É a primeira palavra que me vem a cabeça quando penso em The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society. Daí eu leio sobre as autoras (porque achei estranho um livro que nem é assim tão longo, ter tido duas escritoras)...
Mary Ann Shaffer começou a escrever a história em 1980 depois de uma viagem frustrada para Londres onde pesquisaria sobre o livro que escreveria. Foi parar em Guernsey (uma ilha no Canal da Mancha) e dramática como só ela, desistiu da viagem após ficar presa no aeroporto por causa da neblina. Enquanto esperava o vôo foi bisbilhotar a livraria local, resultado? Comprou vários livros sobre a invasão alemão à ilha durante a II Guerra Mundial, e deles surgiu The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society.
Ok, ok mas isso não explica como Annie Barrows entra na história... Na época que o livro chegou a mão das editoras, Mary Ann ficou doente e pediu auxílio a sobrinha Annie Barrows na continuação e edição da história. Mary Ann Shaffer faleceu no início de 2008 com o conforto de que seu primeiro e único livro seria um sucesso!
A história é contada através de cartas, o que faz a história tremendamente intimista. Enquanto viaja divulgando seu livro, Juliet Ashton compartilha suas experiências durante a II Guerra com sua audiência e como naquela época (1946) não havia internet, comunica-se por meio de cartas com seus amigos, e é através delas que conhecemos cada um dos personagens.
Diz o ditado que um obstáculo está superado quando temos a capacidade de rir dele, é exatamente isso o que Juliet faz, faz humor das dificuldades e traumas vividos durante a invasão alemã à Inglaterra, característica que a acompanha durante todo o livro."Pergunto-me como o livro chegou a Guernsey?
Talvez existe algum de tipo um instinto caseiro secreto em livros, que os
trazem para os seus perfeitos leitores."
Toma conhecimento da The Guernsey Literary e Potato Peel Pie Society ao receber uma carta de Dawsey Adams, morador da Ilha de Guernsey. Dawsey teve a sorte de encontrar na livraria local durante a invasão alemã, um livro de Charles Lamb que um dia pertencera a Juliet (que por sua vez, havia escrito seu nome e endereço na contra-capa do livro). Como o livro saiu da Inglaterra e foi para em Guernsey é uma incógnita mas é a partir da primeira carta que a história da Sociedade Literária começa a se desvendar.
A Sociedade Literária e Torta de Pele de Batata de Guernsey foi criada com o intuito de encobrir os jantares regados a carne de porco dos moradores de Guernsey durante a invasão - A aquela altura da guerra, comida se tornou extremamente escassa e os soldados alemãs confiscavam parte dos alimentos para consumo das tropas. Mrs. Maugery teve a idéia de esconder porcos no porão e uma vez por semana, convidava amigos e moradores próximos que sabia estar passando por dificuldades, para participar do banquete. Numa dessas noites, Elizabeth McKenna, Dawsey e John Booker foram flagrados pelos soldados alemães voltando para casa (desrespeitando o toque de recolher)... a esperta Elizabeth rapidamente bolou uma desculpa, estavam na casa de Mrs. Maugery participando de uma Sociedade Literária.
Notícias da Sociedade Literária chegaram aos ouvidos dos oficiais alemães que prometeram uma visita. Elizabeth e Mrs. Maugery não viram outra solução senão a de comprar e emprestar o maior número de livros possíveis e "fingir" ter uma Sociedade Literária caso os oficiais aparecessem... E assim aconteceu a primeira reunião... E desde então, uma vez por semana os moradores se reunem, mesmo depois da partida dos alemães e do fim da guerra porque no final, cada um descobriu uma paixão secreta pela leitura. Leitura de qualquer tipo, alguns liam livros de receitas, outros de agricultura, outros preferiam as biografias, outros as poesias... os romances, os históricos... cada um descobriu sua identidade literária, argumentando e defendendo suas idéias e pontos de vistas.
"Após dois membros terem lido o
mesmo livro, eles argumentam, o que é o nosso grande deleite. Nós lemos
livros, conversamos livros, argumentamos sobre os livros, e nos tornamos mais e mais queridos um pro outro." (Pag. 51)
Convidada pela TIMES para escrever um artigo que viraria livro, Juliet tem a idéia de escrever sobre a Sociedade Literária, sua criação e a II Guerra do ponto de vista de Guernsey. Recebe dezenas de cartas de outros moradores contandos suas experiências sobre a guerra e como tornaram-se membros da Sociedade Literária. Aos poucos Juliet foi se envolvendo com a história da ilha, compartilhando as emoções dos escritores. Sua curiosidade foi tanta que decidiu visitar Guernsey e nunca mais saiu de lá.
Não posso esquecer de mencionar a heroína da história - Elizabeth - todos os correspondentes tinham uma história pra contar que envolvia Elizabeth, sua coragem desafiadora, sua rebeldia e sua luta para ajudar os moradores de Guernsey, criticada por muitos e amadas por tantos outros, Elizabeth tem sua história contada através da vida daqueles a quem ela ajudou. Foi aprisionada e deportada para um campo de concentração alemão mas deixou um fruto... Kit, sua filha. Fruto de sua paixão por um soldado.
Nunca é possível conhecer os verdadeiros dramas de uma guerra a não ser que se seja um dos personagens... pouco se sabe do sofrimento daqueles soldados alemães também, quando falam de II Guerra Mundial, falam do massacre aos judeus, falam de Hitler e se tem uma coisa que me irrita (e já irritava antes mesmo de ler esse livro) é o fato de parecer que os judeus estão sempre tentando esfregar na cara do mundo o quanto sofreram naquela guerra.
Veja bem, não sou contra judeus, não estou dizendo que os atos cometidos contra eles não são repulsivos e cruéis... SIM, são. Mas também não se pode esquecer que eles não foram os únicos a sofrerem com a II Guerra, muitos franceses, italianos, ingleses, e os próprios alemães, foram mortos e torturados e tiveram suas famílias desfeitam por causa da guerra. E nem todos os alemães concordavam com as ações de Hitler, nem todos os seus soldados foram cruéis e desumanos e muitos estavam ali para evitar que suas famílias fossem massacradas pela Fúria.
E Elizabeth sabia desse fato, sua paixão por Christian Hellman não foi uma traição aos seus princípios e ideais. Planejavam casar quando a guerra terminasse, e o fariam, se o navio alemão que levava Christian de volta a Alemanha não tivesse naufragado.
Juliet tem uma ligação forte com a história de Elizabeth, e consequentemente com Kit, cuidada com tanto amor e atenção por todos os amigos de Elizabeth, que a protegem e educam.
A vida em Guernsey é simples, vida de interior, mas é tudo que Juliet precisa depois de anos na loucura de Londres. Morando na casa que um dia fora de Elizabeth, Juliet tenta pensar como ela, sentir como ela, para escrever seu livro com Elizabeth como narradora, tem esperanças de que Elizabeth voltará a qualquer momento para retomar a vida onde parou... No final descobrem que Elizabeth fora morta no campo de concentração. Kit agora órfã é adotada por Juliet, que nega o pedido de casamento de Mark... e no final casa com Dawsey.
É incrível como o leitor termina com uma relação de intimidade com os personagens do livro, parece que os conhecemos de longa data, parecem nossos amigos de infância. É uma história de sobrevivência e heroísmo, de traumas e sofrimento mas ao mesmo tempo engraçada e tocante. Uma linda celebração à Leitura e como ela ajuda a aproximar as pessoas em tempos difíceis.
"Isso é o que eu amo em livros: uma coisinha te
interessa em um livro, e essa coisinha vai te levar a outro livro, e alguma
outra coisinha lá vai te levar a um terceiro livro. É geometricamente
progressivo - tudo sem um final a vista, e não por outro motivo a não
ser puro prazer." (pag. 12)
Alguns dos livros citados em The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society:
- Selected Essays of Elia (Charles Lamb)
- Selected Letters (Charles Lamb)
- Wuthering Heights/O morro dos ventos uivantes (Emily Bronte)
- The Pickwick Papers (Charles Dickens)
- Ill-Used by Candlelight (Amanda Gillyflower)
- Jane Eyre (Charlote Bronte)
- Agnes Grey (Anne Bronte)
- Shirley (Charlotte Bronte)
- The Tenant of Wildfell Hall (Anne Bronte)
- Selections from Shakespeare
-Poetry (Wilfred Owen)
- Poems (William Wordsworth)
- The Oxford book of Modern Verse (W. B. Yeats)
- The Letters of Seneca (Lucius Seneca)
- Past and Present (Thomas Carlyle)
- Meditations (Marcus Aurelius)
- Elspeth the Lisping Bunny (acredito que Shaffer ou Barrows inventou esse, porque não achei em lugar nenhum, a não ser no livro! - com esse título também, há de se esperar - Elspeth o Coelho da Língua Presa)
- Pride and Prejudice (Jane Austen)
- The Canterbury Tales (Geoffrey Chaucer)
- The Sir Roger de Coverley Papers (Joseph Addison & Richard Steele)
3 comments:
Finalmente consegui me inscrever como tua seguidora, assim posso ver as novidades que vc anda escrevendo por aqui. bjo Si
Parece uma leitura bastante interessante. Anotei a dica. Bj
Que resenha adorável! Amei. E amei o livro... quero ler logo. Já estou seguindo, adorei o blog! :)
Beijos!
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