Wednesday, April 28, 2010

The Age of Innocence (Edith Wharton)

Escolha do Bookclub para o mês de abril, The Age of Innocence - A Época da Inocência, em português - ganhou o prêmio Pulitzer de Melhor Romance do Ano em 1921.

A história de The Age of Innocence começa em 1870 e tem a alta sociedade Nova Iorkina como ambiente. Wharton retrata tanto os conflitos particulares quanto o mundo exterior de seus personagens, seus papéis e influências na sociedade em que circulam, onde escolhas pessoais são restritas à classe e expectativas.

Existe uma tristeza constante nas entrelinhas, o leitor percebe desde o início que não é o indivíduo que controla suas ações e suas vontades naquele cenário, mas que ele é controlado pelas expectativas da sua família, pelo círculo social, e pelos padrões pré-estabelecidos.

Newland Archer e May Welland guardam a notícia do noivado para ser dada em momento oportuno mas a chegada da Condessa Olenska, prima de May, antecipa a notícia - a Condessa havia deixado o marido e a casa na Europa e voltado aos Estados Unidos, porque não mais aguentava aquele casamento sem amor e respeito. Era certo que a sociedade Nova Iorkina viraria as costas para a Condessa, afinal o lugar dela era ao lado do marido, não importa o quão ruim o casamento seja, há de se manter as aparências.

Outro detalhe é que os anos vividos em Paris transformam a Condessa em uma mulher européia, o que significa que ela tem idéias avançadas demais para a sociedade americana. Ela é independente, não segue padrões sociais, ela discute artes, música e literatura. Ela recusa ajuda financeira da família e do marido e mora em meio aos pobres. Ela vive a vida com a liberdade que muitas mulheres anseiam mas não têm coragem de assumir.

Quando a notícia do noivado de Archer e Welland vem à tona, a sociedade entende que a família Archer apóia a família Welland, a reputação de ambas continua intacta e a presença da Condessa é aceita. Até aí tudo bem, se não fosse pelo pequeno fato de que Newland e a Condessa se apaixonam... e é em torno dessa questão que a história se desenvolve... Newland Archer teria coragem de ir contra os preceitos sociais e assumiria seu amor por Olenska?

Através da narrativa de Wharton, o leitor percebe como valores são passados de geração para geração, como os filhos seguem os exemplos dos pais e copiam seus atos e comportamentos no futuro, e quão limitada e bitolada era a visão social da época, mas a vida real corre por baixo desse mundo de superfícies perfeitas.

Newland Acher acredita que May tem sua própria personalidade, que seus atos são baseados em suas próprias experiências, mas o casamento mostra que May é uma mera réplica da mãe e ainda pior, May não consegue quebrar a concha protetora em que vive, acredita que a sociedade é perfeita como é, que o mundo gira em torno do círculo social em que frequenta e dos amigos que convida para os jantares da família.

Aquela não era uma sociedade onde se apontava dedos, não havia acusações ou meia culpa. O conhecimento dos fatos era implícito. E o resultado para escândalos era educado, restrito, e devastador por dentro mas de cabelos perfeitos e as roupas impecáveis. Superficialidade.
"(...) e mais uma vez cresceu dentro dele a realidade de que casamento não é a âncora segura que ele foi ensinado a acreditar, mas uma viagem a mares desconhecidos" (pag. 36)

Geralmente as histórias têm um só climax mas The Age of Innocence tem vários, são tantos altos e baixos, tantos momentos em que o leitor pensa "é agora que a coisa vai!" e acaba não indo que no final eu comecei a achar que a história não tinha climax nenhum!

Alguns podem detestar o final, para mim foi frustrante logo que terminei e até mesmo quando discutimos o livro, mas analisando por outro ponto de vista não havia outro final possível, se Wharton tivesse terminado a história de um modo diferente não representaria a realidade daquele meio.

A história tem o final que deveria ter, mesmo com as mudanças e os avanços sociais e tecnológicos, o comportamento humano é inato e não se muda e Edith Wharton escreve com conhecimento de causa, uma vez que ela mesma viveu nesse círculo e sofreu na pele as limitações do código de honra social da época... o mundo pode mudar mas a mentalidade é a mesma!

"(...) Eu sempre digo a Ellen: Cuidado com a monotonia; monotonia é a mãe de todos os pecados mortais" (pag. 173)

Monday, April 26, 2010

Aniversário de Augusto dos Anjos

Atrasado mas não esquecido!

Em 20 de abril de 1884 nascia Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, um dos poetas mais críticos da Literatura Brasileira. Seus poemas nada convencionais, expressam a agressividade e a tensão da sua visão cientificista, encaixa-se no Parnasianismo... alguns acham que é Pré-Moderno. Cabe ao leitor decidir.

Compartilho hoje com vocês, um dos seus poemas mais conhecidos e comentados...

Versos Íntimos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Saturday, April 24, 2010

Aniversário de Manuel Bandeira

Semana corrida, não consegui postar a tempo, mas ainda vale a pena comentar e homenagear!
Em 19 de abril de 1886 nascia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho.
Sempre que sinto saudade da minha terrinha, lembro de Bandeira e seu lirismo, seu apego às coisas simples da vida, seu jeito de fazer piada do que muitos considerariam vulgar.

Deliciem-se!



O último poema

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Thursday, April 22, 2010

...

Sexta passada tivemos reunião do Bookclub, discutimos The age of Innocence da Edith Wharton que comentarei em breve.

Marcamos a reunião na Livravria Kepler's... uma livrariazinha charmosa no centro de Menlo Park, conhecida por sempre abrir espaço para escritores locais (da Bay Area ou californianos) fazendo lançamento de seus livros - alguns anos atrás essa livraria não aguentou a pressão da concorrência (Barnes&Nobles e Borders) e teve que fechar as portas... uma grande perda para a comunidade de Menlo Park e os viciados em livros. Em pouquíssimo tempo, as portas foram re-abertas graças a doações de moradores e empresas locais que até hoje contribuem financeiramente para manter a livraria aberta. Nós agradecemos!
Mas então... a atração da noite girou em torno do Christopher Moore que lançou recentemente Bite Me. Há alguns meses atrás eu comentei sobre Bloodsucking Fiends aqui, outra obra dele.

Achei no blog Estante de Livros uma lista dos livros dele em português (eu aqui só tenho em inglês, sorry!), eis aqui:

- Guia Prá­tico para Cui­dar de Demô­nios

 - Coyote Blue

- Blo­od­suc­king Fiends: A Love Story

 - Island of the Sequi­ned Love Nun

 - The Lust Lizard of Melan­choly Cove

 - Cor­deiro: O Evan­ge­lho Segundo Biff, o Amigo de Infân­cia de Jesus Cristo
 - Fluke, or, I Know Why the Win­ged Whale Sings

 - O Anjo Mais Estú­pido

- O Anjo estúpido 2

 - A Dirty Job

 - Minha Besta

- O Bobo

 - Bite Me: A Love Story

Christopher Moore lança Bite Me.
Mais um livro sobre vampiros - satirizando os vampiros, sejamos mais corretos! Uma de suas marcas é fazer piada com o que muitos levam a sério mas não é um humor negro, barato... é inteligente, faz rir sem ser forçado, e um detalhe que eu gosto em suas obras é que ele mistura personagens de outros livros seus, se o personagem encaixar na história nova ele põe no bolo - ele "contrata para o novo trabalho" como Christopher mencionou no lançamento de Bite Me, que por sua vez é a sequência do livro You Suck... Moore foi engraçadíssimo (como não poderia deixar de ser), super gentil e atencioso com todos... e eu saí de lá com  minha edição autografada!


Friday, April 16, 2010

Ciranda de Pedra (Lygia Fagundes Telles)

Primeiras linhas:

"Virgínia subiu precipitadamente a escada e trancou-se no quarto.
- Abre, menina - ordenou Luciana do lado de fora. Virgínia encostou-se à parede e pôs-se a roer as unhas, seguindo com o olhar uma formiguinha que subia pelo batente da porta. "Se entrar aí nessa fresta, você morre!" - sussurrou soprando-a para o chão. "Eu te salvo, bobinha, não tenha medo", disse em voz alta. E afastou-a com o indicador. Nesse instante fixou o olhar na unha roída até a carne. Pensou nas unhas de Otávia. E esmagou a formiga."

É a primeira vez que leio Lygia Fagundes Telles e me arrependo de não ter começado antes. Ciranda de Pedra é uma história forte e marcante, audaciosa para a época que foi publicada (1954), com personagens bem desenvolvidos e um enredo que prende a atenção do leitor do início ao fim.

Virgínia é a protagonista e é supreendente ver seu desenvolvimento durante a obra.
Quando Laura abandona Natércio para ficar com Daniel, Virgínia vem com ela, por ser a mais nova das crianças. Bruna e Otávia permanecem com o pai.

Virgínia adora o pai e busca detestar Daniel, mas ao mesmo tempo o admira, há alguma coisa nele que a atrai. Sente compaixão. Mas como ter compaixão se aquele homem separou sua família? Desejava morar com o pai e as irmãs, naquele luxuoso casarão, ser servida e tratada como Bruna e Otávia, mas no fundo - lá no fundo, Virgínia apenas queria ser aceita, ser amada, ter seu espaço na vida e na atenção dos outros.

"- Não podia deixar de acontecer isso, Virgínia. Nossa mãe está pagando um erro terrível, será que você não percebe? Abandonou o marido, e as filhas, abandonou tudo e foi viver com outro homem. Esqueceu-se dos seus deveres, enxovalhou a honra da família, caiu em pecado mortal!" (pag. 37)

Até aí tudo bem, se não fosse pelo fato que Laura desenvolve problemas mentais, entre depressão e alucinações e alguns poucos momentos de sanidade, Virgínia testemunha o declínio da mãe e é enviada para a casa do pai poucos dias antes de sua morte.

É evidente a discrepância no tratamento dado a Virgínia e não leva muito tempo para que ela mesma perceba, o pai a evita, a governanta a ignora, Bruna e Otávia ocupam-se em entreter os amigos e vizinhos, Afonso e sua irmã Letícia, e Conrado. Os cinco sempre juntos, como os anões de pedra do gramado, como que numa ciranda, sempre de mãos dadas. E de todos eles, o único que percebe a existência de Virgínia é Conrado, e é por ele que Virgínia se apaixona... ainda na sua infância. Ai, como ela queria fazer parte daquela ciranda.

"Lentamente Virgínia voltou-se para o gramado. Agora a ciranda de anões [de pedra] mergulhava na escuridão. Ali estavam os cinco de mãos dadas, Conrado, Otávia, Bruna, Afonso e Letícia." (pag. 113)

Virgínia é um personagem fantástico, do momento em que descobre a verdade, todas as decisões que toma demonstra uma força, uma maturidade sem precedentes. A verdade veio quando ela era ainda uma menininha - Piaget e Vygostsky diriam que tamanho trauma afetaria o desenvolvimento dessa criança - mas Virgínia usou todos eles para seu benefício, sofreu calada, em silêncio - mas ela não é perfeita, ninguém é - cai, comete erros, experimenta. Porém, suas dores serviram de alicerce para os valores que criou, para os estudos que buscou, para a mulher inteligente que se transformou.


O final é inesperado, as aventuras de Virgínia devem ter deixado alguns conservadores de boca aberta. Se tiverem a oportunidade, leiam Ciranda de Pedra. A temática causa impacto, Lygia tem um domínio sobre a linguagem impressionante, fora que o perfil psicológico dos personagens é perfeito. Precisa e ao mesmo tempo sutil, de uma coragem absoluta.
"(...) Lançou um olhar para a porta diante da qual - quantas vezes, quantas! - detivera-se ansiosa, à espera de uma palavra, de um gesto. Ah, como era importante para ela o mais ligeiro sinal de interesse. Mas sempre a encontrara fechada. Não seria agora que ele ira lembrar-se de abri-la. E, mesmo que o fizesse, era tarde para entrar." (pag. 119)

Saturday, April 10, 2010

Poema de Sábado

A book

THERE is no frigate like a book
Não existe fragata como um livro
  To take us lands away,
Para levar-nos a terras distantes,
Nor any coursers like a page
Nem cavalo como uma página
  Of prancing poetry.
De poesia cavalgante.
This traverse may the poorest take
Essa travessia até o mais pobre pode fazer
  Without oppress of toll;
Sem pagamento de taxa;
How frugal is the chariot
Quão frugal é a carruagem 
  That bears a human soul!
Que suporta a alma humana!

(Emily Dickinson, do livro Emily Dickinson Poems)

Monday, April 5, 2010

...

"(...) Apertou-lhe a mão. - Uma vez você me citou um verso, era mais ou menos assim, 'Nascemos todos os dias quando nasce o sol'. E depois?
- Começa hoje mesmo a vida que te resta."
(Lygia Fagundes Telles, Ciranda de Pedra, p. 189)



Friday, April 2, 2010

Eat, Pray, Love - Filme!

Acabei de ver o trailer do filme baseado no livro Eat, Pray, Love - Comer, Rezar, Amar!
Resenha aqui.
Eu amei a história e estava super ansiosa pra saber sobre o filme, li vários artigos sobre a filmagem... Julia Roberts viajando horrores por causa das gravações, e finalmente o trailer saiu.
O filme será lançado dia 13 de agosto aqui nos EUA.
Eis o trailer, deliciem-se.