Friday, March 26, 2010

Anna Karenina (Leo Tolstoy)

Ontem tivemos reunião do Bookclub para discutir Anna Karenina, a conversa foi super animada... com um livro tão extenso havia assunto de sobra para comentar.

Levin e Dolly foram os personagens que todas nós gostamos:
Dolly - apesar da sua situação, para nós representou a única mulher realmente forte na história. Ela não aceitava o comportamento de Oblonsky, sentia-se humilhada de certo, e até chegou a invejar a vida nova de Anna, mas sua família vinha em primeiro lugar, e logo percebeu que apesar da luxúria e aparente felicidade que Anna vivia, tudo não passava de superficialidade... tomou para si a responsabilidade de educar os filhos, tentou amenizar ao máximo os efeitos dos gastos excessivos do marido e, apesar de ter cedido algumas vezes, decidiu reinvidicar as finanças de suas posses. Sentimos que no final da história, sua personagem foi meio que deixada de lado, o que é uma pena.

Levin - é curioso compará-lo com seus outros dois irmãos... Levin é o menos sociável e supostamente, o menos inteligente de todos por não querer se envolver com os problemas sociais que aflingiam seu país ou até mesmo sua vizinhança. Por nunca ter tido uma família sua, desejava infinitamente aquele aconchego das relações íntimas familiares, pensava que sua felicidade seria plena após casar-se... infelizmente não é assim que a coisa funciona. O vazio que realmente ocupa espaço em Levin é o vazio de perguntas não respondidas... porque estou aqui? existe um poder supremo? porque as pessoas acreditam tão piamente em algo que não veem? existe Deus? porque religião? Levin é inexperiente e impulsivo, o que fica bem claro após seu casamento e as discussões bobas que trava com Kitty.

Kitty foi uma das personagens mais completas (na nossa opinião)... acompanha-se o seu desenvolvimento durante a história... de uma garotinha fútil, que não vê a hora de arranjar um marido, para uma esposa, madura, que toma as rédeas em situações extremas, ela tem uma força e um vigor que surpreende, apesar de parecer frágil.

O personagem mais autêntico é Oblonsky - tem uma auto-estima contagiante e um carisma como poucos, apesar de ser um pai e marido negligente e irresponsável. O interessante é que Oblonsky se aceita como é, tem ciência de suas raízes fracas, sabe que não pertence realmente a uma família tradicional aristocrática mas não se diminui por causa disso. Sabe que seu posto na sociedade, seu emprego, foi conseguido por influência de terceiros mas não se envergonha e toma vantagem da situação, é um cara-de-pau à moda antiga.

Anna Karenina foi detestada por todas nós. Beth e Carmen detestaram Anna desde as primeiras páginas. Concluimos que Anna nem é a personagem principal da história, mas é interessante acompanhar seu declínio social e moral no decorrer dos capítulos. Concordamos que Anna, na verdade, não chegou a amar Vronsky... o que ela amava era a idéia de estar apaixonada, de ter a liberdade de escolher com quem viver, com quem se relacionar. Respondendo a pergunta do questionário do livro:

"Divórcio e um novo casamento teriam ajudado Anna Karenina? Se Anna tivesse vivido em nosso tempo, sua história seria diferente?" Se Anna casasse com Vronsky não acreditamos que mudaria muita coisa, porque Vronsky deixou bem claro no início da história que um relacionamento sério não era para ele, ele era um homem do mundo, das festas, da farra. Eles seriam felizes no início (como foram nos primeiros meses do relacionamento), mas logo depois Vronsky se cansaria (como aconteceu) porque a mágica da conquista teria passado. Se Anna vivesse em nosso tempo mas tivesse a mesma mentalidade, sua situação não seria muito diferente. Lógico que ela teria a liberdade de se livrar de um casamento ruim, mas com a mesma mentalidade, ela não saberia o que fazer com sua liberdade.

O personagem mais fraco: Alexey Karenin. Ele é um personagem curioso porque apesar de ocupar um cargo de poder, onde toma decisões importantes por seu país, Karenin nunca toma nenhuma decisão em sua própria vida. Começando por seu casamento com Anna Karenina, que foi forçado pela tia dela. Daí, quando começa notar o romance entre Anna e Vronsky, prefere ficar calado e deixar as coisas acontecerem até que Anna confessa tudo. Com a desculpa de preservar sua posição social, Karenin permite que Anna continue seu affair com Vronsky e assim por diante. De certo que Anna arruinou a vida do marido, mas ele foi permissivo. Depois de Anna veio Lidya Ivanova... sempre alguém tomando as decisões por ele, Alexey era sempre coadjuvante da sua própria história.

Decepção: Tolstoy ter totalmente excluído da história a personagem de Varenka. Se não desenvolveria o resto da história dela, porque colocá-la na história então? Deixou uma grande interrogação, até porque era um personagem com conteúdo, tinha uma história de vida interessante... fora que a situação com o irmão de Levin foi frustrante... teria feito mais sentido ter continuado a história dela com Sergey do que ter apagado ela do livro, como se nunca tivesse existido.

Se quiser ler meus primeiros comentários sobre a obra, clique aqui.
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* Livro da Lista Rory Gilmore.

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