Tuesday, August 31, 2010

The Falls (Joyce Carol Oates)

Eu basicamente escolhi esse livro não pelo livro, mas pela escritora que é o tema do desafio literário que fiz o favor de entrar no início do ano. Nunca fui fã de desafios, especialmente literários porque escolho meu próximo livro pelo meu humor, estado de espírito, ou TPM do dia... seja lá o que for, não consigo seguir listas, padrões, essas coisas. Meio que me forcei a pensar no desafio porque metade do ano já se passou e eu só li 01 livro que se encaixa no bendito desafio, e Oates era a única que eu não tinha lido e que começava com "O" (blééé que li Flannery O'Connor ano passado!).

A história até que começa interessante... O noivo, agora marido, comete suicídio no primeiro dia de lua-de-mel, jogando-se de umas das cachoeiras das Cataratas do Niágara, lugar escolhido pelos noivos para passar a noite de núpcias. Ele, Gilbert, recém nomeado pastor titular de uma igrejinha em Troia, Nova York. Ela, Ariah, professora de canto e piano e filha de pastores. Ambos já passando da idade de casar, quase ficando para titios, têm o casamento meio que arranjado pelos pais. Situação resolvida! Imagina... Gilbert comete suicídio, os motivos até hoje anônimos para Ariah... Gilbert escondia seu amor pelo amigo de faculdade e também pastor, D.

Ariah que mal casara já era viúva. Por sete dias e sete noites, Ariah acompanhou as equipes de resgate, na busca pelo marido. Por sete dias e sete noites, a jovem noiva-esposa-viúva, de cabelos vermelhos e magricela se fez presente na Gorge, a espera do corpo de Gilbert.

Até aí parece que a história promete né?! Não sei em que ponto, o fio da meada foi perdido.
Ariah casa poucos meses depois com Dirk Burnaby, advogado rico e famoso de Gorges, que a auxiliou durante as buscas pelo corpo do marido. Dick apaixona-se por aquela esposa obstinada, aparentemente tão frágil, carente, mas determinada a cumprir até o último minuto seu dever de esposa. Talvez Dick tenha fantasiado uma esposa assim, que o esperaria incansavelmente, que não perderia as esperanças, que cuidaria dele mesmo contra sua vontade.

Ariah e Dick tiveram 3 filhos, o primeiro, Chandler subentende-se que foi fruto da única noite de amor com o primeiro marido. Ariah e Dick nunca mencionaram isso, mas ambos sabiam que Chandler era na verdade filho de Gilbert. Royall chegou para aliviar a vida de Ariah, esse com certeza era filho do pai. Anos mais tarde chega Juliett, no desespero por uma família perfeita. Ariah torna-se anti-social, vive para os filhos, o marido e os poucos alunos de piano. Após a traumática perda do primeiro marido, Ariah tenta ignorar os acontecimentos fora dos limites de sua casa, vive num mundo só seu, onde as maldades e a realidade do mundo exterior não entram.

Ariah passa a viver totalmente alienada. Até mesmo quando Dick se envolve num caso judicial que resulta em sua morte. Ariah ignora a perda do marido, era como se ele nunca tivesse existido.

Honestamente eu não consegui entender o propósito da história no que diz respeito à protagonista. E a história foi bem batida no que diz respeito às denúncias de corrupção das empresas Corporativas e o Estado - o caso em que Dick Burnaby se envolve e que acaba em sua morte, nada mais é que uma cópia do caso de Erin Brockovich... empresas milionárias que se instalam em pequenas cidades, poluem até o último grau, os moradores ficam doentes, doenças raras viram rotinas, o governo local protege as corporações e ignoram os apelos populares... até que alguém muito mais tarde, consegue ganhar através de um processo judicial, milhões para pagar as despesas médicas dos moradores afetados.

A história se arrasta de maneira irritante, cheguei a querer desistir várias vezes. Durante vários capítulos tive ligeira impressão de que a autora só estava querendo encher páginas, porque assunto e conteúdo já não mais existiam. Foi um alívio quando finalmente consegui terminar. Achei os personagens fracamente desenvolvidos, há vários hiatos durante a história que me deixaram ainda menos interessada em ler qualquer outra obra de Oates. Joyce Carol Oates definitivamente não tem um estilo que me agrada, mas pelo menos risquei mais um livro do meu desafio literário.

Ufa!

Saturday, August 28, 2010

Poema de Sábado

The Everlasting Monday
A segunda-feira eterna

The moon's man stands in his shell,
A lua do homem ali permanece em sua concha,
Bent under a bundle
Debruçado sob uma pilha
Of sticks. The light falls chalk and cold
de gravetos. A luz cai como giz e fria
Upon our bedspread.
Sobre nossos cobertores.
His teeth are chattering among the leprous
Seus dentes tremem de frio entre os picos leprosos
Peaks and craters of those extinct volcanos.
E crateras daqueles vulcões extintos.

He also against black frost
Até durante a cruel geada
Would pick sticks, would not rest
Ele procurava gravetos, sem descanço
Until his own lit room outshone
Até que seu prórpio quarto iluminado ofusque
Sunday's ghost of sun;
O sol fantasma de domingo;
Now works his hell of Mondays in the moon's ball,
Agora trabalha suas Segundas de inferno no baile da lua,
Fireless, seven chill seas chained to his ankle.
Sem luz, com os sete oceanos frios amarrados ao seu calcanhar.


(Sylvia Plath - 1957,
do livro The Collected Poems, Sylvia Plath,
 pag 62)

Sunday, August 15, 2010

The Shadow of the Wind (Carlos Ruiz Zafón)

Estava super, super ansiosa para comentar sobre esse livro. Infelizmente terminei de ler exatamente na semana que me preparava para a mudança. Com tudo encaixotado e tempo reduzido, perdi meu "momentum" de falar sobre ele enquanto tudo estava brilhantemente vivo e fresco na cabeça... por esse motivo escolhi "The Shadow of the Wind" para o BookClub de Setembro, e como eu tinha certeza que ia acontecer, já recebi recadinhos de que a escolha foi ótima! (thumbs up!)

Li sobre "A sombra do Vento" num blog em 2009, ainda não havia chegado por aqui, mas aguardei pacientemente, o que valeu muito a pena.

A história tem Barcelona como cenário, Daniel como protagonista, histórias de amor, vingança e crueldade em seu enredo, com uma pitada deliciosa de mistério. Mistério esse que me corroeu de tal maneira que nem dormir direito eu conseguia.
"Fui criado em meio aos livros, fazendo amigos invisíveis em páginas que pareciam ser feitas de poeira e das quais o cheiro eu carrego comigo até o dia de hoje". (pag. 4)
Aos dez anos de idade, Daniel é apresentado pelo pai ao Cemitério dos Livros Esquecidos, como presente, seu pai permite que escolha um livro, qualquer um, e o adote, jamais permitindo que o livro desapareça. Daniel vaga pelos corredores e escolhe um livro sentado timidamente no canto de uma estante, capa de couro cor-de-vinho com letras douradas que diziam "Shadow of the Wind (Sombra do Vento) - Julián Carax". Mal sabia Daniel que aquele livro de autor desconhecido mudaria sua vida para sempre, no instante em que saíssse do Cemitério dos Livros Esquecidos.

Fascinado pela história de Julián Carax, Daniel busca outras obras do escritor, é quando fica sabendo que um homem misterioso vem comprando as obras de Carax por toda Europa e destruindo os exemplares. Quem foi Julián Carax? Porque alguém estaria tentando apagar seus registros na história?
"Aquele livro me ensinou que, através da leitura, eu poderia viver mais intensamente. Poderia me dar de volta a visão que perdi. Por essa única razão, um livro que não tinha a menor importância para ninguém, mudou a minha vida". (pag. 27)
É em torno desse mistério que a história se desenvolve, entrelaçada num deliocioso enredo que prende o leitor do início ao fim. A cada capítulo o leitor se envolve mais e mais com a história, o fato de que Zafón mistura fatos históricos à história de vários personagens para explicar traumas do passado, faz a obra ainda mais realista e rica, peguei-me várias vezes tentando fazer uma investigação paralela dos fatos, seria o Inspetor Fumero o homem misterioso? O que aconteceu com a família Aldaya? Onde estária Penélope, o grande amor de Julián Carax? Será que a história de Julián se repetiria na vida de Daniel? Ele seria tão covarde a ponto de abandonar Bea?

O interessante é ver o crescimento do protagonista. Daniel começa a história como menino, e o leitor acompanha sua transformação para adolescência - seu amor platônico por Clara Barceló, o coração partido, a volta por cima, seu amor pelo pai.

Daniel amadurece perante os olhos do leitor - e devo dizer que Daniel pré-adulto é bem safadinho, tem um charme perigoso e uma queda por mulheres mais velhas - o que me fez lembrar do personagem de Jim Butcher, Harry Dresden da série The Dresden files (comentário sobre Storm Front aqui) - e é o Daniel adulto que trás para a história Fermín Romero de Torres, personagem inteligente e engraçadíssimo que rouba a cena em muitos trechos. Fermín e Daniel tornam-se melhores amigos, apesar da diferença enorme de idade, Fermín contribui e muito para o amadurecimento de Daniel, mesmo agindo ele mesmo com infantilidade em muitos momentos.
"Um homem com cabeça, coração, e alma. Um homem capaz de ouvir, liderar e respeitar uma criança, e não de afogá-la com seus próprios defeitos. Alguém que não será apenas amado por uma criança por ser seu pai mas que será também admirado pela pessoa que é. Alguém que desejará ser quando crescer". (pag. 185)
Fiquei fascinada pelo estilo de Carlos Ruiz Zafón, que escritor talentoso! The Shadow of the Wind foi um dos livros mais completos que já li, daqueles que não deixa dúvidas ou hiatos na narrativa, os personagens foram excelentemente desenvolvidos, com começo, meio e fim. Terminei de ler o livro e senti aquela sensação de completude, delícia de ler, lembrança boa de ter lido.

* Livro da Lista Rory Gilmore.

Saturday, August 14, 2010

Poema de Sábado

Às Vezes



Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

(Fernando Pessoa, sob
o heteronômio de Álvaro de Campos)