Sobrinha de 4 tios saindo da adolescência para a vida adulta, que me usavam como atrativo para as pretendentes. Disputavam meu tempo e meus cuidados, um descanso para mamãe.
Lembro que visitei a casa de tanta gente, tantas pretendentes dos meus tios. Lembro que uma delas tinha uma casa grande na esquina que ligava duas avenidas e bem em frente a estação de ônibus, era uma barulheira... a mãe dela era professora de canto, a frente da casa era coberta de azulejos florais... lembro bem porque nunca gostei de nada floral.
Uma outra morava numa casa apertadinha, parede com parede com os vizinhos, lembro da cortina do corredor que era feita de penduricalhos que faziam tric-tric-tric cada vez que alguém passava por ela... essa colecionava carrinhos, aqueles carrinhos minúsculos de ferro... achava estranho uma menina colecionar carrinhos, meninas deveriam brincar e colecionar bonecas, não?
A que eu lembro mais detalhadamente era a que morava na maior casa de todas, numa rua estreitinha onde passava apenas um carro por vez... a casa era bem decorada e tinha o chão de mármore, sempre tão branquinho e uma cozinha aconchegante, sempre com uma delícia no forno, a mãe dela cozinhava tão bem e me enchia de guloseimas. Lembro do quarto dela, era um quarto enorme que dividia com as duas outras irmãs. Adorava aquele quarto, tão menininha, cheio de bordadinhos e brinquedos para meninas da minha idade, nem parecia quarto de alguém que já beijava na boca, pensava eu. Ela era a que parecia gostar de mim por mim, não apenas para conquistar um dos meus tios.
Mas lembro principalmente das minhas tardes na casa do vovô depois da escola... ele me colocava no tontom e me levava para passear de balsa, só para ver o pôr-do-sol do outro lado do Rio Negro, ele me explicava os diferentes tipos de peixe que víamos pela feira que passávamos. Ele me enchia de presentes, os discos de vinil coloridos de histórias, os discos da Xuxa, Angélica, eram sempre presentes vindos dele. Ele era o que sempre estava presente nas minhas apresentações do colégio... buscava o rosto do meu pai na platéia mas sempre encontrava o do vovô. Lembro das sopinhas que ele fazia, das árvores que plantamos juntos (inclusive o meu jambeiro), do balanço na árvore preparado por ele. Ele não era perfeito, eu, naquela idade, conhecia os seus defeitos, mas para mim ele era mais que um pai, meu avô foi meu herói, era perfeito como avô e isso me bastava.
Lembro que não era daquelas crianças super-hiperativas, era calminha, mas levei muitas palmadas da mamãe, nunca do papai e não deixei de quebrar o tornozelo jogando bola com meus primos. Namorei escondido. Tive minhas inquietações e revoltas. Cresci.
Outro dia fui visitar a minha amiga Lu e pela primeira vez li, super rapidinho, a história do Menino Maluquinho (Ziraldo) e a frase final me marcou... "ele foi um menino feliz".
Pode parecer sem importância mas eu me fiz essa pergunta: "eu fui uma criança feliz?". A principal meta de um pai é que seu filho seja feliz, educa-se, aconselha-se, repreende-se... mas no final, o que importa mesmo é que a criança seja criança e aproveite cada fase, cada momento, porque passa e passa rápido.
Eu me fiz essa pergunta e tentei volta às lembranças da minha infância, o que para mim é dolorido porque pensar na minha infância e adolescência me faz lembrar do meu avô, que faleceu dia 31/12/2001, e aquele nó na garganta vem com força - não tem como desconectar um do outro... mas hoje deixei as lágrimas correrem e relembrei, os detalhes vivos, como um álbum de fotos.
Sim, eu tive uma infância muito feliz, cheia de recordações, de momentos de gargalhadas, aprendizado... não somente mas principalmente porque tive a sorte de tê-lo, mesmo que por tão pouco tempo nas páginas da minha história. Saudade mais que imensa vô.
Casamento dos meus pais, meu avô.
2 comments:
eu texto, seu relato, ate eu me emocione e me fez lembrar da minha infancia tbm, do balanço, dos brinquedor e das ferias em família.
Muito bom!
bjs...
Oi Ju, so agora li seu post. O menino maluquinho rendeu, adorei o post ... esse livro me faz pensar também, ele me emociona, eu adoro.
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