Wednesday, February 10, 2010

Wuthering Heights (Emily Brontë)

Aposto que minha amiga Dani Bivar vai ficar muitíssimo feliz em saber que li seu livro favorito e que ela tanto me sugeriu. Finalmente li alguma coisa das irmãs Brontë, é o que disse a mim mesma!

Não tinha a menor idéia do que esperar da história (sabem que não leio resumos ou sinopses antes) e  devo confessar que quando terminei de ler não consegui colocar em palavras o que achei da história por semanas e semanas, escrevi e re-escrevi esse post mais de quatro vezes.

O que mais gostei foi o jeito que a história foi contada... mais como uma fofofa do que como uma narrativa regular, e por isso o leitor fica sabendo de fatos cabulosos dos personagens, que passariam despercebido em uma narrativa normal.

Wuthering Heights, O morro dos ventos uivantes, em português, não é exatamente uma história de amor... a história é dramática e carregada de sentimentos do ódio, vingança e manipulação. Claro que há romantismo na história mas não aquele a que estamos acostumados dos escritores do séc. XVIII ou XIX.

Há dois cenários principais: TrushCross Grange (residência alugada por Mr. Lockwood, em 1801) - que tem Helen Dean como governanta, e Wuthering Heights - Morro dos Vento Uivantes, residência do proprietário de ambas as residências, Heathcliff.

Recém chegado a Trushcross Grange, Mr. Lockwood buscando respirar os ares do campo, decide fazer uma visita ao Morro dos Ventos Uivantes para conhecer seu locador. Fica intrigado com o comportamento dos moradores da casa, Heathcliff é um homem de poucas palavras e cheio de mistérios, não parece acostumado a receber visitas. Para seu próprio divertimento, Lockwood decide voltar no dia seguinte.


"Evidentemente ele não deseja repetição da minha intrusão. Devo ir, do mesmo jeito. É impressionante quão sociável me sinto comparado a ele." (pag. 18)


Na visita seguinte Lockwood é supreendido por uma nevasca que o deixa preso ao Morro, é quando conhece Hareton e Catherine. Mais intrigado ainda ficou porque Catherine não o dedicou nenhuma atenção, foi curta e grossa em seus diálogos. Sem contar Hareton, com sua ignorância e maus hábitos. Pensou que a bela jovem fosse casada com Heathcliff, depois que fosse sua filha, depois pensou que fosse esposa do Hareton... foi uma chuva de possibilidades.

Bom, a situação é que Lockwood ficou preso ao Morro por causa da tempestade de neve e Catherine o hospedou naquele quarto! Curioso como era, não conseguindo dormir com tantas perguntas em sua mente, Lockwood começa a folhear os livros da estante do quarto, Catherine Earnshaw, Catherine Heathcliff, Catherine Linton eram os nomes escritos na contra-capa e as páginas do livro... bem, elas serviram de diário.

Segredos estavam sendo revelados mas para Lockwood tudo era muito confuso, não conseguia montar as peças daquele quebra-cabeça. Quem seria Catherine? A mesma que havia conhecido naquela casa?
Para completar o drama, Lockwood tem um sonho louco com a Catherine mas não a que conheceu, seria um sonho ou uma visão? Lockwood não sabia explicar, e sua curiosidade aumentou ao ver o impacto em Heathcliff quando contou o ocorrido.

Quem poderia explicar os questionamentos na mente de Lockwood? Helen Dean, logicamente, a governanta da Grange é a grande narradora da história.

O Morro, a princípio era de propriedade da família Earnshaw, Catherine e Hindley eram os filhos do proprietário. Helen Dean cresceu na casa como criada, junto com Joseph. Heathcliff foi adotado pelo mestre da casa e tratado como filho, o que causou grande ciúmes em Hindley, o adotado nao tinha raízes - era um ser qualquer, um cigano encontrado pelo pai e trazido para sua casa. Catherine e Heathcliff cresceram amigos inseparáveis, mas o tratamento dedicado ao adotado era demais para Hindley - seu pai, para evitar maiores atritos, envia-o para estudar na capital.

Catherine conhece a família Linton, Edgar e Isabella (os filhos dos Lintons), com toda a sofisticação e educação de berço, atraem a atenção de Catherine. Viram amigos, especialmente de Edgar.

Quando o mestre do Morro falece, Hindley retorna para reivindicar seu posto como novo senhor da casa. Com sede de vingança porque o pai preferiu a presença de Heathcliff à sua, Hindley renega todo e qualquer suporte a Heathcliff, que passa a ser tratado pior que os servos da casa, seus estudos são cancelados, o celeiro é seu novo lar. Percebendo o relacionamento próximo da irmã e de Heathcliff, Hindley proíbe seus encontros... Já pensando que Catherine poderia casar com Edgar Linton e aumentar a fortuna da família.

De certa forma Catherine pensa o mesmo. Não há como não comparar as diferenças entre Heathcliff e Linton, são dois mundos diferentes, educações e princípios diferentes. Amava Heathcliff mas nunca poderia casar com ele.

Heathcliff some do mapa por anos. Quando retorna, Catherine está casada com Edgar e morando na Grange com o marido e Isabella, a cunhada. Helen Dean é criada da casa. A esse ponto, Hindley é viúvo, despedaçado pela morte da esposa, vira alcoólatra e viciado em jogos, apostando tudo que tem e o que não pode. O filho, Hareton, é cuidados por qualquer um, cresce sem educação, sem amor, em condições subumanas.

É aqui que começa a mudança no destino dos personagens. Heathcliff retornou para se vingar, não se sabe como conseguiu juntar certa fortuna, mas seu intuito era virar senhor do Morro dos Ventos Uivantes e da Grange (buscando vingança contra Edgar também, por ter roubado sua amada). Aproveita-se da fraqueza de Hindley, empresta-lhe dinheiro, aos poucos toma seu espaço no Morro.

O casamento de Catherine e Edgar começa a ter atritos após a chegada de Heathcliff, que tenta ao máximo se entrometer na vida do casal. Catherine sabe que Heathcliff não tem bom coração mas não consegue não querer sua companhia. Isabella, sua cunhada, agora uma adolescente boba e inexperiente, apaixona-se por Heathcliff, apesar dos conselhos de Helen Dean e Catherine. Era tudo o que o malvado queria. Os dois fogem juntos.

Da miséria da vida de Isabela e Heathcliff nasce Linton. Nem que eu queira conseguirei descrever quão cruel e desumano Heathcliff se mostra. Obcecado para atingir suas metas, Heathcliff se torna seu pior inimigo, e a situação piora depois da morte de Catherine, que deixa de herança ao marido a filha... Catherine (Cathy).

E então a história começa a se desenrolar, cruelmente... e onde se acha esperança?
Wuthering Heights revela uma das personagens femininas mais manipuladoras da história literária, na minha opinião, Catherine Earnshaw-Linton (a mãe). Conseguir superar Emma Bovary não é fácil!

Consigo lembrar de cinco personagens femininas de personalidade similar a Catherine - Emma Bovary (Flaubert), Ana Karenina (Tolstoy), Edna Pontellier (Kate Chopin), Fanny Dashwood (Austen), Daisy Buchanan (Fitzgerald) - o interessante é que todas as obras citadas foram publicadas entre 1850 e 1890, com exceção de Daisy (The Great Gatsby, 1952), seria esse um espelho do real compartamento feminino da época?

Helen Dean é subserviente mas tem uma coragem desafiadora, é minha personagem preferida. Ela é leal acima de tudo, ela ama mas não deixa seu amor cegar sua percepção, ela cuida mas não deixa de fazer clara sua opinião. Catherine (a filha) se mostra totalmente submissa e alienada, o pai super-protetor impediu que a filha conhecesse o mundo e seus perigos, cresceu num mundo de sonhos, onde a maldade não existia... tudo muda quando conhece Heathcliff.

Ler O morro dos ventos uivantes foi uma aventura... primeiro pelos complicados diálogos de Joseph que pouco entendi, segundo porque lá pela metade eu estava tão envolvida com a história que fiquei apavorada com o comportamento de Heathcliff (quem vai salvar a história!? O lado ruim vai prevalecer?!). Pouco de esperança restava em mim, pensei que emily Brontë gostasse de finais dramáticos e controversos como Chopin!

"Eu me demorei ali perto deles (...) ouvi o vento suave soprando pela grama;  e me perguntei como alguém poderia ao menos imaginar sonhos inquietantes, olhando aqueles que dormiam naquela terra tranquila" (pag. 220)

6 comments:

Anonymous said...

Ju

O Compartilhando Leituras fez um selinho especial parabenizando seu blog pelas resenhas de Qualidade...

Passe lá para conferir.. leve o selinho e parabenize quem quiser...

Bjinhus e um ótimo dia!!!

Juliana said...

Eu acho que tenho esse livro em casa, tenho que procurar pq nunca li.


Bjs...

Anonymous said...

Adorei a resenha. Parabéns.
Eu nunca li O Morro dos Ventos Uivantes, na verdade, me falta vontade. Mas eu tenho vontade de comprar, a capa me agrada. Quando é assim, comprando, eu acabo lendo e me apaixonando. Sou meio esquisita, mas é clássico, e clássico é meio "leitura obrigatória", sempre enriquece.
Amei a resenha
;*

Paula said...

"O Monte dos Vendavais" é uma obra magnífica!
Li o ano passado e foi das melhores leituras que fiz.

Nilton Resende said...

curti o blog.
curti quando você falou que "o morro..." é uma livro de fofocas rsrs.

amo esse livro. é o livro que eu gostaria de ter escrito.

abração.

Anonymous said...

Ju!
Aposta ganha!Amei em saber que voce leu Wuthering...
Realmente, sociedade rural, sem nada para fazer, somente trabalho....
Ricos e pobres compartilhando pelo menos algo comum, a fofoca nunca saiu de moda!!
Beijos,
Dani Bivar