encaixam nos pré-requisitos dessa seleção são excluídos sem qualquer cerimônia ou discrição.

“Em Geneva, como ele tinha perfeita ciência, um jovem não deveria tomar a liberdade de falar com uma jovem solteira, com exceção de algumas certas raras condições; mas aqui, em Vevey, que condição mostraria-se mais favorável que esta? - uma bela jovem americana caminhando e parando bem a sua frente no meio do jardim.” (pag. 139)

Ao chegar a Roma, Daisy Miller conquista certa notoriedade, em pouco tempo circula pelos jantares mais badalados, convites chegam diariamente requisitando sua presença. No entanto, quando certo tempo depois, Winterbourne decide visitá-la em Roma, o curso da história de Daisy Miller já é outro. Rumores circulam pela cidade sobre as liberdades da moça, sobre seus passeios diários desacompanhada da mãe, e cercada por italianos de certa reputação.

“A garota circula pela cidade sozinha cercada pelos estranhos. Sobre o que acontece nesses passeios, deves inquirir a outra fonte pela informação. Ela se associou a meia-duzia de romanos em busca de fortuna, e os leva como companhia aos jantares que frequenta. Quando ela vem a uma festa ela traz consigo um cavalheiro com boas maneiras e um bigode maravilhoso.” (pag. 162)

E assim acontece o declínio de Daisy, ainda mais rápido que sua ascensão. Não se sabe se por ingenuidade ou teimosia, ela insiste em não aceitar os conselhos da mãe e dos amigos mais chegados, recusa-se a mudar seus hábitos para agradar a sociedade, projeta-se como inabalável. Prefere a liberdade... e a liberdade acaba lhe custando mais do que esperava.

As biografias sobre Henry James parecem concordar em um ponto, o próprio James era considerado expatriado, os primeiros vinte anos de sua vida foram marcados por suas idas e vindas da America para Europa, até que decide fixar residência na Inglaterra pouco tempo antes de sua morte. E aqui a minha pergunta do início desse post é respondida... como expatriado que era, James tinha conhecimento de causa e por esse motivo muitas de suas obras retratam o choque de culturas e de personalidades quando visitando terras estrangeiras: The Portrait of a Lady, Daisy Miller, Roderick Hudson, The American... e por ai vai. Outro ponto marcante em suas obras é a excelência com que James escreve sobre os países que seus personagens visitam, nesse ponto ele me lembra Tolstoy, ao descrever minuciosamente os cenários que se misturam com o ambiente natural, e na minha mente se transformam em obras-de-arte como as pinturas de Rembrandt... e não é esse um dos maiores prazeres da leitura?

“A noite estava encantadora, e ele prometeu a si mesmo a satisfação de caminhar até a casa, passar por debaixo do Arco de Constantino e além dos monumentos levemente iluminados do Forum. Num céu de lua minguante, o esplendor não era brilhante mas a lua estava coberta por uma fina cortina de nuvens que parecia dissolver e igualar-se a sua cor. Quando, ao retornar da vila (já eram vinte e três horas), Winterbourne aproximou-se do círculo abstruso do Colosseo, pareceu para ele, amante eterno do pitoresco, valer muito a pena visitar  o interior do monumento, à luz do pálido esplendor da lua. (...) E então ele atravessou por entre as sombras cavernosas da estrutura colossal, e reapareceu na clara e silenciosa arena. O lugar nunca lhe havia parecido tão impressionante.” (pag. 187)

Saturday, April 14, 2012

Poema de Sábado

X. Mar Português


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso,  ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa,
A mensagem, pag. 29

Saturday, March 31, 2012

Poema de Sábado

Ária para Assovio

Inelutavelmente tu
Rosa sobre o passeio
Branca! e a melancolia
Na tarde do seio.

As cássias escorrem
Seu ouro a teus pés
Conheço o soneto
Porém tu quem és?

O madrigal se escreve:
Se é do teu costume
Deixa que eu te leve.

(Sê... mínima e breve
A música do perfume
Não guarda ciúme.)

Rio, 1936

Vinicius de Moraes,
Nova Antologia Poética, pag. 14

Friday, March 23, 2012

When She Woke (Hillary Jordan)


“Quando ela acordou, ela estava vermelha. Não de vergonha, não por queimadura do sol, mas o sólido, vermelho berrante de uma placa de trânsito. Ela viu suas mãos primeiro. Ela as observou em frente aos seus olhos. (...) Ela sabia o que a esperava— já havia visto muitos Vermelhos antes, logicamente, pela rua e na vid— mas ainda assim, ela não estava preparada para ver a sua própria pele transformada.” (pag. 01)


Gente, desde que terminei de ler esse livro em Outubro venho me preparando para essa resenha. When She Woke - Quando ela Acordou - foi escolhido pela Nari do meu BookClub, que recebeu uma cópia da editora antes da publicação para review. Todas nós gostamos da história, ou da maioria dela...  um dos poucos livros que não faltou assunto para conversa.

When She Woke relata o drama de Hannah Payne, numa América futurística controlada pela religião. Guerras devastaram países, e 'O grande Flagelo' deixou metade das mulheres estéreis. Los Angeles nada mais é do que uma grande bola radioativa. Com o sistema penitenciário falido, a crise obriga enormes cortes no orçamento. E para aliviar o sistema penitenciário e esvaziar as prisões,  o governo americano cria a 'melocromia', onde aqueles que cometem crimes têm sua pele tonalizada de acordo com o crime cometido—pequenas contravenções: Amarelo; crimes sexuais: Azul; Homicidas: Vermelho.

“Pelo menos ela ainda tinha seus olhos para lembrá-la quem era: Hannah Elizabeth Payne. Filha de John e Samantha. Irmã de Rebecca. Homicida de uma criança, sem nome. Hannah se pergunta se aquela criança herdaria os olhos melancólicos do pai e sua boca suave, sua sobrancelha arqueada e grossa e a pela alva.” (pag. 7)

Hannah se apaixona e acaba tendo um romance com o Reverendo Super-Famoso, Aidan Dale. Engravida e decide fazer um aborto numa clínica clandestina. Aborto é tratado como homicídio pelo novo Código Penal americano.

Hannah cresceu numa família cristã extremista, envolve-se com o reverendo de sua igreja - casado. Aidan,  devido a um ato-falho cometido antes do casamento, contraiu uma DST, ainda sem cura na época. A doença foi transmitida a esposa, que, pelo tempo que a cura foi encontrada, já havia perdido os ovários e nunca pôde ter filhos.


“Quero saber o nome dele. O nome do homem que te desonrou e te mandou abortar teu bebê.
Hannah balançou a cabeça involuntariamente, lembrando do dos lábios de Aidan em sua pele, beijando a curva de seu braço, a curva macia de seus pés; puxando suas pernas aparte para que sua boca tomasse posse de cada parte escondida de seu corpo. Para ela, aquilo não era desonra. Para ela parecia uma forma de adoração.”
(pag. 23)


É quando Hannah deixa a prisão que se dá conta do peso de ser Vermelha, a sociedade fecha suas portas para os 'cromos'. Não há onde morar, não há emprego. Uma nova era de segregação baseada na cor da pele. Rejeitada pela mãe, sem auxílio da irmã, Hannah conta com a ajuda limitada do pai para enfrentar sua nova realidade. Até ser encontrada pelos Novembristas, uma organização secreta que advoca o direito de escolha da mulher, nesse caso, o direito ao aborto, e condena o fato desse ato ser considerado e punido como homicídio.

Hannah se vê num dilema: aceita a proposta dos Novembristas - fugir para o Canadá onde se submeterá a um procedimento médico que a livrará da monocromia - ou, fica no Texas e cumpre sua sentença pelo crime cometido. Fugir  significa abandonar a família, Aidan, sem nunca olhar para trás, esquecer Hannah Payne e recomeçar do zero. Ficar é alimentar a esperança por Aidan, é enfrentar as acusações da mãe, a repressão do cunhado, o desapontamento do pai, e viver por quinze anos sendo lembrada diariamente daquela vida que não permitiu nascer.

Hillary Jordan não nega sua inspiração em The Scarlet Letter - A Letra Escarlate - do Nathaniel Hawthorne. Hannah Payne, assim como Hester Prynne, desafia a família, suas crenças e a sociedade, e sacrifica a si mesma, para proteger a identidade do homem que ama. Aidan Dale, bem como Arthur Dimmensdale, fica dividido entre sua posição como Ministro da Fé e o amor por Hannah. Porém a semelhança termina por aí. Na minha opinião, When She Woke trás muitos tópicos para discussão, a história é forte e controversa, leva-se um pouco de tempo para entender o estado em que a sociedade se encontra e se adaptar aos novos termos usados, mas não se consegue parar de ler. No entanto, há alguns tópicos que me incomodaram.


De certo Jordan tem como intuito realmente chocar o leitor e deixar claro que a Hannah daquele momento já não era mais a mesma Hannah do início da história, e que 'aquele' fato a afastaria definitivamente de qualquer possibilidade de existir Aidan e Hannah, mas acredito que a história poderia ter existido sem 'aquele' detalhe... quem ler vai entender mais tarde. Na minha opinião, já haviam elementos discutíveis o bastante na obra e aquela situação foi desnecessária. 


Outro detalhe é que os personagens masculinos são ou fracos, covardes, ou violentos - até os membros masculinos Novembristas submetem-se às imposições femininas. Também achei que Religião é mostrada de forma tão pejorativa que por vezes soa ofensivo. Incômodos a parte, valeu a pena a experiência de Quando ela Acordou, recomendado! ...  E quando terminei, bateu uma saudade daquelas de A Letra Escarlate e lembrei que ainda não comentei sobre essa obra aqui no blog. Hora de marcar um encontro com Hawthorne!


Sunday, March 18, 2012

My Horizontal Life (Chelsea Handler)

A primeira palavra que me vem a cabeça quando penso nesse livro é: LOUCURA!
A segunda é: HILÁRIO!
A terceira: SEXO!

Não é comum ouvir mulheres sexualmente ativas falando abertamente e contando ao mundo quão ativas elas são. Chelsea Handler com toda convicção não é uma delas. My Horizontal Life - Minha Vida na Horizontal, conta algumas das aventuras sexuais da comediante e apresentadora americana começando nos tempos do Ensino Médio, e se você pensa que ela só conta as experiências boas, com os carinhas bonitões... não se engane. Chelsea não tem pudor nem vergonha, compartilha as experiências mais embaraçosas e, muitas vezes, nojentas, de seus one-night stands “uma noite apenas”, com seus queridos leitores.

Quem me sugeriu o livro foi o marido, que decidiu comprar numa de suas viagens a trabalho quando esqueceu o Ipod — entenda bem, o marido não é fã de sentar e ler um livro, ele tem uma espécie de formiguinha interna sabe? Por isso ele prefere livros em audio, pela comodidade... então, se ele comprou o livro, e chegou a terminá-lo, só poderia ser por dois motivos: 1. Era muito, mas muito engraçado; 2. Falava muito sobre sexo. Ele disse que era o número um, mas após ler o livro, tenho certeza que a resposta era o número dois! — “Ela é uma whore e alcoólatra, mas é engraçada.” disse o marido.

“Nem por um segundo eu cheguei a pensar que ele teria um pipi pequeno. ‘Pequeno’ é uma palavra generosa quando se tenta descrever uma coisa do tamanho de uma salsicha enlatada. Essa coisa era menor do que meu dedão do pé. Não era nem parecido com um pênis, parecia mais um pedaço extra de pele. Fiquei mortificada. Eu tinha que arranjar um jeito de sair dali.” (pag. 72)

Mas claro, nem só de sexo fala o livro. Chelsea também dedica alguns capítulos contando de forma sátira, como foi crescer como a caçula numa família de seis filhos, de pai judeu e mãe mormon. Os conflitos com o pai, o relacionamento com os irmãos, e amigos. Como não poderia ser diferente, a história é contada de forma extremamente coloquial e direta, com muito cinismo e comicidade, Chelsea não deixa barato e faz muita piada de si e das situações em que se mete tentando saciar seu vício por sexo.

“Ver sua mãe pelada não é uma situação fácil de se recuperar. Ver sua mãe pelada e pulando de um lado para o outro de uma cama tamanho king, usando um chapeuzinho de enfermeira enquanto seu pai, também pelado, persegue-na com um lenço enrolado no pescoço, é motivo para se implorar para ser posto para adoção.” (pag. 2)

Saturday, March 17, 2012

The Story of a Shipwrecked Sailor (Gabriel Garcia Marquez)

“28 de Fevereiro de 1955, chegou com a notícia de que oito membros da tripulação do destroyer Caldas, pertencente à Marinha Colombiana, haviam caído no mar e desaparecido durante uma tempestade em águas caribenhas. O navio viajava de Mobile, Alabama, nos Estados Unidos, onde estava ancorado para reparos, para o porto de Cartagena na Colombia, onde chegou duas horas após a tragédia. (...) Uma semana depois, no entanto, um dos tripulantes reaparece quase morto numa praia deserta no nordeste da Colombia, após sobreviver durante dez dias sem comida ou água num bote salva-vidas. Seu nome era Luis Alejandro Velasco.” (pag. vi)

Em seis horas diárias de entrevistas durante vinte dias, Marquez questionou, explorou, e testou as respostas de Velasco em busca de contradições e falsas afirmações, resultando num relato conciso e concreto de seus dez dias à deriva. Para surpresa de Marquez, no quarto dia de entrevista, quando pede que Velasco descreva a tempestade que causou o desastre, ele responde com um sorriso: “Nunca houve uma tempestade.” (pag. vii)

“Um bote salva-vidas não tem proa ou popa, é quadrado e por vezes navega de lado, imperceptivelmente vira de um lado pro outro. Como não há ponto de referência, não se sabe se está movendo para frente ou para trás. O oceano é o mesmo em todas as direções. Então eu não sabia se o bote havia mudado de curso ou apenas navegava em círculos.” (pag. 43)

Primeiro o desespero, depois a certeza de que resgate aparecerá em breve,  esperança... quando as horas passam, escurece, amanhece, vem o frio, a fome, a sede, o perigo, o desespero novamente, a espera, a dor, as lembranças, a incerteza. Com o tempo todos os sentimentos se repetem num círculo vicioso e já não se sabe se se espera pela morte ou pela vida. Desistência.

“A verdade, nunca publicada até então, era a de que o navio, abatido violentamente pelo vento em mar-aberto, havia jogado sua carga mal-assegurada e seus oito marinheiros no mar. Essa revelação significava que três ofensas seríssimas haviam sido cometidas: primeiro, é ilegal o transporte de mercadorias em um destroyer; segundo, o excesso de peso não permitiu que o navio manobrasse para resgatar os marinheiros; e terceiro, a carga era contrabando — geladeiras, televisões, e máquinas de lavar.” (pag. viii)

Relato de Um Náufrago é uma reconstrução jornalística de Marquez baseado no que lhe foi dito pelo sobrevivente do naufrágio. O que Marquez não contava é que sua investigação dos fatos causaria tumulto e perseguição política, ao ter segredos da Marinha Colombiana revelados ao público bem naquele tenso período do regime ditatorial colombiano. Talvez a verdade nunca tivesse vindo a tona se o destroyer tivesse manobrado e conseguido resgatar seus tripulantes. E Marquez jamais teria sido envolvido na história de Velasco. E como consequência, o El Espectador não teria sofrido represálias, resultando no fechamento do jornal meses depois das publicações. No entanto, mesmo com toda a pressão, ameaças, e tentativas de suborno, Luis Alejandro Velasco, nunca voltou atrás em nenhuma palavra de sua história. 

Saturday, March 10, 2012

Poema de Sábado

Hoje é outro dia

Quando abro cada manhã a janela do meu quarto
É como se abrisse o mesmo livro
Numa página nova...

Mario Quintana,
A cor do invisível, pag. 21

Saturday, March 3, 2012

Poema de Sábado

Essa lembrança que nos vem

Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbida
que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança... mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa, 
mas de alguém que, pensando em nós, só possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! tão perdida
que nem possa saber mais de quem!

Mario Quintana
A cor do Invisível, pag. 112.

Sunday, February 5, 2012

The Five People you Meet in Heaven (Mitch Albom)

Primeiras linhas:

“Essa história é sobre um homem chamado Eddie e ela começa no fim, com Eddie morrendo sob a luz do sol. Pode parecer estranho começar a história no final. Mas todos os finais são também começos. Apenas não sabemos disso naquele exato momento.”

Eddie trabalhou como mecânico num parque de diversões durante quase toda sua vida, e ali morreu, no seu aniversário de 83 anos, tentando salvar uma garotinha quando um dos brinquedos do parque quebra e começa a despencar de metros e metros de altura. Sem saber se realmente havia salvado a criança, Eddie chega ao Paraíso e toma conhecimento de seu fim trágico...  e é quando Eddie é introduzido à primeira pessoa que ele deverá encontrar, e que lhe explicará um pouquinho do porquê de Eddie encontrar cinco pessoas antes de desfrutar do verdadeiro paraíso.

“Todos os pais causam danos em seus filhos. Não há como evitar. (...) Os danos causados pelo pai de Eddie foram, no início, danos de negligência. Quando infante, Eddie raramente foi carregado pelo pai, quando criança, ele foi na maioria das vezes puxado pelo braço, mais com irritação do que com amor. A mãe de Eddie estava ali para dar carinho; seu pai estava ali para disciplinar.” (pag. 104)

Algumas dessas pessoas afetaram de certa forma, talvez não intencionalmente, a vida de Eddie. Outras tiveram sua vida afetada, direta ou indiretamente por ele. Como no caso da primeira pessoa, o Homem Azul, que morreu num acidente de carro após  desviar de um garotinho que atravessou a rua desavisado correndo atrás de uma bola. Eddie.

Ou no caso de Ruby, a esposa do dono do parque, chamado Ruby Pier em sua homenagem. Parque em que Eddie se viu obrigado a trabalhar após voltar da guerra, substituindo o pai como mecânico. O parque foi pivô de muitas brigas entre Eddie e seu pai, e por fim, responsável pela morte do nosso protagonista também.

A história de Eddie é contada paralelamente, de forma que os capítulos de intercalam com o presente e o passado. O interessante é que cada capítulo sobre o passado começa no dia do aniversário de Eddie, começando com o aniversário de 5 anos.

“Hoje é aniversário de Eddie
Ele tem 51. Um sábado. É seu primeiro aniversário sem Marguerite. Ele faz Sanka num copo de papel, e come dois pedaços de torrada com margarina. Nos anos após o acidente de sua esposa, Eddie evitou qualquer tipo de celebração de aniversário, dizendo, 'Porque tenho que ser lembrado daquele dia?'” (pag. 183)

The five people you meet in Heaven é uma leitura curta e agradável. O que gostei é que, apesar de trazer um tema que talvez não agrade a muitos leitores, ou que é visto como religioso, Albom escreveu a história de forma imparcial, não há menção de Deus, de inferno, não há cunho religioso. O paraíso é descrito como um lugar de liberação, de se livrar dos pesos de erros cometidos durante a vida, e que você nem mesmo se deu conta que cometeu. E não é apenas sobre erros, o paraíso de Albom também serviu para Eddie entender e se livrar de suas agonias, arrependimentos, e permitir também que aquelas pessoas que causaram algum tipo de dano a ele, tivessem a chance de se desculpar, ou de contar o seu lado da história. Gostei da história pela simplicidade com que foi escrita, e pela maneira cordial em que foi contada mesmo trazendo sentimentos tão pesados de dor.

Eu havia visto o filme há alguns anos, e nem me toquei quando decidi ler a história. Ao começar a ler, achei a história bem familiar, daí lembrei ter visto o filme que traz Jon Voight como Eddie, e é bastante fiel ao livro.



“'SACRIFÍCIO', disso o capitão. 'Você fez um. Eu fiz um. Todos nós fazemos. Mas você ficou com raiva por causa do seu. Você ficou pensando o tempo todo sobre aquilo que perdeu.
Você não entende. Sacrifício é parte da vida. É o que deve ser. Pequenos sacrifícios. Grandes sacrifícios. Uma mãe trabalha para que seu filho possa ir a escola. A filha volta para casa para tomar conta do pai doente.
Um homem vai para guerra...” (pag. 93)

Saturday, January 14, 2012

Resumo de 2011


Feliz Ano Novo, bloggeiros!!!!

Finalmente consegui um tempinho para correr aqui e fazer meu primeiro post de 2012. Meu coração apertado porque não estou conseguindo dar tanta atenção ao meu querido blog ultimamente, mas vida de gente grande é assim mesmo. As vezes me cobro demais e fico chateada por não conseguir tempo para sentar e escrever um post decente sobre os livros maravilhosos que tenho lido, no entanto, leitura para mim não é obrigação, é um hobby, um ato de prazer... e penso o mesmo sobre minhas resenhas aqui do blog.

Mas vamos então ao resumo de 2011. Eis aqui os lidos - desisti de 1 - A Lucky Child (Thomas Buergenthal):

Não me arrependo e leria de novo!!! - Ficção: The Girl who Kicked the Hornet's Nest (Stieg Larsson) When She Woke (Hillary Jordan)

Não me arrependo e leria de novo!!! - Não-Ficção: I am Nujood, Age 10 and Divorced

Preferia não ter lido!: The Book Borrower (Alice Mattison)

Li mas não convenceuThe Almost Moon (Alice Sebold)

Decepção: Não teve nenhum livro que realmente me arrependi de ler, vou escolher o que desisti A Lucky Child (Thomas Buergenthal), não porque o livro é ruim mas porque escolhi a hora errada para ler. Natal é mês de sentimentos positivos, e ler sobre o Holocausto no Natal não é a melhor escolha.

O melhor do ano: essa foi uma escolha difícil, mas escolho The Angel's Game (Carlos Ruiz Zafon)
Zafón na lista pelo segundo ano consecutivo!

E que venha 2012 e todas as suas surpresas de leitura!