Sunday, December 25, 2011

Natal

Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Fernando Pessoa
A mensagem, pag. 88

Saturday, December 10, 2011

Poema de Sábado

Love

LOVE is anterior to life,
AMOR é anterior à vida,
Posterior to death,
Posterior à morte,
Initial of creation, and
Inicial à criação, e 
The exponent of breath.
O expoente de respirar.

Emily Dickinson,  
Emily Dickinson Poems
pag 192

Monday, December 5, 2011

House of Women (Lynn Freed)


“Meu pai se aproxima e meu oferece sua mão. Ele me levanta da cadeira e me guia em direção ao seu amigo. 'Essa é a minha Theadora,' ele diz, 'minha jóia, meu diadema'.” (pag. 10)


Comprei House of Women Casa das Mulheres, em português — pelo título, que me fez lembrar de A Casa das Sete Mulheres da Letícia Wierchowski. No entanto, a história é bem diferente. Primeiro porque não há uma definição clara de tempo e espaço, sabe-se que se passa algum tempo após a Segunda Guerra Mundial, uma vez que Nalia, a mãe da protagonista Theadora (Thea) viu-se obrigada a abandonar sua carreira como cantora de ópera por causa da perseguição de Hitler, e acabou sendo enviada para um dos campos de concentração. O espaço também é indefinido, uma cidadezinha portuária talvez no Oriente Médio, Africa?


Devido ao passado traumatizante, Nalia cria Thea super-protegida, primeiro em um convento, depois em seu casarão cercada por criados, trancada a sete-chaves. Nem mesmo o ex-marido, pai de Thea, tinha  autorização para entrar na casa sem permissão. 


O que acontece na história é que o pai de Thea, meio que para se vingar de Nalia, e para que a filha se livre da super-proteção da mãe, apresenta Thea a seu amigo, o Assírio bonitão. A menina que nunca havia sido exposta as seduções de um homem, cria mil fantasias e acaba fugindo de casa, e por conselho do pai, embarca no navio com o misterioso Assírio, que só quase no fim da história, ficamos sabendo que se chama Naim. Após uma cerimônia de casamento secreta e rápida no navio, Thea é levada para a ilha de Naim pra lá das Américas.

“Mesmo sendo sua mulher, não é como esposa que o visito em sua biblioteca. É como alguém que nunca fui antes, Ma, nem mesmo em meus sonhos. Quando estou com ele lá, sou furiosa e cheia de desejos. Desamparada, subserviente, e desavergonhada. (…) O que é casamento senão uma forma de roubo? Alguém tomado, alguém deixado para trás. Mas com isso, pertenço a ele, pertencerei sempre a ele. E sei que não há retorno.” (pag. 59)

Thea livra-se do amor obsessivo da mãe para se deparar com um outro tipo de prisão. Naim a trata como uma princesa, não se pode negar, mas há outros mistérios que o envolvem, e que o faz desejar guardar Thea apenas para si. É uma história sexy. Inocente e inexperiente, Thea se deixa levar por seus caprichos de menina, ela é má e doce ao mesmo tempo, ela ama e odeia, em um momento se tranca no quarto e ignora o então marido por dias, e em seguida estão fazendo amor na banheira.

Após o parto das gêmeas, Naim permite que Thea volte e visite a mãe, que após a fuga da filha passou por momentos de profunda depressão e quase bateu as botas. No final das contas, House of Women relata a vida de Nalia, Thea e as mulheres que a cercam e acabam, por algum motivo, reclusas no casarão, compartilhando as frustrações de planos irrealizados, desapontamentos por ações impensadas, decisões tomadas por impulso, desejos, e o mais importante, segredos tão profundos que mudarão para sempre a vida de cada uma delas…

“A mulher cega enxuga seus olhos com a beira do vestido. Então ela olha para cima e diz, 'O homem que veio para minha mãe era o seu pai. Ele é meu pai também'.” (pag. 144)

Saturday, December 3, 2011

Poema de Sábado

Fosse o mundo um paraíso

Fosse o mundo um paraíso...
— paraíso de verdade! —
morrerias sem saber
o que é a felicidade...

Mario Quintana
A cor do invisível,
pag. 105