“28 de Fevereiro de 1955, chegou com a notícia de que oito membros da tripulação do destroyer Caldas, pertencente à Marinha Colombiana, haviam caído no mar e desaparecido durante uma tempestade em águas caribenhas. O navio viajava de Mobile, Alabama, nos Estados Unidos, onde estava ancorado para reparos, para o porto de Cartagena na Colombia, onde chegou duas horas após a tragédia. (...) Uma semana depois, no entanto, um dos tripulantes reaparece quase morto numa praia deserta no nordeste da Colombia, após sobreviver durante dez dias sem comida ou água num bote salva-vidas. Seu nome era Luis Alejandro Velasco.” (pag. vi)
Em seis horas diárias de entrevistas durante vinte dias, Marquez questionou, explorou, e testou as respostas de Velasco em busca de contradições e falsas afirmações, resultando num relato conciso e concreto de seus dez dias à deriva. Para surpresa de Marquez, no quarto dia de entrevista, quando pede que Velasco descreva a tempestade que causou o desastre, ele responde com um sorriso: “Nunca houve uma tempestade.” (pag. vii)
“Um bote salva-vidas não tem proa ou popa, é quadrado e por vezes navega de lado, imperceptivelmente vira de um lado pro outro. Como não há ponto de referência, não se sabe se está movendo para frente ou para trás. O oceano é o mesmo em todas as direções. Então eu não sabia se o bote havia mudado de curso ou apenas navegava em círculos.” (pag. 43)
Primeiro o desespero, depois a certeza de que resgate aparecerá em breve, esperança... quando as horas passam, escurece, amanhece, vem o frio, a fome, a sede, o perigo, o desespero novamente, a espera, a dor, as lembranças, a incerteza. Com o tempo todos os sentimentos se repetem num círculo vicioso e já não se sabe se se espera pela morte ou pela vida. Desistência.
“A verdade, nunca publicada até então, era a de que o navio, abatido violentamente pelo vento em mar-aberto, havia jogado sua carga mal-assegurada e seus oito marinheiros no mar. Essa revelação significava que três ofensas seríssimas haviam sido cometidas: primeiro, é ilegal o transporte de mercadorias em um destroyer; segundo, o excesso de peso não permitiu que o navio manobrasse para resgatar os marinheiros; e terceiro, a carga era contrabando — geladeiras, televisões, e máquinas de lavar.” (pag. viii)
Relato de Um Náufrago é uma reconstrução jornalística de Marquez baseado no que lhe foi dito pelo sobrevivente do naufrágio. O que Marquez não contava é que sua investigação dos fatos causaria tumulto e perseguição política, ao ter segredos da Marinha Colombiana revelados ao público bem naquele tenso período do regime ditatorial colombiano. Talvez a verdade nunca tivesse vindo a tona se o destroyer tivesse manobrado e conseguido resgatar seus tripulantes. E Marquez jamais teria sido envolvido na história de Velasco. E como consequência, o El Espectador não teria sofrido represálias, resultando no fechamento do jornal meses depois das publicações. No entanto, mesmo com toda a pressão, ameaças, e tentativas de suborno, Luis Alejandro Velasco, nunca voltou atrás em nenhuma palavra de sua história.
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