Saturday, January 30, 2010

Poema de Sábado

Hoje lembrei de Vinícius.... Vinícius de Moraes que embalou minha vida pré-adulta quando o coração é ainda é imaturo demais para diferenciar paixões e amores. Vinícius que embalava as páginas dos meus diários dando um toque de maturidade nos sentimentos que não conseguia expressar, como se as palavras saíssem de suas linhas como um soprar do vento... leve, simples...


Soneto do amor total

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

(Vinícius de Moraes 1913/1980)

Monday, January 25, 2010

A Cabana (William P. Young)

Meu pai me mandou livros de presente de Natal, foram quatro no total e A Cabana foi um deles. Já havia lido algumas resenhas sobre esse livro e a maioria não tão positivas, não sabia do que a história se tratava mas para causar tamanha controvérsia deveria ser um tópico tabu ou delicado, foi o que pensei.

A Cabana está na lista dos mais vendidos do The New York Times por 86 semanas (lista aqui), e de acordo com o artigo (leia aqui) publicado por Motoko Rich em Junho de 2008, o livro já havia vendido mais de 1 milhão de exemplares e esse fenômeno não se deu através da divulgação da editora em meios de comunicação mas, impressionantemente, pelo boca-a-boca, por leitores que, impactados pela história, compraram vários outros exemplares para dar de presente a amigos e familiares.


A Cabana conta a história de Mack, que viaja para acampar com os três filhos mais novos. Missy, a caçula de apenas 6 anos de idade, desaparece no dia da viagem de volta. Numa cabana abandonada há algumas horas do acampamento onde estavam, o vestido que Missy usava é encontrado pela polícia, ensanguentado. Daquele momento em diante a Grande Tristeza passa a acompanhar Mack, aquela dor silenciosa e profunda, o peso da impotência por não ter conseguido defender e proteger sua filha. Quatro anos mais tarde Mack recebe um bilhete na caixa de correio, alguém que assina Papai o espera na cabana.


"A graça não depende da existência do sofrimento, mas onde há sofrimento você encontrará a graça de inúmeras maneiras" (pag. 173)


A história é forte, o drama de Mack sem dúvida prende o leitor, fora que é muito fácil de se identificar - principalmente para quem mora nos EUA onde, segundo as estatísticas a cada 20 segundos 1 criança desaparece no país. Mas acredito que a história toca leitores além da esfera cristã, independente se acreditam em Deus, em Buda, em Alá, ou em Ali Babá e os 40 ladrões! Porém, tem o pequeno detalhe do ceticismo, o fato de que o modo como Deus foi retratado no livro ir contra as crenças de muitos, enraizadas num padrão pré-estabelecido por instituições religiosas ou pela sociedade.

Alguns dizem que o livro é muito controverso, outros argumentam que é cristão demais! Onde está a verdade?
A verdade é uma questão extremamente particular, a opinião do leitor vai depender muito do conforto que tem naquilo em que acredita.

Analisando a história sem a bitolação religiosa, para mim, a cabana representa o casulo que muitas pessoas, ao sofrerem um grande trauma, constroem ao redor de si, ao redor da dor causada pelo trauma. Algumas ficam tão devastadas ao ponto de matar criancinhas, outras calam-se para o mundo e afastam-se da sociedade; alguns procuram terapeutas, outros a religião; e finalmente alguns, poucos devo dizer, decidem voltar para a raiz do seu mau, para o interior da sua cabana e dali buscar meios de sair do fundo do poço.

A história foi bem gráfica, com aquela pinta comercial de que planeja virar um filme, mas se o leitor conseguir ver a história sem os pré-conceitos religiosos dentro de si, conseguirá sugar lições muito boas dela. Amor e perdão, são os adjetivos que marcam a história do início ao fim e basicamente é no que ela se resume.

E o autor? William Paul Young decidiu escrever A Cabana em 2005, para mostrar como foi curado de seus traumas após decidir ter um relacionamento renovado com Deus - Paul foi abusado sexualmente quando criança e teve relacionamentos extra-conjugais, passou 10 anos fazendo terapia para tentar reconquistar a confiança da esposa e dos filhos. Em 2003 Paul e sua esposa declararam falência e perderam a casa onde viveram por 19 anos. Mora em Milwaukie, Oregon, com a esposa Kim e os mais novos dos 6 filhos.

Para saber mais sobre o autor: A Cabana
Para ler outros resumos, é só clicar nos links:

Saturday, January 23, 2010

Poema de Sábado


Tenho lido mais frequentemente os jornais brasileiros para saber das tragédias que tem acontecido na minha terra. Fiquei um tanto indignada com o tanto de dinheiro que o governo brasileiro vai enviar ao Haiti... e os filhos dessa pátria que estão desalojados, perderam casas, morreram e ainda sofrem com a chuva e as enchentes?

Daí lembrei desse poema do Augusto dos Anjos que li há quase 10 anos. Augusto dos Anjos (1884-1914) é conhecido por seu criticismo severo, foi um dos poetas mais críticos do seu tempo.

Lembro que quando li EU, não gostei daqueles poemas tão crus e cheio de palavras difíceis, linguagem orgânica e científica, achei depressivo, causa até um certo repúdio ao ler sobre vermes, putrefação, "escarra nessa boca que te beija"... poemas deveriam falar de amor, de romance (ingênua e ignorante naquela época, não!?)... mas hoje comparo Augusto dos Anjos a Edgar A. Poe, seus poemas causam impacto e nos tocam no que mais nos incomoda. É o uso extramamente melancólico da criatividade.


Idealização da humanidade futura



Rugia nos meus centros cerebrais
A multidão dos séculos futuros
- Homens que a herança de ímpetos impuros
Tornara etnicamente irracionais! -

Não sei que livro, em letras garrafais,
Meus olhos liam! No húmus dos monturos,
Realizavam-se os partos mais obscuros,
Dentre as genealogias animais!

Como quem esmigalha protozoários
Meti todos os dedos mercenários
Na consciência daquela multidão...

E, em vez de achar a luz que os Céus inflama,
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!

Wednesday, January 20, 2010

O vendedor de Sonhos e a Revolução dos Anônimos (Augusto Cury)

Antes de começar a falar um pouco sobre o livro, gostaria de agradecer a Enedina, amiga da minha tia Ione Monteiro, que me presenteou com a obra, minha tia deve ter comentado com ela esse meu caso com a Literatura, e ela prontamente decidiu compartilhar comigo O Vendedor de Sonhos. Muitíssimo obrigada!

Esse é segundo livro de Augusto Cury que leio. Gostei de Filhos Brilhantes, Alunos Fascinantes, é interessante do ponto de vista pedagógico, qual professor não quer despertar o pensamento crítico de seus alunos? Pena que não tive tempo de aplicar algumas das técnicas daquele professor fantástico com meus alunos porque li justamente quando estava me despedindo do Brasil.

E O Vendedor de Sonhos e a Revolução dos Anônimos?


"Uma existência sem sonhos é uma semente sem solo, uma planta sem nutrientes"
(pag. 20)

O livro é sobre as andanças do Mestre, um homem com poucos recursos mas de coração aberto e ideias revolucionárias, narrada sob os olhos do sociólogo Júlio César, um de seus discípulos. O cenário é o mundo, uma cidade que poderia ser qualquer uma nesse mundo vasto.

O Mestre é um homem simples, anda pela cidade divulgando suas idéias onde quer que exista alguém para ouvir, tem as ruas como moradia e o céu como cobertor. Aos poucos vai acumulando seguidores, discípulos como se chamam, alguns abandonam a vida que tiveram para segui-lo, Júlio César é um deles. Foi professor universitário, doutor em Sociologia, carrasco e temido por seus alunos, detestado por seus colegas de trabalho, passou a seguir o Mestre após tentar suicídio e ser salvo por suas palavras de conforto.

Nem todos os discípulos tinham formação universitária - os mais antigos eram: Bartolomeu, "Boca-de-Mel", porque era um tagarela, e Barnabé, "Prefeito", porque tinha vício em fazer discursos políticos - eram alcoolatras em recuperação; Dimas era cleptomaníaco; Salomão, hipocondríaco, etc.

As opiniões do narrador sobre os demais discípulos eram extremamente superficiais, preconceituosas e estereotipadas. Júlio César não conhecia o passado daquelas pessoas e os julgava pelo que estava diante de seus olhos, via-os como mendigos e ignorantes, iletrados e petulantes, audaciosos por abrirem a boca quando deveriam ouvir. Mal sabia ele que aqueles Anônimos tinham experiências de vida riquíssimas para compartilhar e diferente dele, Júlio César, aqueles homens não estavam presos aos preconceitos sociais, aos parâmetros impostos pela sociedade que tentam nos ensinar que os fracos não têm vez, que se não temos nada de importante a dizer, fiquemos calados - Não! O que parece de pouco importância para mim, pode ter um valor enorme para alguém, o que importa é participar, debater, botar a boca no trombone!

Para o professor doutor, isso era um ultraje, formado naquele parâmetro autoritário e ditatorial onde só o mestre fala e os alunos apenas ouvem, sem estimular a discussão ou o debate de ideias. Por essa razão questionava a escolha do Mestre. Porque escolhera aqueles discípulos? Como se não conhecesse a história de Jesus!


"(...) Primeira lei do Vendedor de Sonhos: reconheça suas loucuras e sua estupidez"
(pag. 42)


O Vendedor de Sonhos e a Revolução dos Anônimos busca a independência das ideias, busca a incessante sede por conhecimento, por um pensamento livre, a não passividade.


"Sem sonhos, seremos servos do egocentrismo, vassalos do individualismo, escravos de nossos instintos. O maior sonho a ser vendido nessa sociedade consumista é o sonho de uma mente livre!"
(pag. 76)

Não posso dizer que não gostei da ideia da história e os ideais que ela busca transmitir, mas achei o enredo repetitivo, a mesma ideia repetida várias e várias vezes durante a narrativa.

O uso constante de analogias deixou a história ainda mais repetitiva. Planeta psíquico e teatro social foram repetidos trocentas vezes (daí veio na minha mente a voz da Professora Bevenuta S., de Prática Escrita em Língua Inglesa I - "não repitam a mesma palavra mais de duas vezes nos seus textos, usem sinônimos, usem sinônimos - se não conseguem lembrar, usem o dicionário!!!").

Também percebi o re-uso de algumas "frases de efeito" do outro livro que li: Filhos Brilhantes, alunos fascinantes - mudando apenas o jogo das palavras mas que no fim, deu o mesmo sentido.


"Era da geração Harry Potter, a geração dos desejos rápidos, que queria tudo num passe de mágica"
 (pag. 132 - O vendedor de sonhos)

"(...)Não estou criticando a saga de Harry Potter, estou criticando a falta de proteção emocional dos jovens que amam a fantasia, mas não sabem lidar com fatos concretos"
 (pag. 43 - Filhos Brilhantes, Alunos Fascinantes)


 
"(...) Os fracos usam a força, os fortes, as ideias"
 (pag. 133 - O vendedor de sonhos)

"O poder de um ser humano não está na sua musculatura, mas na sua inteligência. Os fracos usam a força, os fortes usam a sabedoria"
(pag. 19 - Filhos brilhantes, Alunos fascinantes)

O que realmente marcou, pra mim, na história foi a menção das conexões entre o sucesso social e o emocional, o fato de que deve haver uma ligação psicológica entre o que eu sou diante do espelho e o que eu pareço ser diante da sociedade. Se não houver um meio termo, ocorre as discrepânicas comportamentais com ações extremistas que chocam o mundo.

O final da história é previsível, e não me surpreendeu. O enredo tem seus altos e baixos, o importante é passar a peneira, retirar o que fará bem acrescentar ao conhecimento e descartar o resto. Afinal é exatamente isso o que é sobre: o incentivo ao pensamento crítico.
"Quem não edifica pontes psíquicas constrói ilhas no córtex cerebral. Num momento pode ser um cordeiro, noutro um predador (...) tranquilo, noutro explosivo (...) Calígula era franzino, mas achava-se mais belo que Roma, tinha rompantes de gentileza e ataques de fúria. Nero era dado às artes, mas se tornou um dos homens mais atrozes da história (...) Hitler afagava e dava ração à sua cadela, mas esmagou de fome e frio um milhão de crianças e adolescentes". (pag. 193-194)

Monday, January 18, 2010

Storm Front (Jim Butcher)

O interessante de participar de um Bookclub é que você convive com pessoas de gosto totalmente diferente do seu. Somos 5 meninas (Beth, Andrea, Sami, Nari e Ju - eu), todas fanáticas por livros, todas com suas bibliotecas particulares que refletem suas preferências, todas com opiniões formadas sobre o que gostam e o que não gostam de ler e todas abertas para respeitar a opinião alheia - caso contrário, fugiríamos de Bookclubs. Um Bookclub te tira da tua zona de conforto. Ponto.

Beth gosta de livros de Scifi - sua biblioteca reflete isso - livros de Bruxas, Vampiros, Lobisomens... sobrenaturais, estão por toda parte e ela os devora com intensidade e prazer (porém seu gosto não se restringe a eles, ela também tem uma certa queda por clássicos). Por essa razão ela escolheu Storm Front do Jim Butcher para a nossa reunião de 15 de janeiro.

Storm Front, ainda não traduzido para o português, é o primeiro livro da série Dresden Files (12 livros no total), lançado em 2000 e que já rendeu uma série de TV americana (cancelada na segunda temporada).

"Meu nome é Harry Blackstone Copperfield Dresden. Não me responsabilizo pelo que acontecerá se pronuncia-lo por completo. Sou um mago. Trabalho num escritório no centro de Chicago. Pelo que sei, sou o único mago profissional que pratica abertamente no país" (pag. 2)
Dresden trabalha como detetive particular mas também  presta serviços para a Polícia de Chicago, tentando desvendar crimes incompreensíveis à razão humana. Na última semana, corpos foram encontrados com seus corações esfacelados, como se tivessem explodido - ela, uma prostituta do bordel Velvet Room - cujo proprietário é a vampira Bianca. Ele, Tommy Tomm, um dos homens de Johnny Marcone - conhecido e poderoso chefe do crime da cidade.

Dresden acredita que um mago super-hiper-ultra poderoso tenha sido responsável pelo crime, mágica estaria sendo usada para o mal - magia negra. Precisava descobrir o autor dos crimes e o motivo. Tudo seria mais fácil se o White Council (O Conselho Branco - um tipo de associação dos magos/bruxos/feiticeiros) não estivesse desconfiando do próprio Dresden e apontado Morgan para vigia-lo.

"O modo como um homem usa sua mágica demonstra que tipo de pessoa ele é, o que está escondido lá no fundo do seu ser" (pag. 291)
Uma nova droga circula pela cidade, chamada de ThreeEye (Terceiro Olho), dentre os efeitos alucinógenos estava a possibilidade de ver o terceiro mundo, aquele que se vê quando as máscaras caem dos olhos, o mundo sobrenatural.


Haveria alguma ligação entre os crimes e a nova droga?
"Mágica não deve ser usada pra isso. Não foi criada pra isso. Mágica veio da própria vida, da interação da natureza e dos elementos, da energia de todas as coisas viventes, e especialmente das pessoas" (pag. 291)
Ficção científica não agrada meu gosto literário mas li Storm Front com a mente aberta. A história é batida mas envolvente, não posso negar.

Dresden é engraçado, as mulheres são seu ponto fraco e, na minha opinião, o ponto alto da história é exatamente o lado cômico da coisa quando ele descreve o que vê e sente quando olha para uma mulher, não pode ver um rabo de saia, é mago mas não deixa de ser homem, mas no final não pega ninguém - cachorro que late não morde né!?
"(...) havia alguma coisa nela que atiçava meu motor, alguma coisa na maneira que ela inclinava a cabeça ou formava suas palavras que transpassava meu cérebro e ia diretamente para os meus hormônios" (pag. 126)
Mister é o gato (um mago com um gato, que clichê!) e tem Bob como "computador", um espírito centenário e mulherengo que vive em um crânio num laboratório de Dresden, e que guarda as receitas para suas poções mágicas. É, porque Dresden tem certa aversão à tecnologia, tudo entra em pânico quando ele se aproxima... elevadores são seus maiores inimigos.


"Sou leal às coisas simples, a lareira, minhas velas e lamparinas" (pag. 89)
O que também gostei na história é que Butcher foi tradicional aos fatos que já conhecemos sobre vampiros, magos, feiticeiros, bruxos, demônios, etc., não tentou inventar ou recriar novos padrões (como Christopher Moore em Bloodsucking Fiends). Outra coisa que me encanta nos livros de autores americanos (ok, ok os britânicos, os russos e até os irlandeses também fazem isso) é que eles sempre dão incentivo à leitura nas entrelinhas de suas histórias, não importa o gênero.

Como esse foi o primeiro livro lançado e Butcher não estava certo se a história seria um sucesso, ele colocou todos os elementos que podia: fadas, elfos, demônios, bruxos, vampiros, etc, etc... é uma mistura louca, mas de acordo com a história, estão todos interligados, são parte do mesmo mundo, mas não se pode negar que deixa a história bastante carregada. Porém, Jim Butcher sabe muitíssimo bem como prender o leitor, tem um talento incrível como contador de histórias e uma imaginação extremamente fértil.

Provavelmente esse é o único livro da série que lerei, apesar de eu ter devorado o livro em 2 dias (são 305 páginas) essa coisa supernatural continua não me atraindo... prefiro as imensas possibilidades do mundo real, especialmente se vier em vestidos de época e o charmoso sotaque inglês...

Quer saber mais sobre o autor? É só visitar o site do próprio: Jim Butcher

Saturday, January 16, 2010

Poema de Sábado

Ai, ai Casimiro de Abreu... o que me encanta nele é a simplicidade, a falta de sofisticação, a ingenuidade.
Foi filho bastardo, teve apenas educação primária, trabalhou duro para o pai mas descobriu nas palavras a sua força e deliciou o mundo com um único livro - As Primaveras.
De versos simples e românticos e de uma espontaneidade cativante, Casimiro é um dos meus poetas favoritos e hoje decidi compartilhá-lo com vocês!


Clara

Não sabes, Clara, que pena
eu teria se — morena
tu fosses em vez de clara!
Talvez… quem sabe… não digo…
mas refletindo comigo
talvez nem tanto te amara!

A tua cor é mimosa,
brilha mais da face a rosa
tem mais graça a boca breve.
O teu sorriso é delírio…
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!

A morena é predileta,
mas a clara é do poeta:
assim se pintam arcanjos.
Qualquer, encantos encerra,
mas a morena é da terra
enquanto a clara é dos anjos!

Mulher morena é ardente:
prende o amante demente
nos fios do seu cabelo;
— A clara é sempre mais fria,
mas dá-me licença um dia
que eu vou arder no teu gelo!

A cor morena é bonita,
mas nada, nada te imita
nem mesmo sequer de leve.
— O teu sorriso é delírio…
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!

(Casimiro de Abreu - 1839/1860)

Tuesday, January 12, 2010

Water for Elephants (Sara Gruen)

Fiquei curiosa pra ler esse livro depois de ver 3 pessoas na academia lendo-o enquanto caminhavam em suas esteiras (há quase 2 anos). Comprei e ele sentou na minha estante por mais 6 meses. Que desperdício!

A história já começa com um mistério, um desastre num circo, confusão, animais e humanos correm desesperadamente numa profusão de terror e instinto de sobrevivência. Stars and Stripes forever - A Marcha do Desastre acaba de ser tocada bela banda do circo... Um mau presságio.
"I meant what I said, and I said what I meant...  An elephant's faithful - one hundred per cent!"
"Eu penso no que falo, eu falo o que penso... um elefante é fiel - cem por cento!"
(Theodor Seuss Geisel, autor dos livros infantis do Dr. Seuss)
Jacob Jankowski é o narrador-personagem de Water for Elephants - Água para Elefantes, que por 17 anos guardou debaixo de sete chaves sua história como veterinário do circo "O mais espetacular espetáculo da Terra dos Irmãos Benzini". Teria levado a história para o o túmulo se não fosse pelo Sr. McGuinty, que tentando impressionar as senhoras da casa, disse ter levado água para elefantes de circo quando mais novo.
"Ela levantou a estaca bem alto no ar e depois a abaixou, partindo a cabeça dele como uma melancia. Seu cuco aberto, seus olhos arregalados, e sua boca congelada em forma de O. Caiu de joelhos e então desmoronou de frente em direção a confusão." (pag. 4)
Após perder os pais num acidente de carro quando estava se formando em Medicina Veterinária, Jacob descobre que a casa onde os pais moravam havia sido hipotecada para pagar por seus estudos. Sem dinheiro, sem herança e sem família, Jacob abandona o passado em busca de um futuro e é quando por acidente pega carona num trem sem saber que era um trem de circo.

Não quero encher minha resenha de detalhes e contar a história porque o livro vale muito a pena, uma vez que é o resultado de estudos sobre circos americanos da década de 20 e 30.  Sara Gruen fez um apanhado de notícias, registros históricos de museus e histórias contadas por integrantes de vários circos daquela época, e transforma-os em Water for Elephants, o livro.

Jacob conta a história quando já tem seus 90 e poucos anos e morando num asilo, a idade pesa em seu corpo e sua mente, mas nada apaga da memória o que viveu naqueles sete anos em que cuidou dos animais do circo dos Irmãos Benzini, lugar em que conheceu Marlena, sofreu nas mãos tiranas de August e Tio Al, e onde também aprendeu que os antagonismos e crueldades da vida no circo não são suficientes para destruir o caráter daqueles que têm senso de fidelidade e prezam a lealdade, sejam eles humanos ou animais.

O modo que a história foi escrita e o carisma de Jacob, fez-me lembrar de Paul Edgecomb, o velhinho que conta a história de John Coffey no Green Mile - À espera de um milagre, do Stephen King.
"A coisa toda é uma ilusão, Jacob, e não tem nada de errado nisso. É o que o público quer de nós. É o que eles esperam" (pag. 104)
A história tem mistério e um desfecho surpreendente (um dos poucos que não se prediz desde o início ou lá pela metade do livro), tem muito drama, tem crueldade e tirania. É cativante, é rica em detalhes com direito a fotos!

É emocionante, o modo como a história é contada dá um tom nostálgico à narrativa, é depressiva mas também é cômica e romântica, é uma montanha-russa de sentimentos e emoções. Foi um dos melhores livros que li em 2009!

Sobre a autora:
Sara Gruen também escreveu Riding Lesson e Flying Changes. Mora na Carolina do Norte com o marido, 3 filhos, 4 gatos, 2 bodes, 2 cachorros, e 1 cavalo.
Water for elephants ganhou o prêmio de Livro do Ano de 2007 pela Book Sense, Prêmio Fun Fearless Fiction da Cosmopolitan, Prêmio BookBrowse Diamond como Livro Mais Popular, Prêmio Friends of American Literature Ficção/Adulto, entre outros.

Para checar outras resenhas, é só clicar no título:

Saturday, January 9, 2010

Poema de Sábado

Como eu gostaria de encontrar mais livros de escritores brasileiros por aqui. Estou cansada de chegar na Border's ou Barnes & Nobles e só achar traduções de Paulo Coelho. Nos sebos ainda encontro Jorge Amado mas o que acontece com Cecília Meireles, Clarice Lispector, Drummond e Mário de Andrade, Bandeira, Sabino, Gullar, Telles, Veríssimo?

Final de ano sempre sinto saudades da minha terra amada e hoje senti vontade de voltar à minha Pasárgada, porque embora aqui eu seja feliz, pau-de-sebo aqui não existe, nem canjica ou mingau de munguzá, e as águas desse mar são frias demais para qualquer mortal Sul Americano. Que saudade da minha terra boa onde eu como peixe assado com farinha...

Poema do livro Bandeira a Vida Inteira, 1986 - pág. 90.


Vou-me embora pra Pasárgada
 
 
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

(Manuel Bandeira - 1886/1968)

Friday, January 8, 2010

Desafio Literário

Ai, ai queridos navegantes... eu sempre procuro ficar longe de desafios de qualquer tipo, quando o assunto envolve leitura então a coisa complicada ainda mais porque nunca consigo seguir listas pré-pensadas, leio meus queridos livros de acordo com meu humor e estado de espírito no dia.

Porém, visitando o blog The Novel World, a Nari - uma das devoradoras de livros do meu BookClub e que também corre a léguas de desafios - sugeriu esse desafio literário bem água-com-açúcar que começou no Hey Lady! Watcha readin'?.

O desafio chama OATES, de Joyce Carol Oates (autora de Um jardim de delícias, Levo você até lá, A falta que você me faz, etc.), e quem quiser participar também é super fácil!

Aqui as regras/detalhes:
  • Desafio vai de January 1, 2010 até Dezembro 31, 2010.
  • Qualquer um pode participar! Não precisa ter blog!
  • Esse desafio pode ser acumulado/deduzido de outros desafios.
  • Não precisa escolher livros antecipadamente, não há ordem ou tempo de leitura pré-determinados.
  • Os níveis podem ser mudados na metade do caminho, bem como os autores!
  • Escolher 1 escritor cujo SOBRENOME comece com uma das letras do acrônimo O.A.T.E.S.
Os meus, por enquanto:

OJoyce Carol Oates (The Falls)
A - Casimiro de Abreu (Primaveras)
T - Içami Tiba (Quem ama, educa!)
E - T. S. Eliot (The waste land - de novo!)
SBetty Smith (A tree grows in Brooklyn)

Níveis:

OATES leitor rapidinho - 1 livro de cada escritor (eu vou nesse!!!)
OATES leitor à moda antiga - 2 livros
OATES leitor carrinho de mão - 3 livros
OATES leitor nervos de aço - 4 livros
OATES leitor completo - 5+ livros

Quem quiser participar...
Para os blogueiros: copia as regras e o selo do blog e deixa um comentário aqui. Quando fizer a resenha sobre o livro, favor colocar o selo do desafio no post.

Monday, January 4, 2010

Her fearful symmetry (Audrey Niffenegger)

Escolha do BookClub para o mês de dezembro!

Acho que foi a primeira vez que as 5 integrantes do meu BookClub tiveram uma decisão unânime sobre um livro. Cheguei na reunião com aquele friozinho na barriga - será que fui a única a não gostar? Vou guardar meus comentários pro blog, talvez eu não deva ser tão crítica! - bem, nem precisei esperar 10 segundos para começar a ouvir as reclamações.

Quando terminei de ler o livro veio aquele alívio de: finalmente me livrei desse peso! Falei pro marido - um dos piores livros que já li. Não é como o caso de alguns livros que parei pela metade (Ecce Homo - Nietzche, e Os imãos Karamazov - Dostoyevsky) que desisti não porque a história não era boa, mas porque filosofia não é meu interesse e me cansa (Ecce Homo) e excessivo apelo ou crítica a religião não me atrai, fora a linha descritiva exacerbada (Os irmão Karamazov).

Her fearful symmetry foi super esperado e tinha tudo pra ser sucesso, e era o que os fãs esperavam de Niffenegger após o The Time Travaler's Wife - A esposa do viajante do tempo (resenha aqui). Porém a história fell short como disseram muitos.

Na minha opinião é uma história sem apelo, que no final eu não acreditei ter sido escrito pela mesma autora, é como se ela tivesse centenas de idéias e decidiu jogar tudo na panela e virou sopa de letrinhas com alfabeto chinês!

E o que a história aborda, então?

Edie e Elspeth são irmãs gêmeas nascidas em Londres, que por algum motivo romperam relações... Edie mudou para os EUA com o marido Jack e teve 2 filhas gêmeas (Júlia e Valentina, agora com 20 anos) - Elspeth não casa mas tem um romance "moderninho" com Robert, o guia do cemitério Highgate.

A história já começa com a morte de Elspeth, vítima de leucemia aos 44 anos, e nas próximas páginas a autora tenta criar o mistério em torno do rompimento das irmãs - Jack era noivo de Elspeth mas fugiu com Edie para os EUA, onde se casaram - Não se enganem queridos leitores!!!

Ao morrer, Elspeth deixa seus bens para as sobrinhas (que nunca viu na vida!) com uma pequena condição: Jack e Edie jamais poderão pisar no ap, nem desfrutar da fortuna em dindim. Nem preciso mencionar que a cláusula despertou a curiosidade das sobrinhas né? Que até então nem sabiam que tinham uma tia.

"Elspeth? (...) Como vou conseguir viver sem você? O problema não era o corpo; o corpo dele sobreviveria normalmente. O problema estava na palavra como: ele viveria, mas sem Elspeth o sabor, a maneira e o modo de viver estavam perdidos para ele. Ele teria que re-aprender a solidão". (Robert - Pag. 15)

As gêmeas tomam posse da herança em 1 ano, quando mudam para Londres - o apartamento fica num prédio de 3 andares próximo ao Cemitério Highgate - e são esses os cenários da história basicamente:
1º andar mora Robert, ainda de luto pela morte da namorada, evita conhecer as gêmeas;
3º mora Martin, o único personagem realmente interessante na história (opinião pessoal!);
2º andar é o herdado pelas gêmeas... mas alguém espera por elas no apartamento - Elspeth, ou melhor, o fantasma de Elspeth que está preso ao lugar onde ela mais passava tempo -  no início ela era apenas uma bolinha, mas ganha força com o tempo e aos poucos vai se materializando (transparentemente - existe isso?!) e aprendendo as táticas fantasmagóricas - acender luzes, mover folhas de papel, portas, etc., até que um dia consegue escrever uma mensagem num piano empoeirado e a comunicação Julia/Valentina/Robert x Elspeth começa.

Quem assistiu o filme Ghost - do outro lado da vida e Sexto Sentido, percebe que a autora copiou várias idéias de lá (assim como Patrick Swayze, Elspeth perambulava pelo ap tentando ser notada, aqui com a desvantagem que ela não conseguia sair do ap). A idéia de que fantasmas deixam o ambiente frio, quando você se arrepia é porque um fantasma está perto. E o final me fez lembrar de À espera de um milagre (mas aqui não direi o porquê!)

Ninguém a ouvia, a comunicação era feita através da OUIJA - aquele da brincadeira com o copo!
Ok, falemos das sobrinhas...
Eram chamadas de gêmeas-espelho, ou seja, Valentina era fisicamente o inverso de Julia... o sinal no rosto direito de Julia era no esquerdo de Valentina (pag. 34). Os órgãos de Valentina também eram invertidos. Julia era a mandona, a 6-minutos-mais-velha, dominadora e curiosa. Valentina era a frágil, doente, submissa mas cativante. No início a proximidade das duas encanta, que pai não quer as filhas super amigas? Mas aos poucos vira opressivo, percebe-se que é mais parasitismo que simbiose.

Julia faz Valentina seguir todos os seus passos, desistiu de várias faculdades, nunca quis procurar um emprego, não tinha planos para o futuro, e fazia a coitada da Valentina fazer o mesmo. A coisa piora quando Valentina engata um romance com Robert. Não suportando a idéia de ser colocada em segundo plano, cobra atenção absoluta da irmã. Valentina se sente sufocada (quem não se sentiria?) e busca sua indenpendência a todo custo e desabafa com a tia-fantasma, Elspeth.

Elspeth não estava feliz com o relacionamento de Valentina e Robert, fantasma também sente ciúmes (claro! Elspeth descreve a vida após a morte como solitária, chata, fria, vazia. Faria qualquer coisa para voltar à vida e ter Robert de volta - qualquer coisa! - isso dá alguma dica????).

A maneira que a história acaba, para mim, deixou os personagens sem propósito, além do fato de que eles nem foram desenvolvidos adequadamente, com exceção de Martin - como mencionei, o único personagem interessante da história - o querido Martin era o autor de palavras-cruzadas para jornais e revistas e sofria de TOC, daqueles que têm mania de limpeza, lavando as mãos o tempo todo com água sanitária até sangrar, que nunca deixa o apartamento por medo de ser contaminado com a sujeira do mundo, passa horas tomando banho e limpando a casa. Sua esposa Marijke o abandona um pouco antes da chegada das gêmeas, parte para Amsterdã.

O relacionamento à distância dos dois, pra mim, é um dos pontos altos da história. O estranhamento pelas peculiaridades da doença, a força de vontade de Martin, a ajuda de Julia, a perseverança de Marijke, fazem o leitor torcer para Martin vencer os desafios do TOC - se o livro fosse sobre a vida de Martin seria muito mais interessante!

Os pontos positivos: nunca imaginei que houvesse um cemitério tão cheio de História como o Highgate e isso foi bem abordado pela autora, Karl Marx é um dos famosos por lá enterrado, fiquei até curiosa pra visitá-lo quando for a Londres. Também gostei muitíssimo dos diálogos super cabeça de Martin e Marijke em outros idiomas, que vai do alemão ao português (sim, o nosso!).

Em fim, as idéias foram fracas e amadoras - para não dizer pobres!
Bem decepcionante para os que amaram "The Time Traveler's Wife".

Obs: Comentários contrários são bem vindos, não se acanhe se gostou do livro e não concorda comigo!
Resenha do New York Times (em inglês)