Tuesday, November 30, 2010

The Curious Incident of the Dog in the Night-Time (Mark Haddon)

Primeiras linhas:


"Eram 7 minutos depois de meia-noite. O cachorro estava deitado na grama no meio do gramado em frente a casa da Sra. Shear. Seus olhos estavam fechados. Parecia que corria de lado, como aqueles cães quando pensam que perseguem um gato enquanto sonham. Mas o cachorro não estava nem correndo nem dormindo. O cachorro estava morto."


The Curious Incident of the Dog in the Night-Time - O Estranho Caso do Cachorro Morto, em português - relata a conturbada e corajosa vida de Christopher John Francis Boone, um adolescente inglês com síndrome de Asperger, e sua investigação para descobrir quem matou Wellington, o cachorro.

Decidi ler esse livro após lermos Boom! (resenha aqui) para o clube do livro de Agosto. As meninas do clube já haviam lido este e mencionaram quão diferente aquele primeiro livro era em comparação a este. O quanto Haddon havia amadurecido e progredido como escritor. E isso, realmente, ficou claríssimo após ler essa história.

Síndrome de Asperger é um transtorno relacionado com o Autismo (apesar de serem dois transtornos diferentes) onde indivíduos apresentam dificuldades em interação social, bem como padrões repetitivos de comportamento e interesses. A diferença do Autismo se dá no fato de que indivíduos que sofrem com síndrome de Asperger não têm comprometimento ou atraso no desemvolvimento cognitivo e/ou da linguagem, muito pelo contrário, portadores da síndrome apresentam alto nível de inteligência, especialmente em Ciências Exatas. Mas usam a linguagem de forma literal, tendo dificuldade em entender o que não é concreto - metáforas, por exemplo - além de não desenvolverem o lado afetivo, não gostam de ser tocados, abraçados, beijados.

"Os capítulos de um livro são normalmente listados em número cardinais 1, 2, 3, 4, 5, 6 e assim por diante. Mas eu decidi listar meus capítulos em número primos 2, 3, 5, 7, 11, 13 e etc., porque eu gosto de número primos." (Pag. 11)
Como seria ver o mundo através do olhos de uma criança que sofre de Asperger? Quais são os seus medos? Como eles pensam? Como se comportam? E é curioso ler a história através da perspectiva de Christopher e entender o porque de tais comportamentos e como agir diante portadores da síndrome (caso um dia tenha que interagir com um) para que eles não se sintam coagidos ou em perigo.

Christopher estuda em um colégio para crianças especiais. A mãe abandona o pai pouco tempo antes de incidente com o cachorro, não mais suportanto conviver com o peso de uma criança especial. O pai, enfurecido e envergonhado, informa ao filho que a mãe morrera de parada cardíaca e assim passa a cuidar do filho sozinho. E tudo iria voltar à rotina normal, se Christopher não tivesse encontrado Wellington morto em frente à casa da Sra. Shear. Sendo ele apaixonado por cães, e por sua postura de querer sempre os fatos muito bem explicados, Christopher decide investigar a morte do cachorro, e por sugestão de sua professora, decide escrever esse livro relatando os fatos e progressos da investigação... e é durante a investigação que toda verdade vem à tona e os sintomas da Síndrome de Asperger tornam-se mais gritantes no comportamento do nosso protagonista.


Haddon fez um trabalho maravilhoso em The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, é uma história única, excêntrica, e inteligente. Christopher é tão detalhista, quer tudo tão do seu jeito - não come se uma porção da comida encostar na outra, tudo tem que estar separado; não come nada marrom ou amarelo; não fala com estranhos, detesta visitar lugares diferentes, a vida precisa seguir uma rotina, saber onde vai, que horas vai, quando volta, o que vai fazer, etc, etc - que as vezes irrita ler suas peculiaridades, mas é exatamente esse fato que Haddon quer explicitar, o quão dolorido e difícil é para um portador da Síndrome quando um detalhe está fora de lugar, quando uma mentira é contada, quando o arroz encosta na salada, quando Christopher vê 3 carros amarelos um atrás do outro em um dia.

É um livro especialmente interessante para outros adolescentes, para entender e saber respeitar as diferenças, o espaço de cada um, a aceitar que há sempre o que aprender com o outro, que ser especial não é contagioso e não é motivo de vergonha, e não deve ser motivo para piada ou exclusão.
"Decidi que vou descobrir quem matou Wellington mesmo depois de Papai dizer para não me envolver nos problemas dos outros (...) E isso é porque quando as pessoas te dizem o que fazer, pra mim é confuso e não faz sentido. Por exemplo, adultos sempre dizem "Fica queito!", mas eles não dizem por quanto tempo querem que alguém fique quieto".

Saturday, November 27, 2010

Poema de Sábado

Na última quinta-feira foi Dia de Ação de Graças - Thanksgiving Day - aqui nos Estados Unidos. Pela primeira vez tivemos a ceia em nossa casa. Queridos amigos na mesma situação que eu (família longe), e os poucos parentes do marido compareceram para celebrar conosco. Amo receber amigos em casa, especialmente porque cresci em uma familia enorme, onde nos reuniamos todos os finais de semana (ainda reunem!), uma família onde irmãos são melhores amigos e se gosta de estar junto... e para mim é uma enorme diferença, até mesmo um vazio, fazer parte de uma família onde o marido é filho único e os parentes mais próximos são primos de 3º, 4º grau... Por esse motivo eu me deleito quando podemos recebê-los em casa, todo mundo reunido, barulho, conversa, risadas e taças e taças de Moscato.

Com Thanksgiving vem o Outono, as folhas aos poucos tornam-se laranja e em breve marrons e logo, logo, só veremos galhos... Thanksgiving me faz lembrar que em poucas semanas o Natal chega e o ano já se foi... E assim eu lembrei de Emily e o poema que hoje compartilho com vocês.

Autumn.
Outono.

THE morns are meeker than they were,
AS manhãs são mais mansas que outrora,
The nuts are getting brown;
Marrons estão ficando as castanhas;
The berry's cheek is plumper,
O rosto das frutas roliços estão,
The rose is out of town.
Enquanto as rosas partem dessa estação.

The maple wears a gayer scarf,
A macieira veste um gorro cinza,
The field a scarlet gown.
Os campos um vestido vermelho.
Lest I should be old-fashioned,
Para que eu não fique fora de moda,
I'll put a trinker on.
Vestirei eu meu ornamento.

Emily Dickinson,
 Emily Dickson Poems, pag. 56.

Sunday, November 21, 2010

Poema de Sábado (no Domingo!)

As vezes é difícil perceber o quanto uma pessoa faz falta quando se vê aquela pessoa diariamente.
Quando a distância física se faz presente, aquele espaço vazio na cama na hora de dormir, o café da manhã sozinha, voltar para casa do trabalho para uma casa vazia, faz com que percebamos o quanto a presença daquela pessoa faz falta. É como se minha vida estivesse em pausa durante a semana... e na Sexta-feira eu aperto o botão do PLAY no meu controle remoto da minha vida. É, Sexta-feira, quando busco o marido no aeroporto, após longos e solitários dias de ausência, que minha vida volta ao normal por 2 dias e eu me sinto completa... a cama não mais vazia, o café da manhã com gostinho de casa feliz, e nesses dois dias quando acordo com a minha outra metade ao meu lado, eu lembro da Elizabeth e suas doces palavras que descrevem tudo o que eu não consigo expressar com minhas próprias palavras. Os dois dias que me fazem perceber: "How I do love thee"...

How Do I Love Thee? (Sonnet 43)

How do I love thee? Let me count the ways.
Como amo-te? Deixa-me contar os modos.
I love thee to the depth and breadth and height
Amo-te com toda a profundeza e fôlego e altura
My soul can reach, when feeling out of sight
Que minha alma pode alcançar, quando nem mais se pode ver
For the ends of being and ideal grace.
Nos confins do ser e graça ideal.
I love thee to the level of every day's
Amo-te ao limite diário
Most quiet need, by sun and candle-light.
Dos mais calmos desejos, sob o sol e luz de velas.
I love thee freely, as men strive for right.
Amo-te sem limites, como aqueles que lutam por seus direitos.
I love thee purely, as they turn from praise.
Amo-te puramente, como os que rejeitam a glória.
I love thee with the passion put to use
Amo-te com a paixão posta em prática
In my old griefs, and with my childhood's faith.
Nas minhas velhas dores, e crença da infância.
I love thee with a love I seemed to lose
Amo-te com aquele amor que pensei ter perdido
With my lost saints. I love thee with the breath,
Por meus santos perdidos. Amo-te com o fòlego,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,
Sorrisos, lágrimas, de toda minha vida; E, caso Deus permita,
I shall but love thee better after death.
Amar-te-ei ainda mais após a morte.

 (Elizabeth Barrett Browning, poeta Romântica Inglesa)
 
 


Thursday, November 11, 2010

Lost in Austen (Emma Campbell Webster)

Vida de gente grande não é fácil, percebo isso claramente toda vez que precisamos marcar nossa reunião do Bookclub - "Só tenho tempo livre às Quintas e Sextas."; "Só estou disponível às Terças"; "Não estarei disponível na última semana de Outubro"... Isso não acontecia nos meus 19 e pouco... "Quando? Ah, sem problemas, não tenho nada marcado"... era a resposta de sempre.

Por esse motivo, nossas reuniões do Clube do Livro estão ficando cada vez mais escassas, o tempo cada vez mais curto, a única coisa que aumenta é o tamanho da conversa com o grau de intimidade, e eu amo!

Andrea roubou a escolha da Nari e lemos Lost in Auten para o Bookclub de Outubro. O livro parecia super interessante pela descrição da Nari - são várias histórias misturadas, no final de cada capítulo há perguntas ou opções, e de acordo com a decisão do leitor a história muda de rumo, e pode até mudar a história toda.

No início tudo parece muito interessante, até separei uma folhinha para calcular meus pontos para as 5 categorias diferentes que a autora propõe no início da história: Inteligência, Confidência, Fortuna, Conquistas e Conexões. Conforme a história vai se desenvolvendo, o leitor pode ganhar ou perder pontos de acordo com os acontecimentos ou escolhas feitas. Huum... ler sobre Mr. Darcy e ainda pensar que é joguinho... promete né?

Até o ponto que eu não quis ir visitar a Jane, doente, na casa dos Bingley pelo caminho da direita e escolhi a esquerda - encontrei um grupo de ciganos que queria meu dinheiro, eu não ando com dinheiro assim no bolso do meu vestido longo - se é que tem bolso, né? - e os ciganos me espancaram de tal forma que meu rosto ficou tão deformado que nenhum pretendente jamais quis pedir minha mão... realiza!

E história prossegue assim, de forma que você realmente não cria a sua própria história porque a autora meio que manupula o leitor para seguir o curso que ela deseja. Em alguns outros capítulos, tentei fugir da história original mas minha Liz Bennet acabou se transformando naquilo que ela mais criticava na mãe... uma mulher que só pensa em arranjar um bom casamento, buscando fortuna - fugindo totalmente do caráter da minha personagem preferida de todas as obras de Jane Austen. Daí já havia até parado de contar-somar-diminuir os pontos durante a história porque virou um peso...

Todas as meninas do Clube do Livro concordaram que a história se perdeu da idéia original lá pela metade, o que tirou o encanto do propósito de todas nós. A idéia foi criativa mas chegou a um ponto que se desvirtuou do conceito... Eu preferi seguir o roteiro original e optei por, logicamente, casar com o Mr. Darcy... mas dependendo da sua escolha, podes acabar casando com o Mr. Collins, ou personagens de outros livros de Austen que foram misturados à história (Mansfield Park, Sense and Sensibility, Emma e por aí vai).

Sunday, November 7, 2010

Aniversário de Cecília Meireles

Em 7 de novembro de 1901 nascia Cecília Benevides de Carvalho Meireles.
Cecília foi precoce em todos os fatos de sua vida... perdeu o pai aos 3 meses de idade, a mãe aos 3 anos... começou a escrever poesia aos 9 anos, aos 18 veio o primeiro livro.

Corrijam-me se estiver errada, mas Cecília é uma das escritores mais completas da Literatura Brasileira (incluindo os homens na contagem) porque suas obras sofrem influência de diversos movimentos literários... embora estivesse sob influência Modernista, há traços do Simbolismo, Surrealismo, Realismo, Romantismo, e mais tantos outros ISMOS pelo caminho.

Parando o blablabla... vamos à Cecília...

Suavíssima

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
No céu de outono, anda um langor final de pluma
Que se desfaz por entre os dedos, vagamente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
Tudo se apaga, e se evapora, e perde, e esfuma . . .

Fica-se longe, quase morta, como ausente . . .
Sem ter certeza de ninguém . . . de coisa alguma . . .
Tem-se a impressão de estar bem doente, muito doente,

De um mal sem dor, que se não saiba nem resuma . . .
E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
A alma das flores, suave e tácita, perfuma
A solitude nebulosa e irreal do ambiente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
Tão para lá! . . . No fim da tarde . . . além da bruma . . .

E silenciosos, como alguém que se acostuma
A caminhar sobre penumbras, mansamente,
Meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma . . .

Põem-se a tecer frases de amor, uma por uma . . .
E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .

Saturday, November 6, 2010

Poema de Sábado

Song

When I am dead, my dearest,
Quando eu morrer, meu querido,
Sing no sad songs for me;
Não me cante músicas tristes;
Plant thou no roses at my head,
Não me plante rosas na cabeã,
Nor shady cypress tree:
Nem cipestre para sombra fazer:
Be the green grass above me
Que seja a grama verde em cima de mim
With showers and dewdrops wet:
Com chuvas e gotas de orvalho:
And if thou wilt, remember,
E se por acaso, lembrares,
And if thou wilt, forget.
E se por acaso, esquecere.

I shall not see the shadows,
Não verei eu as sombras,
I shall not feel the rain;
Não sentirei a chuva;
I shall not hear the nightingale
Não ouvirei eu o pássaro da noite
Sing on as if in pain:
A cantar como se com dor:
And dreaming through the twilight
E sonhando até o crepúsculo
That doth not rise nor set,
Que não clareia nem escurece,
Haply I may remember,
Feliz então lembrarei,
And haply may forget.
E feliz então esquecerei.

(Christina Rossetti, The best Poem
of the English Language, pag. 710)