Wednesday, March 31, 2010

Amar, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

Foi interessante ler Mário de Andrade depois de tanto tempo!
"Carlos também cantava o Tannenbaum mas desafinava. Não tinha voz nenhuma. Porém descobrira o perfume das rosas. Perfume sutil e fugitivo, ô! a boniteza das vistas!... Às vezes se surpreendia parado diante das sombras misteriosas. As tardes, o lento cair das tardes... Tristes. Surgia nele esse gosto de andar escoteiro, cismando. Cismando em quê? Cismando, sem mais nada. Devia ter felicidades quentes além... Estava pertinho do suspiro, sem alegria nem tristeza, suspiro, no silêncio do amigo luar." (pag. 42)


Quandi li Macunaíma eu deveria ter não mais que quinze anos e lembro ter achado o estilo do Mário muito carnavalesco pro meu gosto, aquelas características pesadas do Modernismo não me agradaram tanto.

Ler Amar, verbo intransitivo fez-me perceber o quanto eu tinha a aprender naquela época, eu meio que comparo o Mário ao Sherlock Holmes (favor não me condenem!), ele é tão inteligente que a sabedoria não cabe em si, ele tem tomadas rápidas, diretas, suas narrativas são alegóricas sim, mas cheias de emoção, ele é um narrador completo, em Amar, verbo intransitivo então, o narrador é bom de prosa, conversa com o leitor e ainda dá pitaco!

A história se passa no seio do lar dos Sousa Costas, uma família aristocrática da grande São Paulo, que como tal, segue piamente as regras de etiqueta da época. O pai é uma figura respeitada e exemplar para os filhos mas passa suas noites em bórdeis da cidade baixa enquanto a mãe, além de se importar com os eventos sociais, dedica-se à criaçãos dos quatro filhos (Aldinha, Laurita, Maria Luisa e o mais velho, Carlos).


"(...) Sousa Costa, se aproximava da mulher, ele tomava sempre o cuidado de não mostrar jeitos e sabenças adquiridos lá embaixo no vale. (...) nunca jamais ele trouxera do vale um fio louro no paletó nem aromas que já não fossem pessoais". (pag. 26)

Como um homem experiente, que conhece a realidade de sua raça, Sousa Costa sabia que não poderia deixar de instruir o filho no quesito sexual, para isso contrara Elza Fräulein como professora de alemão. Carlos desconhece o propósito do pai e como todo garoto em puberdade, não demora muito para notar as curvas da professora, e o encanto que ela provoca em si.
Fräulein é governanta e educadora sentimental e sexual de Carlos, e guarda dentro de si a idealização do amor romântico, eu diria até ultra-romântico, influência dos poetas alemães, Goethe, Schiller, etc. Através de Fräulein, Mário trava vários diálogos de exaltação ao povo alemão, que é mencionado como erudito e trabalhador. Poemas e canções são transcritos em alemão, assim como alguns diálogos entre Fräulein e Carlos.
"Você sabe: hoje esses mocinhos... é tão perigoso! Podem cair nas mãos de alguma exploradora! (...) Não é só bebida não! Hoje não tem mulher-da-vida que não seja etorônoma, usam morfina... E os moços imitam! Depois as doenças!..." (pag. 55)


A história não é separada por capítulos, a divisão dos episódios se dá através do espaçamento duplo entre os parágrafos - uma das características do movimento Expressionista europeu (que influenciou o movimento Modernista no Brasil). Outra marca do Modernismo fortemente presente em Amar, verbo intransitivo é a interrupção da narrativa para dar espaço a digressão do narrador - digressão que interrompe inclusive, a cena do primeiro beijo entre Carlos e Fräulein. Hilário!

Sem deixar de mencionar uma das características principais das obras de Mário de Andrade, a adoção do português falado nas ruas daquela época, o vocabulário popular - "se conseguir que se escreva brasileiro sem por isso ser caipira, mas sistematizando erros diários de conversação, idiotismos brasileiros e sobretudo a psicologia brasileira, já cumpri o meu destino" (Mário de Andrade em carta a Manuel Bandeira).

Mas enfim, porque Amar, verbo intransitivo?
Porque assim o é. Eu amo. Ponto. Amar é um verbo que não precisa de complemento, apesar que é bem melhor quando o tem. O resto vocês precisam testemunhar nas páginas do livro!

"É coisa que se ensine o amor? Creio que não. Pode ser que sim!!" (pag. 36)

Saturday, March 27, 2010

Poema de Sábado

Jenny Kiss'd Me

Jenny kiss'd me when we met,
Jenny me beijou quando nos conhecemos,
Jumping from the chair she sat in;
Pulando da cadeira onde sentava;
Time, you thief, who love to get
Tempo, ladrão, que adora tomar
Sweets into your list, put that in!
Tais doçuras em tuas páginas, anote essa! 
Say I'm weary, say I'm sad,
Diga que estou gasto, diga que sou triste,
Say that health and wealth have miss'd me,
Diga que saúde e riqueza não tenho,
Say I'm growing old, but add,
Diga que estou envelhecendo, mas também diga,
Jenny kiss'd me.
Jenny me beijou.

(Leigh Hunt - crítico, ensaísta,
 escritor e poeta inglês -
1784/1589)


Friday, March 26, 2010

Anna Karenina (Leo Tolstoy)

Ontem tivemos reunião do Bookclub para discutir Anna Karenina, a conversa foi super animada... com um livro tão extenso havia assunto de sobra para comentar.

Levin e Dolly foram os personagens que todas nós gostamos:
Dolly - apesar da sua situação, para nós representou a única mulher realmente forte na história. Ela não aceitava o comportamento de Oblonsky, sentia-se humilhada de certo, e até chegou a invejar a vida nova de Anna, mas sua família vinha em primeiro lugar, e logo percebeu que apesar da luxúria e aparente felicidade que Anna vivia, tudo não passava de superficialidade... tomou para si a responsabilidade de educar os filhos, tentou amenizar ao máximo os efeitos dos gastos excessivos do marido e, apesar de ter cedido algumas vezes, decidiu reinvidicar as finanças de suas posses. Sentimos que no final da história, sua personagem foi meio que deixada de lado, o que é uma pena.

Levin - é curioso compará-lo com seus outros dois irmãos... Levin é o menos sociável e supostamente, o menos inteligente de todos por não querer se envolver com os problemas sociais que aflingiam seu país ou até mesmo sua vizinhança. Por nunca ter tido uma família sua, desejava infinitamente aquele aconchego das relações íntimas familiares, pensava que sua felicidade seria plena após casar-se... infelizmente não é assim que a coisa funciona. O vazio que realmente ocupa espaço em Levin é o vazio de perguntas não respondidas... porque estou aqui? existe um poder supremo? porque as pessoas acreditam tão piamente em algo que não veem? existe Deus? porque religião? Levin é inexperiente e impulsivo, o que fica bem claro após seu casamento e as discussões bobas que trava com Kitty.

Kitty foi uma das personagens mais completas (na nossa opinião)... acompanha-se o seu desenvolvimento durante a história... de uma garotinha fútil, que não vê a hora de arranjar um marido, para uma esposa, madura, que toma as rédeas em situações extremas, ela tem uma força e um vigor que surpreende, apesar de parecer frágil.

O personagem mais autêntico é Oblonsky - tem uma auto-estima contagiante e um carisma como poucos, apesar de ser um pai e marido negligente e irresponsável. O interessante é que Oblonsky se aceita como é, tem ciência de suas raízes fracas, sabe que não pertence realmente a uma família tradicional aristocrática mas não se diminui por causa disso. Sabe que seu posto na sociedade, seu emprego, foi conseguido por influência de terceiros mas não se envergonha e toma vantagem da situação, é um cara-de-pau à moda antiga.

Anna Karenina foi detestada por todas nós. Beth e Carmen detestaram Anna desde as primeiras páginas. Concluimos que Anna nem é a personagem principal da história, mas é interessante acompanhar seu declínio social e moral no decorrer dos capítulos. Concordamos que Anna, na verdade, não chegou a amar Vronsky... o que ela amava era a idéia de estar apaixonada, de ter a liberdade de escolher com quem viver, com quem se relacionar. Respondendo a pergunta do questionário do livro:

"Divórcio e um novo casamento teriam ajudado Anna Karenina? Se Anna tivesse vivido em nosso tempo, sua história seria diferente?" Se Anna casasse com Vronsky não acreditamos que mudaria muita coisa, porque Vronsky deixou bem claro no início da história que um relacionamento sério não era para ele, ele era um homem do mundo, das festas, da farra. Eles seriam felizes no início (como foram nos primeiros meses do relacionamento), mas logo depois Vronsky se cansaria (como aconteceu) porque a mágica da conquista teria passado. Se Anna vivesse em nosso tempo mas tivesse a mesma mentalidade, sua situação não seria muito diferente. Lógico que ela teria a liberdade de se livrar de um casamento ruim, mas com a mesma mentalidade, ela não saberia o que fazer com sua liberdade.

O personagem mais fraco: Alexey Karenin. Ele é um personagem curioso porque apesar de ocupar um cargo de poder, onde toma decisões importantes por seu país, Karenin nunca toma nenhuma decisão em sua própria vida. Começando por seu casamento com Anna Karenina, que foi forçado pela tia dela. Daí, quando começa notar o romance entre Anna e Vronsky, prefere ficar calado e deixar as coisas acontecerem até que Anna confessa tudo. Com a desculpa de preservar sua posição social, Karenin permite que Anna continue seu affair com Vronsky e assim por diante. De certo que Anna arruinou a vida do marido, mas ele foi permissivo. Depois de Anna veio Lidya Ivanova... sempre alguém tomando as decisões por ele, Alexey era sempre coadjuvante da sua própria história.

Decepção: Tolstoy ter totalmente excluído da história a personagem de Varenka. Se não desenvolveria o resto da história dela, porque colocá-la na história então? Deixou uma grande interrogação, até porque era um personagem com conteúdo, tinha uma história de vida interessante... fora que a situação com o irmão de Levin foi frustrante... teria feito mais sentido ter continuado a história dela com Sergey do que ter apagado ela do livro, como se nunca tivesse existido.

Se quiser ler meus primeiros comentários sobre a obra, clique aqui.
Para saber mais sobre a vida de Tolstoy, clique aqui.

* Livro da Lista Rory Gilmore.

Saturday, March 20, 2010

Poema de Sábado

If I can stop one heart from breaking,
Se eu puder evitar que pelo menos um coração se quebre,
I shall not live in vain;
Não viverei em vão;
If I can ease one life the aching,
Se eu puder suavizar a dor de pelo menos uma vida,
Or cool one pain,
Ou amenizar um sofrimento,
Or help one fainting robin
Ou ajudar um pássaro perdido
Unto his nest again,
A encontrar seu ninho novamente,
I shall not live in vain.
Não viverei em vão.

(Emily Dickinson, Sem título, do livro Emily Dickinson Poems,
poeta americana do séc. XIX)

Friday, March 19, 2010

Nostalgia

Eu fui a primeira filha, a primeira neta, a primeira sobrinha.
Sobrinha de 4 tios saindo da adolescência para a vida adulta, que me usavam como atrativo para as pretendentes. Disputavam meu tempo e meus cuidados, um descanso para mamãe.

Lembro que visitei a casa de tanta gente, tantas pretendentes dos meus tios. Lembro que uma delas tinha uma casa grande na esquina que ligava duas avenidas e bem em frente a estação de ônibus, era uma barulheira... a mãe dela era professora de canto, a frente da casa era coberta de azulejos florais... lembro bem porque nunca gostei de nada floral.

Uma outra morava numa casa apertadinha, parede com parede com os vizinhos, lembro da cortina do corredor que era feita de penduricalhos que faziam tric-tric-tric cada vez que alguém passava por ela... essa colecionava carrinhos, aqueles carrinhos minúsculos de ferro... achava estranho uma menina colecionar carrinhos, meninas deveriam brincar e colecionar bonecas, não?

A que eu lembro mais detalhadamente era a que morava na maior casa de todas, numa rua estreitinha onde passava apenas um carro por vez... a casa era bem decorada e tinha o chão de mármore, sempre tão branquinho e uma cozinha aconchegante, sempre com uma delícia no forno, a mãe dela cozinhava tão bem e me enchia de guloseimas. Lembro do quarto dela, era um quarto enorme que dividia com as duas outras irmãs. Adorava aquele quarto, tão menininha, cheio de bordadinhos e brinquedos para meninas da minha idade, nem parecia quarto de alguém que já beijava na boca, pensava eu. Ela era a que parecia gostar de mim por mim, não apenas para conquistar um dos meus tios.

Mas lembro principalmente das minhas tardes na casa do vovô depois da escola... ele me colocava no tontom e me levava para passear de balsa, só para ver o pôr-do-sol do outro lado do Rio Negro, ele me explicava os diferentes tipos de peixe que víamos pela feira que passávamos. Ele me enchia de presentes, os discos de vinil coloridos de histórias, os discos da Xuxa, Angélica, eram sempre presentes vindos dele. Ele era o que sempre estava presente nas minhas apresentações do colégio... buscava o rosto do meu pai na platéia mas sempre encontrava o do vovô. Lembro das sopinhas que ele fazia, das árvores que plantamos juntos (inclusive o meu jambeiro), do balanço na árvore preparado por ele. Ele não era perfeito, eu, naquela idade, conhecia os seus defeitos, mas para mim ele era mais que um pai, meu avô foi meu herói, era perfeito como avô e isso me bastava.

Lembro que não era daquelas crianças super-hiperativas, era calminha, mas levei muitas palmadas da mamãe, nunca do papai e não deixei de quebrar o tornozelo jogando bola com meus primos. Namorei escondido. Tive minhas inquietações e revoltas. Cresci.

Mas porque estou relembrando tudo isso agora?
Outro dia fui visitar a minha amiga Lu e pela primeira vez li, super rapidinho, a história do Menino Maluquinho (Ziraldo) e a frase final me marcou... "ele foi um menino feliz".

Pode parecer sem importância mas eu me fiz essa pergunta: "eu fui uma criança feliz?". A principal meta de um pai é que seu filho seja feliz, educa-se, aconselha-se, repreende-se... mas no final, o que importa mesmo é que a criança seja criança e aproveite cada fase, cada momento, porque passa e passa rápido.

Eu me fiz essa pergunta e tentei volta às lembranças da minha infância, o que para mim é dolorido porque pensar na minha infância e adolescência me faz lembrar do meu avô, que faleceu dia 31/12/2001, e aquele nó na garganta vem com força - não tem como desconectar um do outro... mas hoje deixei as lágrimas correrem e relembrei, os detalhes vivos, como um álbum de fotos.

Sim, eu tive uma infância muito feliz, cheia de recordações, de momentos de gargalhadas, aprendizado... não somente mas principalmente porque tive a sorte de tê-lo, mesmo que por tão pouco tempo nas páginas da minha história. Saudade mais que imensa vô.



Casamento dos meus pais, meu avô.


Wednesday, March 17, 2010

Lua Nova (Stephenie Meyer)

Nem sei por onde começar, honestamente! Agora me vem à cabeça o dia em que comentei sobre Pride and Prejudice and Zombies (resenha aqui) e mencionei que não estou nessa onde de vampiros, lobisomens, etc, etc, tão em alta ultimamente, fiz de tudo para passar longe desse estilo literário... deveria ter seguido os conselhos da minha avó "não cospe pra cima que cai na testa, menina!".

A situação é que meu pai me mandou livros na época do Natal e para minha surpresa Lua Nova veio no bolo, será que ele leu meu comentário e fez de propósito? Então, para fazer jus as R$ 24,90 que meu pai pagou pelo livro, li.

É aqui que não sei como começar... conheço muita gente que gosta da série, inclusive leitores do A Ship made of books, mas por favor entendam que não é pessoal, é apenas negócio.

Tentei ler o livro sem pensar no quanto eu não gosto dele, sério! Tentei não lembrar dos atores ruizinhos que fizeram o filme para não atrapalhar meu envolvimento com a trama (nunca vi o filme, mas os atores são ruins, isso eu sei!) mas foi mais forte que eu, mais forte que minha vontade de fazer jus ao dindim do papai.

A escrita é pobre, pobre de marré deci, tão ruim que beirou a breguice, fora o uso constante das mesmas expressões - contei a palavra torpor 12 vezes em 50 páginas. Sim, sim a história entretem e prende o leitor, mas BBB também entretem e isso não significa que seja bom, de qualidade (não assisto BBB gente, foi só para exemplificar).

Eu entendo que adolescentes gostem da história porque Edward reflete o desejo de muitas adolescentes, é popular sem querer, é "romântico" como toda garota deseja, diz o que elas querem ouvir (ler), tem aquele mistério, é rico e defende Bella de todo o perigo, "oooh, isso é tão romântico!". Mas eu não consegui me identificar com Bella, achei ela chata, manipuladora e interesseira. Não consegui tolerar a falta de respeito dela para com os pais - a quem ela chama pelo primeiro nome, Charlie e René. Os motivos mencionados por ela para querer virar uma vampira não me convenceram, soaram mais como uma menina mimada que não consegue escutar um NÃO - Edward ainda tinha argumentos mais repaldados.

Mas para mim, literatura significa muito mais que romantismo barato misturado a um pouco de drama, literatura é arte e Lua Nova não tem nada de artístico, quem gosta de literatura clássica, não precisa ser os romances da Austen ou Flaubert, que para alguns é água com açucar, mas digo Drácula (Bram Stoker), Frankestein (Mary Shelley), O corcunda de Notre-Dame (Victor Hugo) (resenha aqui), etc, têm mais conteúdo e inspiração do que Lua Nova. 

Como disse Montesquieu em suas Cartas Persas "parece-me que, até que alguém tenha lido todos os livros antigos, não há nenhum motivo para dar preferência aos novos"

"- Antes de você, Bella, minha vida era uma noite sem lua. Muito escura, mas havia estrelas... Pontos de luz e razão... E depois você atravessou meu céu como um meteoro. De repente tudo estava em chamas; havia brilho, havia beleza. Quando você se foi, quando o meteoro caiu no horizonte, tudo ficou negro. Nada mudou, mas meus olhos ficaram cegos pela luz. Não pude mais ver as estrelas. E não havia mais razão para nada" (pag. 366)

Sunday, March 14, 2010

Poema de Sábado

Ontem assisti mais uma vez o filme "Must Love Dogs" (não achei o título em português), uma comédia-romântica com John Cusack (Jake) e Diane Lane (Sarah) que aborda divórcio e a busca de novos relacionamentos através da internet. No filme, o pai de Sarah, interpretado pelo ator Christopher Plummer, declama esse poema do dramaturgo e poeta irlandês William Butler Yeates, decidi então compartilhar com vocês porque é lindo!
Abaixo, trecho do filme em que o poema é mencionado (legendas em japonês, acredito eu, mas foi o único que encontrei no youtube).

Brown Penny*

I whispered, 'I am too young,'
Sussurei, 'Sou muito novo,'
And then, 'I am old enough';
E depois, 'Sou velho demais';
Wherefore I threw a penny
Por isso jogue uma moeda
To find out if I might love.
Para descobrir se hei de amar.
'Go and love, go and love, young man,
'Vá e ame, vá e ame, meu jovem,
If the lady be young and fair.'
Se a dama for jovem e bela.
Ah, penny, brown penny, brown penny,
Ah, moeda, moeda marrom, moeda marrom, 
I am looped in the loops of her hair.
Estou amarrado nos cachos do cabelo dela.

O love is the crooked thing,
Oh amor é uma coisa desonesta,
There is nobody wise enough
Não existe ninguém, sábio o suficiente
To find out all that is in it,
Para descobrir tudo que há nele,
For he would be thinking of love
Porque ele estaria pensando em amor
Till the stars had run away
Até as estrelas desaparecerem
And the shadows eaten the moon.
E as sombras comerem a lua.
Ah, penny, brown penny, brown penny,
Ah, moeda, moeda marrom, moeda marrom,
One cannot begin it too soon.
Não se pode começar assim tão cedo.
 
(William Butler Yeats - 1865/1939) 
 




*Penny é o "apelido" da moeda de 0.01 americana,
é a menor das moedas e tem cor marrom/bronze

Saturday, March 6, 2010

Poema de Sábado

O escândalo da Rosa

Oh rosa que raivosa
Assim carmesim
Quem te fez zelosa
O carme tão ruim?

Que anjo ou que pássaro
Roubou tua cor
Que ventos passaram
Sobre o teu pudor

Coisa milagrosa
De rosa de mate
De bom para mim

Rosa glamourosa?
Oh rosa que escarlate:
No mesmo jardim!

(Vinícius de Moraes, Nova Antologia Poética)

Thursday, March 4, 2010

Tolstoy e etc...

Sei que tenho estado ausente e negligente com meu blog, nem o poema de sábado foi possível postar, tive aula de CPR, AED e First Aid das oito às seis e o cansaço foi tremendo. Também fui promovida e estou em treinamento. O terceiro e importantíssimo motivo é que estou me deliciando com a re-leitura de Anna Karenina, estou incrementando a leitura com fatos sobre a vida de Toltoy e lendo cada informaçãozinha do rodapé ou endnotes.

Eu sou uma super-fã de Tolstoy desde a primeira vez que li Anna Karenina (resumo aqui) (apesar que meu inglês ainda não era tão avançado quanto hoje) e eu havia pesquisado algumas informações sobre o autor quando primeiramente li a obra, mas como muitos já disseram e eu agora comprovo, cada vez que você re-lê um livro tem uma experiência diferente com a história, os personagens, etc. É exatamente isso que tem acontecido comigo, apesar que ainda guardo algumas das mesmas opiniões sobre alguns dos personagens, tem sido uma experiência diferente - diferente como? - hoje, com mais conhecimento de mundo e conhecimento histórico, consigo ver a obra de Tolstoy de um ponto de vista mais amplo, mais abrangente. Consigo não criticar a atitude dos personagens como outrora fiz; consigo, não simpatizar, mas compreender melhor a atitude de Anna sem detestá-la. Enfim, sim, tem sido um deleite.

O mais interessante é olhar a história quase como uma auto-biografia desse escritor que tanto me fascina. Muito de Tolstoy consta nas página desse livro, muito de sua experiência (negativa), angústia, dúvidas e testemunhos estão presentes nos personagens dessa obra.

Leo Nikolayevich Tolstoy nasceu em uma família aristocrática. Perdeu a mãe aos dois anos e o pai aos nove. A tia Alexandra, que passou a criá-lo, morre dois anos depois. Antes mesmo de chegar a adolescência, Tolstoy já tinha convicção de que a morte seria um elemento torturante e presente na sua vida. Cresceu sem conhecer como era conviver no seio de uma família completa.

A primeira fase da sua vida adulta foi marcada por libertinagem, era fanfarrão, gastava suas noites em salões de jogos e bordéis de Moscou, mas como que num passe de mágica, mudou de atitude e decidiu retirar-se da cidade, muda para o campo onde buscou melhorar a vida dos camponeses que trabalhavam na propriedade herdada dos pais. Pouco tempo depois, Guerra e Paz é publicado e Nikolai, irmão de Tolstoy, morre de tuberculose. Uma depressão profunda abate o escritor. Alguns anos depois o outro irmão de Tolstoy morre afogado.

Casou com Sophia em busca da vida familiar que sempre desejou e nunca conseguiu ter, tiveram 13 filhos mas outras ideias perturbam seu sossego... seus questionamentos sobre Deus, sobre religião, sobre a vida, sobre si - e é exatamente nesse período que começa a escrever Anna Karenina e a obra reflete em muitos capítulos tais questionamentos, através da vida de Levin, personagem que simboliza o próprio Tolstoy.

Assim como Levin, Tolstoy também era amigo de longa data da família da futura esposa, apresentado através do irmão de Sophie. Assim como Levin, Tolstoy teve paixão platônica pelas duas irmãs mais velhas de Sophie, até que finalmente casou com ela. O modo como Kitty é cortejada por Levin é uma réplica do cortejo de Leo e seus passos até o casamento. O trauma pela morte do irmão Nikolai é relembrado na hsitória no único capítulo com título - Death/Morte (Capítulo XX da Parte Cinco), através de Nikolay, irmão de Levin.

Assim como no final da história Levin tem um insight e se torna um cristão fiel, Tolstoy se converte ao cristianismo e tudo muda após sua conversão, suas obras finais são marcadas pela religiosidade extremista. Sua transformação foi tamanha que ele decidiu seguir ao pé da letra os preceitos do livro de Mateus - livrou-se dos seus bens para se dedicar aos pobres e abriu mão dos direitos autorais de suas obras. Seu ponto de vista religioso ficou tão severo que suas últimas publicações descrevem o casamento como "prostituição institucionalizada e socialmente aceitável", pregando a vida em celibato.

As experiências e reflexões de seus últimos ensaios serviram de inspiração para Mahatma Ghandi, entre outros.

Anna Karenina foi publicado em forma de folhetim, Tolstoy pretendia escrever a história em menos de um mês, mas acabou levando quatro anos para terminar, ao ponto que no final o escritor já estava "por aqui" com Anna, cuja graça, vitalidade, carinho materno e beleza aos poucos e dolorosamente iam se extinguindo no coração de Tolstoy, bem como na própria história.