A história de The Age of Innocence começa em 1870 e tem a alta sociedade Nova Iorkina como ambiente. Wharton retrata tanto os conflitos particulares quanto o mundo exterior de seus personagens, seus papéis e influências na sociedade em que circulam, onde escolhas pessoais são restritas à classe e expectativas.
Existe uma tristeza constante nas entrelinhas, o leitor percebe desde o início que não é o indivíduo que controla suas ações e suas vontades naquele cenário, mas que ele é controlado pelas expectativas da sua família, pelo círculo social, e pelos padrões pré-estabelecidos.
Newland Archer e May Welland guardam a notícia do noivado para ser dada em momento oportuno mas a chegada da Condessa Olenska, prima de May, antecipa a notícia - a Condessa havia deixado o marido e a casa na Europa e voltado aos Estados Unidos, porque não mais aguentava aquele casamento sem amor e respeito. Era certo que a sociedade Nova Iorkina viraria as costas para a Condessa, afinal o lugar dela era ao lado do marido, não importa o quão ruim o casamento seja, há de se manter as aparências.
Outro detalhe é que os anos vividos em Paris transformam a Condessa em uma mulher européia, o que significa que ela tem idéias avançadas demais para a sociedade americana. Ela é independente, não segue padrões sociais, ela discute artes, música e literatura. Ela recusa ajuda financeira da família e do marido e mora em meio aos pobres. Ela vive a vida com a liberdade que muitas mulheres anseiam mas não têm coragem de assumir.
Quando a notícia do noivado de Archer e Welland vem à tona, a sociedade entende que a família Archer apóia a família Welland, a reputação de ambas continua intacta e a presença da Condessa é aceita. Até aí tudo bem, se não fosse pelo pequeno fato de que Newland e a Condessa se apaixonam... e é em torno dessa questão que a história se desenvolve... Newland Archer teria coragem de ir contra os preceitos sociais e assumiria seu amor por Olenska?
Através da narrativa de Wharton, o leitor percebe como valores são passados de geração para geração, como os filhos seguem os exemplos dos pais e copiam seus atos e comportamentos no futuro, e quão limitada e bitolada era a visão social da época, mas a vida real corre por baixo desse mundo de superfícies perfeitas.
Newland Acher acredita que May tem sua própria personalidade, que seus atos são baseados em suas próprias experiências, mas o casamento mostra que May é uma mera réplica da mãe e ainda pior, May não consegue quebrar a concha protetora em que vive, acredita que a sociedade é perfeita como é, que o mundo gira em torno do círculo social em que frequenta e dos amigos que convida para os jantares da família.
Aquela não era uma sociedade onde se apontava dedos, não havia acusações ou meia culpa. O conhecimento dos fatos era implícito. E o resultado para escândalos era educado, restrito, e devastador por dentro mas de cabelos perfeitos e as roupas impecáveis. Superficialidade.
"(...) e mais uma vez cresceu dentro dele a realidade de que casamento não é a âncora segura que ele foi ensinado a acreditar, mas uma viagem a mares desconhecidos" (pag. 36)
Alguns podem detestar o final, para mim foi frustrante logo que terminei e até mesmo quando discutimos o livro, mas analisando por outro ponto de vista não havia outro final possível, se Wharton tivesse terminado a história de um modo diferente não representaria a realidade daquele meio.
A história tem o final que deveria ter, mesmo com as mudanças e os avanços sociais e tecnológicos, o comportamento humano é inato e não se muda e Edith Wharton escreve com conhecimento de causa, uma vez que ela mesma viveu nesse círculo e sofreu na pele as limitações do código de honra social da época... o mundo pode mudar mas a mentalidade é a mesma!
"(...) Eu sempre digo a Ellen: Cuidado com a monotonia; monotonia é a mãe de todos os pecados mortais" (pag. 173)