Tuesday, April 12, 2011

The Almost Moon (Alice Sebold)

Primeiras linhas:
"Quando tudo é dito e feito, matar minha mãe até que não foi uma escolha difícil. Demência, e seus sintomas, tem seu modo de revelar os sentimentos mais profundos das pessoas que sofrem dessa doença. Os sentimentos da minha mãe eram podres como água suja e escura após sentar por dias e dias no prato embaixo de um jarro de flores."

Baaaam! A história já começa como que uma explosão, e foi por essa razão que Beth escolheu The Almost Moon para o BookClub de Fevereiro. Alice Sebold - autora de The Lovely Bones (Vida Interrompida) e Lucky (Sorte), sabe como chocar o leitor, suas histórias são escuras, pesadas, e para mim, opressivas.

The Almost Moon é um livro controverso, algumas de nós do clube detestou a história, outras foram sugadas pelo enredo. O tempo cronológico é curto, apenas 2 dias se passam do momento da morte da mãe a conclusão da história, e Sebold encaixa o passado de Helen nesse meio tempo, para que o leitor, talvez, possa simpatizar com a protagonista, e julgar seu ato de forma mais amena.

"Puxei ainda mais forte. As toalhas se moveram, e eu vi seus olhos. Segurei as toalhas por um bom tempo, olhando-a bem de frente, até que senti a ponta do seu nariz quebrar e vi os seus músculos aos poucos relaxando e então eu soube que ela estava morta" (pag. 14)

Quais ações justificariam o ato cometido por Helen? Seria o homicídio justificável? O que fazer quando a raiva e o ressentimento te levam ao ponto mais extremo? Não sei o que me perturbou mais na história, se foi o fato de Helen ter matado a própria mãe; a maneira que ela se porta após o crime; ou os motivos desenrolados no decorrer da história. Eu não quero expor muito da história porque apesar de eu ter minha opinião pessoal sobre o tópico escolhido, a história em si foi bem escrita, bem desenvolvida, e é por isso que causa tamanho conflito interno no leitor.

Helen foi filha única desse casal que se conheceu muito por acaso. A mãe era modelo, tinha o sonho de mudar para Nova Iorque e seguir carreira quando conheceu o pai de Helen, e acabou engravidando. Por ter tido os sonhos destruídos, e ter acabo em uma cidadezinha suburbana, a mãe de Helen busca a reclusão e aos poucos desenvolve os sintomas de depressão, e síndrome do pânico, que acabam virando demência. O pai de Helen nunca abandonou a esposa, e sacrificou muito de si por aquela mulher, mas cabia à filha tomar conta da mãe - Helen nada mais era que uma criança, o pai nunca sentou e informou a filha que o motivo pelo qual a mãe não levantava da cama por semanas, recusava qualquer contato com o mundo exterior, chorava compulsivamente,  era causado por uma doença. Quando Helen mais precisava de apoio, de amor, sua mãe era cruel e seca. A demência deixava florescer o que de mais amargo e feio havia por trás do rosto encantador.

"Eu sabia que o aquele esforço era heroico para ela. Mas alguma coisa havia acontecido naquele meio tempo em que cruzei a sala e vesti, como mais tarde repensando nomeei, minha capa de super-herói. Minha mãe, naquele exato momento, havia deixado de existir para mim" (pag. 106)

Os sintomas da doença apenas pioram com o passar dos anos, Helen cresce sem saber o que é o relacionamento entre pais e filhos, e ainda pior, sendo insultada e rejeitada pela mãe, mãe esta que ela protege e acolhe como uma criança. O pai, sobrecarregado com tantas outras obrigações, pouco tempo tinha para ela... até o dia em que decide que nem ele mesmo consegue levar adiante a situação e comete suicídio.

Quando Helen mata a mãe, ela já é uma mulher, mãe de 2 filhas, avó, divorciada, tem sua própria história. E eu cheguei a me perguntar se Helen fez o que fez por ela, pela mãe, ou pela sua própria família - de fato Helen precisava de ajuda, seu comportamento grita por socorro, conseguiria Helen apagar as cicatrizes de todos os anos amargos em que sofreu devido a doença da mãe? Após a morte do pai, Helen sem perceber passa a carregar o mesmo peso que o pai carregava. Como um sanguessuga, a mãe doente encontra um novo alvo, e torna-se um parasita na vida e nos relacionamentos de Helen. E agora com a mãe morta, teria Helen também matado aquilo que a deixava viva?


"Minha mãe não foi oficialmente declarada culpada pela morte do Billy porque, de acordo com o relatório da autopsia, os traumatismos causados pelo acidente foram de tal gravidade que ele teria falecido mesmo se ela tivesse prestado algum tipo de socorro (...) Ela poderia tê-lo abraçado, como qualquer outra pessoa faria, ou corrido para chamar a família dele, ou uma ambulância, mas nenhuma dessas ações, de acordo com a autopsia, teria salvado a vida de Billy Murdoch." (pag. 108)
Justificado ou não, Alice consegue provocar reações e reflexões profundas no leitor. Eu comecei a história já não mais querendo ler, mas não conseguindo não parar, senti calafrios, senti repulsa, já não via a hora de acabar... e o final, ah, aquele eu não esperava, cabe a mim decifrar.


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