Primeiras linhas:
The girl with the dragon tattoo (A garota com tatuagem de dragão) - Os homens que não amavam as mulheres, em português (o que é a tradução correta do sueco Män som hatar kvinnor) é a primeira obra da trilogia Millennium do escritor Stieg Larsson."Acontecia todo ano, era quase um ritual. E esse era seu octagésimo-segundo aniversário. Quando, como de costume, as flores foram entregues, ele retirou do papel que as envolvia e pegou o telefone para ligar para o Detetive Superitendente Morell que, quando se aposentou, mudou para o Lago Siljan em Dalarna".
Harriet Vangler, sobrinha de Henrik Vangler - o presidente das Corporações Vangler, grande fabricante de eletro-eletrônicos da Suécia - desaparece em 1966 aos 16 anos de idade, no dia da reunião familiar anual. Seu corpo nunca fora encontrado, as investigações policiais foram inconclusivas e o caso é arquivado anos depois por falta de novos fatos. Tudo parece ser ironia do destino, se não fosse pelo detalhe de que Henrik planejava ter a sobrinha querida como futura presidente de suas empresas. Sabendo do histórico negro de sua família, Henrik acredita que o assassino de Harriet é membro do clã Vangler - uma das pessoas presentes naquela dita reunião.
"Harriet era a menina dos meus olhos. Tentei dar a ela senso de segurança e desenvolver sua auto-confiança (...) eu a via como minha própria filha, e ela acabou se aproximando mais de mim do que de seus pais." (pag. 91)
Quando o jornalista financeiro Mikael Blomkvist perde o processo movido pelo magnata Wennerström, Blomkvist se vê obrigado a afastar-se da revista Millennium, em que trabalha como sócio e editor. Os anunciantes já haviam começado a cancelar seus anúncios na revista, os lucros estavam em queda e a reputação da revista, reconhecida por expor as fraudes e corrupções de corporações e grupos financeiros, estava em risco. É nesse período de turbulência que Blomkvist é procurado pelo advogado da família Vangler - resolve o mistério da morte de Harriet e tens a cabeça de Wennerström numa bandeja!
Lisbeth Salander é detetive particular da Milton Security - a frase "não julgue um livro pela capa" aplica-se a ela. Aos 24 anos, passou parte da vida em reformatórios, foi presa, sofreu abusos físicos e morais, bebe além da conta, tem curiosidade sexual, e vive sob o controle de um guardião de justiça, que controla seus bens e seus passos. Lisbeth é uma hacker altamente profissional.
"Ela tinha uma vespa tatuada no pescoço, um laço tatuado ao redor do biceps do braço esquerdo e outro ao redor do tornozelo (...) Armansky também viu que ela tinha uma tatuagem de dragão no ombro esquerdo." (pag. 38)
Quando terminei de ler o livro fui para minhas pesquisas na internet e descobri que o filme havia sido lançado em Fevereiro aqui nos EUA... apenas 2 cinemas estavam exibindo, corri para assistir no mesmo dia. O marido não leu o livro mas eu havia contado alguns fatos da história... alguns.
O filme é muitíssimo superficial e amenizou o comportamento de vários personagens. Isabela Boscov comentou no site da Veja (aqui) que o filme é fidelíssimo ao livro - NÃO! Não é. Se considerarmos que não mudaram o final sim... mas isso não significa muita coisa se outros fatos na história foram mudados - Blomkvist é um jornalista competente, um pai pouco presente (no filme ele nem tem filha) e tem uma queda por mulheres atraentes (tem um caso de 20 anos com Erika Berger, sócia-presidente da Millennium - o que é de conhecimento de todos, inclusivo do marido de Erika), e Erika é muitíssimo presente na história e exerce influência na vida de Mikael (no filme ela aparece apenas duas vezes e totalmente fora do caráter real da personagem); durante a investigação do caso Harriet ele também tem um caso com Cecília Vanger (no filme percebe-se uma atração entre os dois mas Blomkvist prefere não misturar as coisas...) e daí vem a situação com Lisbeth.
O que também foi "esquecido" no filme foi o fato de que Blomkvist só aceitou investigar o mistério de Harriet porque Henrik Vangler tinha uma carta na manga que ajudaria a revista Millenium desmarcarar Wannerström... o que, na minha opinião e do marido, deixou a história sem explicação - ok, do nada ele decidiu investigar um crime de mais de 40 anos por pura ação de bom samaritano? - Pelo livro tem-se mais noção da teia investigativa, das pistas seguidas, da extensão de raciocínio e lógica usada por Blomkvist e a paradoxal Lisbeth.
Lisbeth no livro é totalmente introvertida, reservada e tem uma grande barreira comunicativa - suas frases são monossilábicas... entende-se que não se pode fazer um filme mudo, é preciso conteúdo, mas é exatamente essa barreira comunicativa que Larsson tanto enfatiza no livro e que marca a personalidade de Lisbeth... as palavras não ditas são expressas em sua aparência, suas tatuagens, suas roupas... as camisas com slogans... e especialmente no seu trabalho. Ela pouco fala mas é capaz de escrever relatórios em gramática perfeita e rebuscada, suscinta e objetiva... o que a faz a melhor detetive da Milton Security. Suas tatuagens são lembretes das brutalidades que sofreu (o filme nem menciona esse ponto) - explícito após o incidente com seu novo guardião. A mãe, que mora em um asilo, é seu único elo familiar, é a quem dedica seus momentos ternos, visitando regularmente - situação que é distorcida no filme.
"Quando terminou, ela pulou para o quarto e vestiu jeans, e uma camiseta que dizia O FIM DO MUNDO FOI ONTEM, HOJE O QUE TEMOS É UM GRANDE PROBLEMA" (pag. 330)
Stieg Larsson foi editor da revista sueca Expo e especialista em extremistas anti-democráticos de esquerda e organizações Nazistas. Faleceu em 2004 logo após entregar os manuscritos das três obras que compõe a série Millenium - The girl with the dragon tattoo, The girl who played with fire, The girl who kicked the Hornet's nest - todos já em versão cinematográfica, diga-se de passagem.
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