Esse foi o primeiro livro que li que me causou desconforto, desconforto emocional. Lembro que passei noites sem dormir, não conseguia esquecer as imagens que minha mente formou enquanto lia. Terror.
Eu não lembro cada detalhe da história (assim depois de tanto tempo) mas decidi falar desse livro porque ele estava pertinho do livro do Edgar A. Poe, escolhido para o último Poema de Sábado (aqui), e lembrei que ainda não havia comentado sobre ele no A Ship Made of Books.
Lord of the Flies - O Senhor das Moscas, em português - conta a história de um grupo de crianças inglesas perdidas numa ilha - não lembro exatamente como elas chegaram lá e porque não havia adultos com elas - e a jornada travada por elas para sobreviver.
As primeiras crianças aparecem na praia - Ralph e Piggy são os primeiros a interagir mas logo outras aparecem vindas da floresta e em pouco tempo há um grande grupo de crianças. Uma pequena sociedade se forma, é preciso caçar para comer, é preciso se organizar, os menores são frágeis e dependentes, mas o instinto de sobrevivência dos mais velhos fala mais alto. As tarefas são divididas e Ralph é votado o lider do grupo até que Jack começa a reinvidicar o posto - vindo de uma educação mais rígida, com habilidades de escoteiro, ele acredita que tem mais capacidade de lidera-los, fora que também tem outros pertencentes ao seu grupo que o apoiam.
Lord of the Flies mostra como a sociedade gira em torno do poder e nisso há uma raiz malvada, não importa se são apenas crianças, há uma força interior que fala mais alto. Os fortes tentarão submeter os fracos às suas vontades, às suas leis, não importa o que terão que fazer - é a lei da selva, a lei da sobrevivência e luta-se com as armas que tem. Se Jack é bom caçador e consegue carne, os que desejam comer carne terão que aceitar Jack como lider.
Em um dado momento na história, os menores dizem ver "coisas" durante a noite e recusam-se a dormir, um certo medo se instala entre as crianças; outros dizem que ver alguém no topo de uma montanha e seria de lá que as "coisas" viriam durante a noite.
"A cabeça, pensou, parecia concordar com ele. Foge, disse a cabeça silenciosamente, volta para os outros. Foi piada, sério - porque se importaria? Estavas errado, só isso (...) Volta criança, disse a cabeça silenciosamente". (pag. 135)
Os maiores partem para o topo da montanha para investigar a "besta", encontram e matam um porco no meio do caminho e penduram a cabeça do porto como num cajado - e é a partir daqui que as cenas se tornam gráficas e aterrorizantes! - Simon passa a conversar com o crânio, que se chama de O Senhor das Moscas, e é como se o crânio começasse influenciar negativamente o comportamento daqueles que já tinham algo de mal em si - O termo senhor das moscas é uma tradução do hebraico para Belzebu, ou Diabo, e isso explica muito da história.
Jack torna-se cruel e tirano, usa a violência, a pressão psicológica e o medo para submeter todos ao seu poder. Ralph e Piggy tentam alertar os outros mas é como se o mal tivesse tomado cada espaço daquela ilha.
Li muitos comentários sobre esse livro, alguns dizem ser uma versão mais crua do The Animal Farm - A Revolução dos Bichos, mas a verdade é que a mensagem do texto é forte, forte até demais pra mim. Golding mostra ao leitor, numa visão apocalíptica, que nenhum paraíso escapa da força opressiva causada pela vontade do poder, nem mesmo aquelas crianças ali naquele cenário paradisíaco... uma ilha, com comida de fácil acesso, onde a simplicidade da natureza se apresenta diariamente... nem mesmo ali pode-se evitar a influência do mal, como se ele fosse inerente ao ser humano... Assim como foi no Jardim do Eden.
* Livro da Lista Rory Gilmore.
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