Acredito que estava da 6ª série quando declamei esse poema numa peça da escola na semana do Meio Ambiente. Lembro que competi com um garoto pelo papel e ganhei porque consegui encenar e entonar melhor as frases do poema de Bandeira - vocês não tem noção da menina tímida que era! Memorizei cada linhazinha por mais de um mês e ensaiamos semanas e semanas para essa apresentação. Enquanto eu declamava Bandeira, meus colegas de classe se movimentavam pelo palco encenando, como se minhas palavras estivessem tomando forma bem ali, diante de mim e dos espectadores. Minha mão suada, minhas pernas tremendo, olhava para minha professora esperando o ok para começar. Comecei. Lembro vagamente de ver alguém sinalizando para eu levantar o microfone mais perto da boca. Recitei essas linhas tão intensamente, veio tão de dentro de mim que no final ajoelhei no chão ao dizer as últimas palavras... ''era um homem''. Esse poema vive comigo até hoje, tantas vezes durante esses mais de dez anos me peguei recitando essas linhas na minha mente e lembrando de alguém fazendo o gesto para levantar o microfone... e eu nervosa mas bravamente declamando Manuel Bandeira.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
No comments:
Post a Comment