Friday, August 28, 2009

Esperança


As vezes parece que nossos problemas são os únicos e maiores do mundo...
As vezes parece que as forças acabam e os músculos são inúteis...
As vezes parece que as palavras positivas são em vão...
As vezes um abraço e um olhar não são suficientes...
As vezes parece que ninguém escuta os gritos do nosso coração...
Mas quando, no que parecia mais um dia desanimador, tem-se a oportunidade de presenciar um nascer-do-sol como esse...
Ah! As esperanças se renovam... renovam-se porque Alguém, não se sabe quem e não se sabe de onde... Decidiu me desejar TENHA UM ÓTIMO DIA da maneira mais deslumbrante!

Esse Alguém eu chamo de PAI!

Obrigada PAI por nunca esquecer de mim e por "renovar minhas esperanças ao amanhecer!"
Foto: celular - San Jose, CA - 08/28/2009 - 6:30 a.m.

Monday, August 24, 2009

Madame Bovary (Gustave Flaubert)


De tanto ouvi falar das controvérsias de Emma Bovary e a polêmica do real intuito de Flaubert ao escrever a história, decidi ler o livro e tirar minhas próprias conclusões.
Madame Bovary... por onde começo?
A história começa e termina com a vida de Charles Bovary. Charles foi, desde criança, average! Nunca foi o melhor, também não era o pior. Aquele sempre em cima do muro. Introvertido, na média, foi acostumado desde pequeno a ser mandado, a obedecer, a nunca tomar decisões por si, cresceu solto pelos campos do interior, enquanto as outras crianças estudavam, Charles perambulava.
O pai, Sr. Bovary, quase sempre bêbado, pouco se importava com educação, nunca se deu o trabalho de enviar o filho a escola, o que só acontece quando Charles completa 12 anos, e por causa dos arranjos da mãe, Sra. Bovary, a grande incentivadora, nunca desistiu do sonho de ver o filho ser alguém. O caráter de Charles é compreendido em seu primeiro dia de aula, atrapalhado e tímido, a professora pergunta seu nome: Charbovari.

Quando Charles entrou para a escola de Medicina (antes mesmo de terminar os estudos básicos) fica evidente sua ignorância, dos livros pouco compreendia, não importa o quão atento tivesse, não entendia patavinas das aulas assistidas. Levou a sério no início, até gazetar a aula prática no hospital, no próximo dia outra aula... Não mais voltou.

Com o esforço da mãe, Charles volta ao estudo e termina a faculdade para virar um médico medíocre de uma cidadezinha do interior. A mãe decide que o filho precisa casar. É ela quem encontra a esposa, a viúva de um oficial de justiça, feia e magra, de 45 anos e boa pensão.

Conhece Emma quando presta serviços ao pai Sr. Rouault de Les Bertaux, que havia quebrado a perna. Emma Rouault, uma adolescente do interior educada em colégio de freiras, a mãe falecera há 2 anos, governa a fazenda do pai, que Charles acreditava ter posses. Pouco conhece do mundo e do pouco que conhece, aprendeu lendo livros - romances, para ser mais precisa. Achava Charles inteligente, por ser médico e por ler. Charles, encantado pela beleza, doçura, inteligência e elegância de Emma, não consegue esconder seu interesse pela jovem, Sr. Rouault vendo em Charles um bom pretendente para a filha, tenta mantê-lo por perto.

A esposa de Charles, enciumada pelas frequentes visitas do marido a Les Bertaux mesmo após a recuperação do paciente, aumenta as reclamações em relação a sua saúde, morre algum tempo depois e em menos tempo ainda acontece o casamento de Emma e Charles.

O desencanto de Emma acontece nos primeiros meses de casada. Charles era completamente apaixonado e encantado pela esposa, admirava tudo em Emma, que por sua vez começou a criar uma aversão e antipatia pelo marido. Imaginava a vida de casada como um romance, cheio de aventuras e emoção, perguntava-se se não teria um meio, por chance do destino, de conhecer um outro homem e imaginava-se nesses eventos irreais, nessa vida diferente, com esse marido que não conhecia, como seria? Nenhum deles se parecia com o marido que tinha.


"Meu Deus, porque casei?" (...) Mas sua vida era tão fria
quanto um sótão exposto ao lado norte, e tediosa, aquela aranha silenciosa fazia teias em cada canto escuro do seu coração"
(Pag. 63).
Responsável pelas finanças do marido, Emma aproveita-se da posição para tentar aliviar seu tédio e rotina, muda o estilo do cabelo por diversas vezes, faz assinatura de revistas de moda francesas, compra vestidos da moda, chales, lenços, livros e livros (romances), decide aprender italiano, compra dicionários, gramáticas. Tenta ler livros mais sérios, História e Psicologia. Redecora a casa, o guarda-roupa de novo. Toda bem vestida, as vezes passava a dia inteiro sentada no sofá... fazendo nada. Quando Charles é convidado para um jantar na casa do Visconde, Emma sente, pela primeira vez, o gostinho da corte francesa. O luxo, a pompa, a elegância dos vestidos e da maneira das mulheres ali presentes... sente inveja daquela vida, é isso o que quer pra si. Lembra daquela noite por dias e dias, desejando reviver aquele momento, mas logo sua vida volta ao tédio de sempre. Anos se passam e Emma não dá a Charles um herdeiro.

Charles considera Emma uma esposa perfeita, sempre elegantemente vestida, cheirosa, a casa e o jantar bem servido... quando nota a mudança de atitude de Emma, acredita que a esposa esteja doente, chora, escreve e pede pela companhia da mãe. Sra. Bovary o aconselha a ser pulso-firme, acredita que os livros contaminam os pensamentos de Emma.


"Lendo novelas, livros demoníacos, livros contra
religião em que eles fazem graça de pastores e citam Voltaire (...) Uma pessoa sem religião sempre acaba mal."
(pag. 133)

Decidem mudar de cidade, novos ares (segundo Charles) farão bem para a saúde da esposa. Charles aceita emprego em Yonville, Sr. Homais, o farmacêutico da cidade corre risco de ter sua licença cassada por estar atuando como médico sem permissão. Emma está grávida.

Homais é tudo o que Charles não é, corajoso, inteligente e sempre em busca de novos conhecimentos, ler compulsivamente e escreve uma coluna para o jornal Rouen Beacon. Está sempre atualizado com as novidades científicas. Imagino Homais como um homem hiperativo, daqueles que não consegue para quieto e se parar, sua mente está a milhões por hora.

Emma conhece Léon, estudante de Direito, apaixonado por Literatura e Paris, tornam-se amigos inseparáveis. Léon logo fica atraído por Emma que finge não saber dos sentimentos do amigo. Admira Léon, fisicamente ele (também) é tudo o que Charles não é, veste-se bem, é elegante, inteligente, bonito, ama ler, mas não acredita estar apaixonada por ele... "Amor, acreditava ela, deveria chegar com tudo ao mesmo tempo com trovões e relâmpagos (...) e mergulhar o coração inteiro num abismo... Ela não sabia que a chuva cria lagos no telhado de uma casa quando a calha está obstruída, e ela continuou segura em sua ignorância até encontrar uma rachadura na parede" (pag. 111)

Por vezes imagina como seria ter um amante, e orgulha-se disso, quer se sentir desejada por outros homens. Arruma-se e perfuma-se para encontrar Léon, ler livros pensando em discuti-los com Léon. Estão sempre juntos, quando não se encontram no restaurante, encontram-se na casa de Emma, com a desculpa de que Léon veio visitar Berthe (a filha de Emma e Charles) despertando comentários (e fofocas) dos outros moradores da cidade. Charles nunca desconfia. Léon torturava-se a planejar um modo de declarar seu amor por Emma, já não conseguindo esconder seus sentimentos e por temer não ser correspondido, Léon decide partir para Paris.

Emma já não toma conta da filha, passa seus dias reclusa em seu quarto, lendo seus livros... começando e deixando-os pela metade. Novamente passa a gastar o dinheiro da família renovando seu guarda-roupa, renovando a casa com o que vê nas revistas, na ultima moda em Paris. Sr. Lheureaux após várias tentativas, convence Emma a comprar suas mercadorias trazidas de Rouen, nunca aceita os pagamentos, sempre fiz que acertarão depois. Emma cai nas armadilhas de Lheureaux e endivida o marido.

Conhece Roldolphe Boulanger, um rico solteirão, proprietário de uma fazenda nas proximidades. Acostumado a ter qualquer mulher que desejasse, Rodolphe encantando por Emma, decide seduzí-la. Aproxima-se de Chalres, descobre o covarde e ignorante que é, e usa da "inocência" do marido para ter acesso à esposa. O que atrai Emma é o conhecimento de mundo de Rodolphe, sua vida na corte francesa, é culto, intelectual... Quando o fato é consumado, Emma se olha no espelho e vê em si uma mulher diferente. Uma mulher que trai e sente prazer com isso. O romance começa bem, são discretos, Rodolphe a trata como ela sempre desejou ser tratada até Emma estar completamente apaixonada por ele. Quando Rodolphe percebe que Emma é como todas as outras mulheres quando apaixonadas - romântica, sonhadora, boba - enjoa do romance, começa a tratá-la com indiferença e as vezes até com grosseria. Emma a princípio não nota, mas quando começa a ser evitada por Rodolphe, tenta fazer o mesmo. Dão um tempo, agem como meros conhecidos quando se encontram. Até se entregarem um ao outro novamente.

Emma gasta o dinheiro do marido comprando presentes para Rodolphe, endividando a família e assinando promissórias secretamente. Foge no meio da noite para encontrar o amante... encontram-se também no jardim da sua própria casa durante as madrugadas, com o avanço da intimidade entre os dois, Emma planeja fugir com Rodolphe, iriam para Paris, viajariam, conheceriam lugares. Marcam a data, Emma gasta outro tanto comprando o necessário para a viagem. Rodolphe, apesar de ter um sentimento por Emma, não pensa em abrir mão da sua vida de solteiro e sustentar Emma e sua filha, vai adiando o sonhado dia, viaja, desmarca, remarca, adia novamente, remarcam, e quando não mais consegue desculpas para adiar, deixa os planos correrem. Emma recebe uma carta no dia da fuga, no sótão ler as palavras de Rodolphe que não quer estragar a vida da amada, partirá sem ela e talvez um dia sentarão como amigos e rirão de tudo que viveram.

Emma cai em profunda depressão, meses na cama para desespero de Charles. O padre da cidade aproveita a oportunidade pra influenciar Emma a seguir sua religião... e tem sucesso... Emma se torna uma religiosa, comprando objetos religiosos, mudando sua postura, passa horas na igreja "rezando", as pernas doloridas de ficar em pé... a espera de uma resposta sem ter feito a pergunta.

Quando nota uma melhora, leva Emma para Rouen para distração, a conselho de Homais. No teatro, Emma reencontra Léon, no dia seguinte Charles parte e Emma fica. Léon e Emma começam um romance. Com a desculpa de ter aulas de piano, Emma viaja para Rouen toda Quinta para encontrar Léon. Mais promissórias são assinadas enquanto Emma compra presentes para o amante. A princípio Léon pagava pelo hotel mas como não tinha muitos recursos é Emma quem passa a financiar as despesas totais das visitas. Meses se passam e Emma começa a enjoar do romance, vira uma rotina mas não tem coragem de terminar o relacionamento. Charles quase descobre a farsa de Emma quando um dia encontra a suposta professora e esta diz nunca ter conhecido Emma, a esposa consegue provar o contrário ao marido. Ignorante de todos os fatos, Charles nem imagina o tamanho da dívida feita pela esposa.

Lheureaux encontra Emma e Léon em Rouen e a chantageia. Com todas as promissórias em mãos, Lheureaux contrata um advogado para, em Corte, exigir o pagamento das dívidas. Ao receber a Citação Judicial exigindo o pagamento ou teriam os bens cassados, Emma se desespera, implora a Lheureaux para cancelar a Ação, negado. Chega a se humilhar a Rodolphe, negado. Pede para Léon emprestar do chefe.

A conclusão... sem ter de onde conseguir o dinheiro para pagar Lheureaux, Emma vai a casa de Homais, o farmacêutico, toma arsênico e agoniza até a morte.

Após a morte de Emma, Charles se deixa levar pela vida... já não atende seus pacientes, perde contato com a sociedade local, vai perdendo aos poucos os pertences, a mãe já não o ajuda porque mesmo após descobrir as traições de Emma, Charles ainda a tem como perfeita. Sente-se culpado por não ter conseguido fazer Emma amá-lo. Charles morre pouco tempo depois, a filha (Berthe) é enviada para os cuidados da avó, que também morre algum tempo depois... como o avó (pai de Emma) está velho e paralítico, Berthe foi enviada para os cuidados de uma tia pobre, que enviou a menina para trabalhar numa fazenda de algodão para sobreviver.

Eu não simpatizei com Emma desde o início: imatura, sonhadora, inocente (no início) e inexperiente, almejando um mundo de ilusões inatigíveis, sem conseguir separar realidade e ficção, deseja o romance dos livros e acredita ser possível, busca (o que não é ruim). Com o passar do tempo vira uma pessoa dissimulada, incontrolável, não sabendo lidar com seus sentimentos nem o dos outros... o fato de ela gostar de Literatura não me fez mudar de idéia, piorou quando se percebe que ela usa a os livros pra fugir da sua realidade e aceitar como verdade, no caso de Emma, os livros são vistos como influência negativa e de certa forma prejudiciais a sua daúde.

Não posso deixar de citar seu comentário sobre o prazer de ler, e creio que jamais alguém o explicou de melhor forma: "Sem deixar seu assento você passeia por paisagens imaginárias, e seus pensamentos se misturam com a história, prolongando-se por detalhes ou saltando adiante com a trama. Sua imaginação se confunde com os personagens, e parece que eles são parte do seu próprio coração, batendo dentro de suas roupas." (pag. 97)

No fim, Emma decide buscar o mesmo destino de Anna Karenina (Tolstoy) e Edna Pontellier (Chopin)... é de se esperar que uma mulher insegura, egoísta e covarde busque tal destino, Emma não sabe enfrentar a realidade. Podendo escolher dizer a verdade, confessar a Charles suas falhas e receber seu perdão, e ambos buscar uma solução para o problema... Emma deixa claro que jamais faria diferente. Emma tinha certeza que Charles a perdoaria e é exatamente isso o que não suporta. O fato de Charles não ter iniciativa, de ser covarde e aceitar sua vida medíocre e simples. Emma odeia Charles por não desejar ter mais ou ser mais, fato piorado pela terrível experiência da cirúrgia do pobre Hipólito, que no fim teve de ter a perna amputada. Até aquele ponto, Emma ainda tentou buscar um motivo para "gostar" do marido, após o incidente, o marido é visto como um nada.

Alguns estudiosos dizem que os personagens em Madame Bovary foram baseados em pessoas reais, Gustave Flaubert realmente teria viajado por todos os lugares mencionados e experienciado alguns dos momentos, e investigado fatos de terceiros para tê-los no livro.

Flaubert é bastante descritivo, os cenários são minuciosamente datalhados, o leitor se sente na história. Sente-se pena por alguns, indignação por outros, é uma confusão de sentimentos que faz da obra uma delícia de ler. As vezes se torna cansativo porque o livro é longo e Flaubert realmente encheu as páginas com detalhes, levei quase 1 mês lendo mas vale a pena!

* Livro da Lista Rory Gilmore.

Sunday, August 9, 2009

Memoirs of a gueisha (Arthur Golden)



"Desde que mudei para Nova York aprendi o que a palavra 'gueixa' realmente significa para os Ocidentais (...) 'Meu Deus... estou falando com uma prostituta...' E em minutos ela é resgatada por um rico homem, uns bons 30 ou 40 anos mais velho que ela. Bem, eu frequentemente me pergunto porque ela não percebe o quanto nós duas temos em comum".

(pag. 291)

Memórias de uma gueixa conta a história de Sayuri, nascida em Yoroido, cidadezinha pesqueira na costa do Japão. Chiyo foi o nome recebido dos pais.

Chiyo e sua irmã mais velha, Satsu, foram vendidas pelo pai, Sr. Sakamoto, um pobre pescador, ainda quando crianças. Com a mãe a beira da morte, Sakamoto fora convencido pelo Sr. Tanaka que prometera um futuro melhor às meninas.

"Senti tão machucada quanto uma pedra que tem as águas da
cachoeira caindo em si durante todo o dia"
(pag. 34)

Chiyo tinha todas as características físicas da mãe, inclusive a personalidade - Água era o seu elemento, presença inegável em seus olhos, azuis como o mar . Foi essa característica que dispertou o interesse do Sr. Tanaka. Por essa mesma razão foi odiada por Hatsumomo, protegida pela Tia, amada por Nobu, e admirada pelo presidente.

Comprada pela okiya Nitta, Chiyo chega a Gion em 1930. Satsu não tem a mesma sorte e é vendida para um bordel, vivendo como prostitua no subúrbio de Gion.

Desde sua chegada Chiyo aprendeu que sua vida não seria fácil, submissão, violência doméstica, humilhação, é preciso sempre lembrar que já se chega ali com uma dívida (a de ter sido comprada) e que cresce a cada dia a medida que se é alimentada, educada, vestida. Seu destino é virar uma gueixa para pagar suas dívidas e sustentar a okiya. Não é esse o futuro que Chiyo deseja e fará de tudo pra mudar seu destino.

Na okiya viviam Tia (responsável pela casa), Mãe (responsável pela educação e preparação das gueixas) e Avó (responsável por escolher a próxima gueixa e ser cuidada pelas mais novas). As duas últimas eram gueixas aposentadas, Tia não chegou a ser gueixa porque foi espancada pela Avó e fraturando o quadril, ficou inutilizada para o trabalho, é ela quem explica a vida na okiya para Chiyo, tenta lhe aconselhar a seguir as ordens para evitar espancamentos, protege quando pode.

Ali também moravam, Hatsumomo, que era a principal (e única) gueixa da okiya naquele período - ocupava o melhor quarto, recebia as melhores refeições, tinha privilégios e não deveria ser importunada; Abóbora (apelidada assim por Chiyo, por sempre colocar a língua para fora - e que por alguns anos seria a única amiga de Chiyo na okiya) e as criadas da casa.

"Meu tio (...) disse. 'Você é uma boa garota, mas também é muito
estúpida. Nunca vai conseguir sobreviver sozinha nesse mundo. Estou te mandando para um lugar onde as pessoas te dirão o que fazer. Faz o que eles mandarem, e eles sempre cuidarão de você'."
(Abóbora para Chiyo - pag. 53)


Enquanto sofre com as crueldades de Hatsumomo, Chiyo busca notícias da irmã; começa as aulas preparatórias para a carreira (aprendizes têm aula de canto, dança, instrumentos musicais, teatro, etc, etc), é habilidosa, aprende fácil e sente pena de Abóbora que mesmo tentando o seu melhor, não aprende. Descobre a irmã num bordel, entre lágrimas e desabafos planejam a fuga. Em uma semana, naquela esquina, tarde da noite.
"Elas usam kimono e ornamentos similares ao da
gueixa, mas seus obi (aquele grande laço amarrado à cintura do kimono) são amarrados na frente ao invés de ser nas costas. Nunca tinha visto antes, e não entendia, mas essa é a marca da prostituta. Uma mulher que precisa amarrar e dasamarrar a noite toda não deve se dá ao trabalho de amarrar às costas de novo de novo."
(pag. 83)
Como uma aprendiz de gueixa, Chiyo acompanha Mãe na preparação de Hatsumomo para as festas, observa o porque e como deve-se maquiar, também é responsável pela recepção de Hatsumomo à noite quando a mesma volta das Casas de Chá.

"E uma Casa de Chá, você vê; é o lugar onde homens vão para serem
entretidos por gueixas"
(pag. 81)

Próximo ao dia da fuga Chiyo descobre Hatsumomo e seu namorado escondidos em um dos quartos, aceita inocentemente o dinheiro oferecido sem saber que seria acusada de roubo. Enquanto é espancada pela Mãe conta o segredo de Hatsumomo, além de pagar pela suposta jóia roubada é proibida de deixa a okiya. Na noite marcada para a fuga, tenta fugir pelo telhado durante a madrugada, quebra o braço ao cair.

Por todas as despesas causadas, e agora com o braço quebrado, seu futuro como gueixa é cancelado pela Avó, será condenada a vida de criada. Abóbora é a nova oficial aprendiz e o treinamento com Hatsumomo começa. Os meses passam, sem notícias da irmã, destratada por Mãe, humilhada por Hatsumomo, inveja a nova vida de Abóbora com privilégios que deveriam ser seus, mas não culpa a amiga. Cai mais uma vez nas mãos de Hatsumomo quando esta, após roubar um kimono de sua inimiga Mameha (uma das gueixas mais famosas e requisitadas de Gion) faz Chiyo destruir o kimono, usando uma espécie de tinta e entregá-lo de volta. No dia seguinte, Mameha vai a okiya, conta o acontecido a Mãe, Hatsumomo joga a culpa em Chiyo que deve pagar pelo kimono... aumentando sua dívida.

Recebe uma encomenda do Sr. Tanaka, na caixa há uma carta e os pertences religiosos da família. A mãe morrera 6 semanas após a partida das filhas e poucas semanas depois, morrera o pai Sr. Sakamoto. Soube que a irmã teve sucesso na fuga, voltando para Yoroido e fugindo em seguida com Sr. Sugi, seu namoradinho de infância.
"O treinamento de aprendiz de gueixa é um caminho
árduo. Entretanto, essa humilde pessoa que vos fala é completamente admiradora daqueles que deixam de lado seu sofrimento e se transformam em artistas. (...) Dá-me enorme satisfação saber que um lugar seguro foi encontrado para você Chiyo, e que não serás forçada a sofrer anos de incerteza"
(Carta Sr. Tanaka para Chiyo - pag. 103)

Órfã, totalmente sozinha no mundo, Chiyo se arrepende dos erros que cometeu, da oportunidade perdida, sente ainda mais inveja das outras meninas que vê nas ruas, caminhando com suas roupas de aprendizes (sim! para cada estágio da vida de aprendiz, há um estilo/cor diferente de kimono, de penteado, de acessórios... é como são identificadas). Desde que chegou a Gion manteve esperanças de que voltaria para casa e para os pais e viveriam aquela simples vida na cidade pesqueira. Vivia metade em Gion e metade nesse sonho de voltar para casa.
"É por isso que sonhos podem ser perigosos: eles latejam como fogo, e algumas vezes consomem a gente por completo" (pag. 106)
Mas Chiyo tinha como elemento a Água, e "água flui de lugar para lugar rapidamente, e sempre encontra uma fenda para passar através" (pag. 9). Vários sinais lhe davam esperança de que o curso da sua vida mudaria, teve sonhos, o homem barbado do sonho revelou que a mudança viria - "presta atenção naquela coisa que se mostrará para você. Porque aquela coisa, quando encontrares, será o seu futuro" (pag. 108).

Completou 12 anos, as feições de mulher apareciam em seu rosto e seu corpo. Ainda esperava o sinal, por vezes sua esperança falhava, o sinal deveria ser o castido de ver as meninas de sua idade avançarem na vida enquanto ficaria para trás. A vida delas tão cheia de propósitos, até a água tem propósito ao seguir o curso do rio... e ela? "Uma ilha abandonada no meio do oceano, sem passado com certeza, mas também sem futuro" (pag. 110)... enquanto esses pensamentos a invadiam em meio a praça pública, as lágrimas correm em seu rosto, ouve uma voz...

Um homem qualquer jamais prestaria atenção em uma garota como ela, vestida como criada e ainda a chorar como boba, quem seria? Ele a silenciou, entregou-lhe um lenço para secar as lágrimas, dinheiro para comprar sorvete. Após a conversa, partiu, chamado por uma gueixa. Jamais esqueceria aquele largo e calmo rosto, macio e sereno, provavelmente 45 anos, com cabelos grisalhos penteados para trás. Parecia tão elegante para ela. A gueixa o chamou de presidente Iwamura. "Senti como se ele pudesse ver dentro de mim, como se eu fosse parte dele" (pag. 113)

Desde aquele encontro Chiyo transformou-se de uma garotinha perdida diante de um futuro incerto para uma garota com propósito na vida. Seria uma gueixa, não sabia como convenceria a Mãe, mas, se para rever o presidente Iwamura precisaria virar uma gueixa, uma gueixa seria.

Meses depois, Avó morre eletrocutada pelo aquecedor. Centenas de conhecidos, gueixas e amigos vêm para o funeral, incluindo Mameha, Chiyo tenta se esconder, envergonhada, não queria ser reconhecida por ter arruinado seu kimono. Mameha a chama, a observa e nota seus olhos - "Ela olhava para mim com uma expressão peculiar - concentrando em alguma coisa, é o que parecia" (pag. 118). Dias depois é secretamente convidada para visitar Mameha. Ela deseja ser a "Irmã mais velha" de Chiyo.

O que acontece é que, quando uma aprendiz chega ao ponto mais avançado dos seus estudos e está preparada para fazer sua introdução/debut como uma noviça para a "sociedade", ela precisa ter estabelecido um relacionamento com uma gueixa experiente. Quando duas garotas (aprendiz e gueixa) são reconhecidas como "Irmãs", elas participam de uma cerimônia como um casamento. No final elas são consideradas quase como membros da mesma família, chamando uma a outra de "Irmã mais velha" e "Irmã mais nova".

Quando a "irmã mais velha" faz um bom trabalho, ela se transforma na figura mais importante na vida da "irmã mais nova" uma vez que, é a "irmã mais velha" que a introduz e apresenta às donas da casa de chá, às festas de chá, aos clientes das casas de chá e demais eventos sociais. Caso as donas da casa de chá e os clientes apreciem a "irmã mais nova", elas serão contratadas para determinadas festas e a okiya receberá o pagamento pelos serviços prestados. É como funciona a parte financeira da vida das gueixas. É importante também ter a simpatia dos clientes das casas de chá porque, mesmo se a aprendiz não for chamada pela casa de chá, caso o cliente exija sua presença, a casa é obrigada a contratá-la para agradar o cliente, que paga somas exorbitantes por sua presença.

Quando a "irmã mais nova" tem mau comportamento, a "irmã mais velha" é tida como responsável uma vez que todos em Gion se beneficiam quando uma aprendiz tem sucesso. A aprendiz paga por seus débitos e, caso tenha sorte, acabará amante de um homem rico. A "irmã mais velha" se beneficia recebendo uma parte dos ganhos da "irmã mais nova". E logicamente as Casas de Chá recebem uma parte do pagamento que os clientes fazem pela presença das gueixas. O benefício é também do cabeleleiro, as lojas de ornamentos, os fabricantes de kimono, etc.

Chiyo volta para a escola e corre contra o tempo para avançar, tem aulas particulares com Mameha, treina em casa nos tempos livres com Abóbora enquanto ainda trabalha como criada. Uma guerra é travada entre Hatsumomo e Mameha. Hatsumomo é "irmã mais velha" de Abóbora, que já bastante avançada, tem sua cerimônia de introdução, Chiyo deseja estar no lugar de Abóbora, todo o cuidado e dedicação a ela prestados, todo o zelo por suas vestimentas e aparência fazem com que Chiyo tenha mais e mais vontade de ser uma gueixa e ser tratada como elas.

A amizade entre Chiyo e Abóbora termina aqui, proibida por Hatsumomo, Abóbora deve obedecer a "irmã mais velha" e jamais dirigir a palavra a Chiyo. O tempo passa e a ansiedade por sua introdução aumenta. Mameha deseja ter certeza que a aprendiz está pronta.

Com Mameha, Chiyo aprende o que é ser verdadeiramente uma gueixa:

- Uma gueixa de sucesso não é aquela que está em todas as festas de chá mas sim aquela que ganha sua independência - tem sua própria coleção de kimonos, é adotada como "filha da okiya" - é aquela que tem poder sobre sua vida;

- Há homens que não se satisfazem apenas em flertar ou ser entretido e querem algo mais - uma gueixa de verdade nunca sujará sua reputação fazendo-se disponível para homens após as festas. Uma gueixa que toma essas riscos deve pedir pra não ser descoberta. Sua reputação estará certamente em perigo. Namorados também não são permitidos, um homem rico jamais pagará pelo que pode ter de graça.

- Gueixas podem ter um danna - é de onde vem o dinheiro de verdade - arranjos com um rico danna provavelmente ajudará a pagar parte dos débitos da gueixa na okiya, cobrir grande parte de seus gastos mensais (maquiagem, estudos continuados e médicos). Para isso o danna terá certos privilégios. Com sorte, alguns dannas pagam todas as despesas da gueixa (registro de gueixa anual, alimentação, dinheiro para outros gastos mensais, patrocinar recitais, presentear com kimonos e jóias) - como acontecia com Mameha, o Barão era o seu danna.

O sinal é recebido quando Chiyo faz um entregador de refeições cair da bicicleta com um olhar. Sua primeira experiência com o penteado de aprendiz é traumatizante e dolorida - as gueixas lavam o cabelo apenas 1 vez por semana, dormem com o pescoço elevado por uma espécie de coluna de madeira para evitar amassar o penteado... nos primeiros dias pó de arroz é colocado no chão ao redor de suas cabeças, caso elas virem durante a noite, terão seus cabelos sujos e deverão voltar ao salão no dia seguinte para mais uma sessão de tortura - em poucos dias a dor faz com que aprendam a dormir na mesma posição a noite toda.

Após a cerimônia Chiyo passou a ser Sayuri (o lenço do presidente escondido em seu obi) e suas noites eram destinadas a andar de Casa de Chá para Casa de Chá com Mameha, ser apresentada aos clientes, ouvir as conversas das gueixas mais experientes e aprender. Hatsumomo jamais a deixaria em paz, espalhava rumores denegrindo sua reputação por onde passasse.

Mameha começou a evitar Casas de Chá onde Hatsumomo pudesse estar ou ir, parecia que a guerra estava sendo perdida. Mameha tenta apresentar Sayuri para os clientes mais influentes, mais ricos, já visando encontrar um danna para a irmã mais nova. É quando Sayuri reencontra o presidente, acompanhado do diretor da sua empresa - Iwamura Elétricos - Nobu.

Nobu era um homem marcado pela guerra Russo-Japonesa. Sofreu queimaduras severas no rosto e teve parte do braço amputado após uma explosão. Sua aparência física era medonha e quando Mameha propôs que Sayuri dedicasse toda sua atenção à Nobu, a decepção não pode ser negada.

O plano de Mameha era tentar desviar a atenção de Hatsumomo, que apelidou Nobu de Lagartixa (pela aparência da pele queimada). Mameha sabia que Hatsumomo aliviaria a pressão para com Sayuri se soubesse que a menina era alvo das atenções daquele homem "feio e defeituoso". Em pouco tempo Sayuri se torna a favorita de Nobu, apesar de muitas vezes ser tratada rude e indelicadamente por ele.

Chega o período para a venda da Mizuage (virgindade) de Sayuri. Mameha corre contra o tempo para atrair a atenção dos bons e certos candidatos, entre eles Nobu, Dr. Carangueijo e para sua surpresa o Barão (deu próprio danna). Mesmo com todas mentiras e armações de Hatsumomo, o Barão oferece o maior valor mas Mameha diz ter sido Dr. Carangueijo, o mesmo que pagou caro pela mizuage de Mameha e muitas outras famosas gueixas do passado. O preço mais caro pago até então pela mizuage de uma gueixa, Sayuri é famosa em Gion.

Sea foto em panfletos anunciando o festival de dança anual estão espalhados por toda a cidade, aumentando a raiva de Hatsumomo e abrindo os olhos da Mãe para os benefícios que Sayuri trará à okiya... em breve será necessário escolher quem será a filha adotada pela casa. Mãe não havia adotado Hatsumomo até então porque, adotá-la seria como libertar um tigre da jaula, com todo o poder em mãos, a segurança da Mãe e Tia estariam em perigo. Hatsumomo poderia expulsá-las e ter a okiya para si. Caso Abóbora seja a escolhida, o futuro de Hatsumomo está garantido, teria sempre uma casa e receberia parte dos lucros da "irmã mais nova". Porém, o sucesso de Sayuri era uma ameaça aos seus planos.

Em 1938, aos 18 anos de idade, Sayuri passa ao posto de gueixa, na cerimônia chamada de "virando o colar". Agora como gueixa, Sayuri poderia ter um danna. Foi-lhe dado o maior quarto da casa, Hatsumomo e Abóbora dividiam o quarto ao lado. Como a principal gueixa da casa, Sayuri recebe os tratamentos que sempre invejou.
"Nós não nos tornamos gueixas para ter uma vida satisfatória. Tornamo-nos gueixas porque não temos escolha" (pag. 294)
Nobu exigia a presença de Sayuri em todas as casas de chá que estivesse. Era do conhecimento de todos sua oferta para ser o danna de Sayuri, o acordo deveria ser fechado em breve. Porém, para seu desapontamento, General Tottori foi escolhido ao invés.

A escolha da Mãe foi fácil de entender. Com uma guerra iminente, ter um General ao seu lado significaria menos privações. Nobu não mais requisitou a presença de Sayuri após o anúncio de seu danna. Até mesmo parou de frequentar as casas de chá em Gion. Sayuri encontrava o Presidente, que pouca atenção lhe dava.

Hatsumomo bêbada, descobre o diário de Sayuri e não é difícil identificar os nomes secretos ali escritos. Também encontra o lenço do presidente, o amor secreto e platônico de Sayuri está em perigo. Sentindo-se invadida, Sayuri decide também invadir o quarto de Hatsumomo e em meio as suas jóias, encontra o broche de esmeraldas que anos atrás Hatsumomo a acusou de ter roubado. Mostrando a Mãe, Hatsumomo é espancada. Em fúria, joga as tochas de fogo no chão, fazendo parte da okiya pegar fogo. É expulsa, jamais se soube dela. Alguns dizem que foi vista nos arredores de Gion, trabalhando como prostituta e morrera em seguida. Sayuri é adotada filha da okiya.

A depressão da Segunda Guerra aumenta as privações em Gion, a okiya Nitta é a única que ainda não sofre tanto, General Tottori continua enviando suplementos de chá, comida, até roupas para Sayuri.

Quando a Guerra explode, ninguém consegue escapar. O General é destituído do cargo. Com a okiya desprotegida, soldados invadem e confiscam os pertences mais valiosos. Miséria e fome. Sem trabalho, gueixas buscam por ajuda desesperadamente. Mameha consegue, através de seus contatos, emprego como enfermeira longe de Gion. Sayuri busca ajuda com o General, sem sucesso. Teme ser enviada para as fábricas de onde ouve-se tantos rumores de morte, bombeamento, poucos são os que sobrevivem quando são enviados às fábricas.

Nobu será a salvação de Sayuri, ele a procura e a envia para Sr. Arashino, o fabricante de kimono. Foram anos difíceis, de fome, medo, incerteza. É impossível descrever o sofrimento daquele povo em um resumo. Tem que ler o livro pra se ter noção. Mas no fim da guerra, Sayuri ajuda Sr. Arashino a fabricar kimonos novamente.

É Nobu quem a procura após todos esses anos, e a recruta de volta a Gion, Mameha havia regressado há quase 1 ano e reiniciado seu trabalho como gueixa. Abóbora trabalhava como gueixa e como prostituta em meio aos soldados americanos. Mãe conseguiu sobreviver a guerra fazendo troca e venda de mercadorias no mercado negro.

Nobu precisa da ajuda de Sayuri na conquista do Ministro, este será responsável por indicar uma empresa para o Governo Japonês. Com o dinheiro do contrato Iwamura Elétricos pode se reerguer e superar a crise da guerra. Nobu também ainda tem esperanças de ser o danna de Sayuri. Ela, ajuda Nobu mas não consegue suportar a idéia de ter Nobu como danna.

Até porque, caso Nobu torne-se seu danna, jamais terá chance de ter o amor do presidente. Nobu e o presidente são amigos de longa data, e este deve a vida da sua empresa a Nobu.

As Casas de Chá reabrem e aos poucos, as gueixas voltam ao seu trabalho. Sayuri convida Abóbora para algumas das festas. Totalmente diferente da tímida menina de outrora, Abóbora se transformou em uma gueixa vulgar e sem princípios.

Quando Sayuri pede para Abóbora trazer Nobu ao local marcado, Abóbora (que já havia notado o interesse de Sayuri pelo presidente) traz o próprio presidente ao invés. Os dois flagram Sayuri e o Ministro em intimidade. Abóbora, cheia de amargura, jamais perdoara Sayuri por ter roubado seu lugar e ter sido adotada como a filha da okiya. Percebe-se muito de Hatsumomo em Abóbora.

Sabendo do acontecido, Nobu jamais procura Sayuri. O presidente finalmente declara seu amor por Sayuri, escondido todo esse tempo por respeito ao amigo. Torna-se seu danna... após anos e anos de relacionamento, Sayuri decide mudar para Nova York em 1956, para evitar um escândalo na família do danna, e abre uma Casa de Chá na 5ª Avenida (tudo dá a entender que ela teve um filho com o presidente e esse foi o principal motivo para a mudança para NY e o afastamento dos dois).

Presidente Iwamura morre meses após sua última visita a Sayuri em Nova York, após anos de um relacionamento cheio de experiências, frustrações e claro, amor.

Memórias de uma gueixa é um dos melhores livros que já li, por mais que seja uma obra fictícia, foi resultado de anos de pesquisas e esclarece muitas informações que nós Ocidentais desconhecíamos ou acreditávamos verdadeiras. Eu sou uma que sempre acreditei que gueixas eram prostitutas, por pura ignorância dos fatos. A palavra "guei" de gueixa significa "arte", então gueixa significa artesã ou artista.

Como Mameha explicou para Sayuri, não há outra opção, se seus próprios pais te venderam para a okiya, e uma vez comprada, ou você se esforça para virar uma boa gueixa ou está condenada a uma vida de servidão e humilhação.

Aprende-se também que as gueixas mais antigas sofreram problemas de pele, como a Avó que tinha uma aparência horrível, a pele dos ombros e pescoço pareciam a pele de um frango cru, esburacada e amarela. Tudo porque a maquiagem usada no tempo delas, chamada de "Argila Chinesa", era feita de chumbo, que mais tarde descobriu-se ser altamente prejudicial.

Superstição também está presente durante toda a história, gueixas jamais tomam um passo sem antes consultar seu almanaque, Mameha e Mãe recorrem ao almanaque diariamente. O nome de Sayuri foi escolhido enquanto Mameha consultava sua guia espiritual e o almanaque. Até mesmo o dia das cerimônias de introdução tinham suas datas escolhidas de acordo com os dias ditos propícios pelo almanaque, bem como o dia da fuga de Satsu, mais tarde Sayuri aprendeu que aquele dia era totalmente propício para irmã e desastroso para ela.

O filme foi uma das maiores decepções que tive, tudo bem que o livro é super longo para contar a história toda e entendo, mas mudar a história é ultrajante. A essência dos personagens foi mudada, bem como o rumo da vida deles. Não sei como Golden consentiu o resultado final.

Memórias de uma gueixa é luminoso! Delicioso! Linda e elegantemente escrito, cheio dos detalhes que todos querem saber, com descrições que te fazem sentir parte da história, sofrer com eles, desejar o que eles desejam. Lírico, autêntico, exótico e extremamente tocante!