Wednesday, June 30, 2010

A tree grows in Brooklyn (Betty Smith)

Gente, terminei de ler esse livro ontem e, mesmo sendo a escolha do Bookclub para o mês de junho (e a reunião ainda nem aconteceu), tive que vir aqui comentar com vocês.

É a primeira obra que leio de Betty Smith, e agradeço muitíssimo a Nari por ter escolhido um livro tão rico para discussão.

A tree grows in Brooklyn, Uma árvores cresce no Brooklyn - Título oficial em português: Laços Humanos conta a história da família Nolan... mais precisamente de uma menininha chamada Francie, a filha mais velha de Johnny e Katie Nolan.

Os Nolan são uma família super pobre, ambos pais de Johnny e Katie vieram da Irlanda antes da Primeira Guerra em busca de uma vida melhor na América, fazendo do Brooklyn sua morada. Acontece que a vida na América não é o sonho que se desejava, o cenário é de miséria, fome, escassez de toda e qualquer forma mas não de união familiar.

"Francie achava que todos os livros do mundo estavam naquela biblioteca e ela havia planejado ler todos os livros do mundo. Ela estava lendo um livro por dia em ordem alfabética e nem mesmo pulando os livros secos. Ela lembrava que o primeiro autor foi Abbot. (...) Mas Francie era uma leitora. Lia tudo que achava: bobagens, clássicos, tabelas e lista de compras". (pag. 22)
Johnny é o galã que toda mulher desejava... Katie encantada com a voz de veludo e o charme do irlandês loiro de olhos azuis, rouba Johnny da amiga e os dois casam quando ela tem apenas 17 anos, e ele 19... a vida é dura, cheia de sacrifícios mas ali há amor... até que Katie engravida e Johnny não sabe lidar com o fato de que será pai mesmo ainda sentindo-se, ele mesmo, uma criança. É quando o vício do alcool bate à sua porta, acompanhando-o daí por diante.

Katie é figura materna e paterna para os filhos, ela é o esteio da família mas tem Neely como seu favorito. Johnny apesar de ausente, é adorado pelos filhos, principalmente por Francie... sua presença em casa é marcada por música, por belas canções, por compreensão... ele é a parte sensível, Katie o braço forte.

"(...) 'Eu bebo porque eu tenho responsibilidades que não posso suportar'. Houve uma pausa longa. Então ele sussurrou, 'Não sou um homem feliz. Tenho uma esposa e filhos e acontece que eu não sou do tipo que trabalha duro. Nunca quis uma família." (pag. 35)
Um ano após Francie, nasce Neely... Katie que já havia tomado as rédeas da família, trabalha em dobro, dia e noite limpando casas, escovando chão e ainda assim, mantendo a família junta, os filhos lendo um trecho da Bíblia e de Shakespeare cada noite... sim, porque Katie acredita que o futuro dos filhos apenas mudará se eles tiverem EDUCAÇÃO, foi esse o conselho dado por sua mãe Mary, que mesmo sendo analfabeta, buscou uma vida melhor para suas três filhas - Evy, Sissy e Katie, mesmo com a violência e machismo do marido Thomas.

"Educação! é isso! É educação que faz a diferença! Educação os colocará fora dessa vida de miséria e sujeira. Prova? A senhorita Jackson foi educada, a McGarrity não foi. Ah! Isso que Mary Rommely, sua mãe, tem tentado dizer todos esses anos. Só que sua mãe não soube usar a palavra clara: educação!" (pag. 207)
A história é encantadora, muito fácil de se identificar... muitas partes me deixaram arrepiadas e com lágrimas nos olhos, principalmente pela luta de Katie para que os filhos não sofressem o que ela sofreu, para que, através da educação, seus filhos tivessem uma vida melhor, com base para buscar novos caminhos... Francie e Neely foram os primeiros membros da família Nolan a receber um diploma de ensino fundamental... um orgulho que dinheiro nenhum pode pagar... e a faculdade? Será este um sonho possível?

A tree grows in Brooklyn é um livro que faço questão que meus filhos leiam e indico para pais e filhos... é uma obra maravilhosa, de uma intensidade e sensibilidade indescritíveis... de uma sabedoria popular e simples mas com uma profundidade ilimitada. Betty Smith entrou para minha lista de escritores favoritos e essa obra, particularmente, entrou para minha lista dos dez melhores!

A obra teve uma adaptação para o cinema, lançado em 1945, e virou musical na Broadway em 1951.

Saturday, June 26, 2010

Poema de Sábado

"Tédio bom, tédio conselheiro, tédio
          Da vida que não é
E para a qual há sempre bom remédio
          Do bar do "Rebelais"."

(Vinícius de Moraes, Nova Antologia Poética, pag. 200)

Monday, June 21, 2010

Aniversário de Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1939 e até hoje é considerado um dos maiores escritores da Literatura Brasileira. Lembro que li forçadamente Quincas Borbas e Memórias Póstumas de Brás Cubas - benditas professoras de Literatura! Mas quando chegou a vez de Dom Casmurro eu já tinha me rendido ao estilo de Machado de Assis!
O poema escolhido é 1864, de Crisálidas.

Horas Vivas

Noite: abrem-se as flores...
Que esplendores!
Cíntia sonha amores
Pelo céu.
Tênues as neblinas
Às campinas
Descem das colinas,
Como um véu.

Mãos em mãos travadas,
Animadas,
Vão aquelas fadas
Pelo ar;
Soltos os cabelos,
Em novelos,
Puros, louros, belos,
A voar.

— “Homem, nos teus dias
Que agonias,
Sonhos, utopias,
Ambições;
Vivas e fagueiras,
As primeiras,
Como as derradeiras
Ilusões!

— Quantas, quantas vidas
Vão perdidas,
Pombas mal feridas
Pelo mal!

Anos após anos,
Tão insanos,
Vêm os desenganos
Afinal.

— “Dorme: se os pesares
Repousares,
Vês? – por estes ares
Vamos rir;
Mortas, não; festivas,
E lascivas,
Somos – horas vivas
De dormir!” –


Saturday, June 19, 2010

Poema de Sábado - José Saramago

Confesso que as palavras me faltam nesse momento. A literatura perdeu ontem uma grande voz, o jornalismo, um grande argumentista, o mundo, um grande talento. Nosso poema de hoje em homenagem a ele, José Saramago (1922-2010).

Passado, Presente, Futuro

Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.

Monday, June 14, 2010

Alice's Adventures in Wonderland & Through the Looking-Glass (Lewis Carroll)

Decidi ler Alice's Adventures in Wonderland & Through the Looking-GlassAs aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através do Espelho pelo óbvio motivo: o filme que foi lançado esse ano.

"Não podes?" falou a Rainha com voz de pena. "Tenta de novo: respira fundo, e fecha os olhos"
Alice riu. "É inútil tentar," disse ela: "ninguém pode acreditar em coisas impossíveis."
"Devo dizer que não tens muita prática," disse a Rainha. "Quando eu era da sua idade, sempre fazia isso meia-hora por dia. Eita, e algumas vezes eu chegava a acreditar até em seis coisas impossíveis antes mesmo do café da manhã. E lá se vai meu chale de novo!" (pag. 176 - "Through the looking-glass)
Lendo o livro lembrei da observação da Cris do Crisalidades quando ainda na faculdade, de que o Lewis Carroll provavelmente tava drogadão quando escreveu Alice no País das Maravilhas (rs), porque, pelo menos no filme, as aventuras de Alice são dignas de usuários de alucenógenos. Intrigante! Mas hoje entendi de uma outra forma...

Acredito que Lewis Carroll tinha certo conhecimento dos Estágio do Desenvolvimento Infantil, apesar que sua vida foi cheia de controvérsias e até hoje não se sabe se ele realmente foi usuário de drogas e seu relacionamento com crianças, Alice apresenta todas as características de crianças da sua idade, a criação do mundo imaginário é um deles, o falar sozinho é outro - ajuda no desenvolvimento da linguagem, é como uma auto-afirmação. Tenho visto muitas Alices na escola em que faço trabalho voluntário, noto muitas similaridades com as aventuras de Alice durante nossas peças dramáticas. Crianças aprendem através de experimentos, do fazer para aprender, o que acontece com Alice no livro "Through the Looking-glass / Através do espelho"

O que senti falta em todas as versões do livro para o cinema, foi a inclusão de poesias, há poemas engraçadíssimos em ambas as histórias que li, fora que os diálogos que Alice trava consigo mesma e com seus gatos são hilários e não tem filme que consiga adaptar isso. Achei interessante como o Tim Burton adaptou parte da história do livro "Through the Looking-glass" na nova versão de Alice, apesar que seria engraçadíssimo ter incluído na nova versão como os eventos ocorrem no mundo "através do espelho" e incluído o personagem do cavaleiro inventor, digno de muitas gargalhadas.

"(...) Bem então, os livros são parecidos com os nossos livros, apenas as palavras são escritas do lado errado: eu sei disso, porque eu segurei um dos nossos livros em frente ao espelho, e então alguém segurou um livro do lado de lá também" (pag. 131, Through the looking-glass)

Saturday, June 12, 2010

Poema de Sábado

Havia esquecido totalmente que hoje é o dia dos namorados no Brasil... comemorei em Fevereiro e risquei do calendário... dããã!
Porém, retribuindo a visita do blog Queria morar numa livraria, deparei-me com um poema lindíssimo de Camões... encaixa-se perfeitamente na data de hoje e no dia de poemas aqui do blog. Obrigada Lia!

Feliz dia dos Namorados aos casais apaixonados desse Brasil... Feliz dia dos Namorados para o meu maridinho!

Amor é um fogo que arde sem se ver

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

(Luis Vaz de Camões, 1524-1580)

Friday, June 11, 2010

Water for Elephants - Filme


Eu já havia lido artigos sobre a possível versão para o cinema do livro Water for ElephantsÁgua para Elefantes - de Sara Gruen (resenha aqui), a possibilidade agora é realidade e as gravações começaram em abril... não sei se fiquei feliz com quem escolheram para o papel de Jacob - Robert Pattinson, o vampiro da saga Twilight - confesso que esperava alguém mais experiente e menos "ídolo-teen" para protagonizar um personagem rico como Jacob - vendo por outro lado, talvez esse filme mude o rumo da carreira de Pattinson e faça com que EU e os críticos o vejam além do Edward. Marlena será interpretada por Reese Witherspoon.

No site Robert Pattinson News foi postado várias fotos dos bastidores, e o lançamento do filme está previsto para 2011!
Para aqueles que ainda não leram o livro, ainda há tempo... e como é de conhecimento de todos, as versões cinematográficas sempre tratam as obras muito superficialmente. Então, mais uma razão para ler o livro antes de assistir o filme... para ter real conhecimento dos fatos.

Tuesday, June 8, 2010

East of Eden (John Steinbeck)

 Primeiras linhas:


"O Vale de Salinas está localizado no Norte da Califórnia. É uma campina longa e estreita entre duas montanhas, e o Rio Salinas sopra e se retorce pelo centro delas até finalmente chegar na Baía de Monterey"


"O Salinas era um rio intermitente. No
verão ele virava subterrâneo. Não era
um bom rio mas era
o único que tínhamos e então nos
gabávamos dele..."
Finalmente meu Bookclub conseguiu se reunir para discutir East of Eden - Vidas Amargas e A leste do Paraíso, em português (BR e PT). Preparamos uma pequena viagem para Salinas, cidade cenário da obra. Visitamos o Museu John Steinbeck, a casa onde ele nasceu e viveu até a adolescência e por fim, visitamos o mausoleu da família Hamilton/Steinbeck.

Primeiro quero dizer que foi uma delícia ler esse livro, a história é super longa, o livro é divido em quatro partes e demorei mais de um mês lendo. Steinbeck escreveu East of Eden para deixar como legado aos seus filhos, a história misturas fatos reais e fictícios, mas o desejo principal do autor, foi deixar registrado a história de lutas, desastres, união e conquistas da sua família e da terra que tanto amava.
Samuel e Liza Hamilton

Steinbeck começa contando a jornada de seu avó Samuel Hamilton e avó Elizabeth "Liza" Hamilton, imigrantes irlandeses, que chegaram à Califórnia pouco antes daquela fase da descoberta de ouro por aqui, e buscaram morada em King City, cidadezinha próxima a Salinas. De Samuel e Liza nascem: Tom, Dessie, George, Mollie, Will e Olive - Olive casa com Earnest Steinbeck, e eles são os pais de John Steinbeck

O que encanta na história é a descrição detalhadíssima da paisagem de Salinas, incluindo as mudanças em cada estação do ano, Steinbeck descreve com tamanho capricho que me peguei sentindo o cheiro do mar, das flores, o calor do sol do verão, a aridez durante a seca, e a felicidade durante a chuva.

Mas a obra não conta apenas a história da família de Steinbeck, através das linhas do autor aprende-se sobre a História da Colonização da Califórnia, política, religião, o pré e o pós-guerra, peculiaridades e particularidades que só quem viveu ou ouviu tais histórias de seus ancestrais poderiam compartilhar com tamanha veracidade e riqueza de fatos.

Casa de Steinbeck - hoje museu
e restaurante.
Nosso personagem mais querido foi Lee, filhos de imigrantes chineses que serve a família de Adam Trask. Lee é um personagem intrigante porque apesar de ter nascido na América, conversa com desconhecidos com sotaque chinês... mais tarde Lee torna-se grande amigo e admirador de Samuel Hamilton e os dois travam os melhores diálogos da obra, e é quando Lee se abre e expõe seu inglês perfeito, sem qualquer sotaque - a máscara do sotaque é como um escudo protetor, Lee o usava porque era o que as pessoas esperavam dele, a barreira do preconceito de muitos não lhe permitiam ver o Lee além do chinês, infelizmente.


"Foram os olhos, claro, Samuel pensou. Apenas duas vezes na minha vida vi olhos como aqueles - não eram como olhos humanos" (pag. 177)

Segundo mausoléu da
família Hamilton e
Steinbeck

Lee e Samuel têm uma sensibilidade impressionante, eles conseguem ver o que realmente há no interior das pessoas. São pessoas simples mas de sabedoria milenar e com sede eterna por conhecimento. Lee e Samuel são os que conseguem ver o sepulcro que há dentro de Cathy Trask, esposa de Adam Trask, e mãe dos gêmeos Aron e Cal.

East of Eden me fez apaixonar por Steinbeck, esse é um livro que lerei muitas vezes no futuro e aposto que a cada vez descobrirei fatos novos, compreenderei melhor as palavras do autor. Steinbeck teve como intuito deixar um legado aos seus filhos sobre a sua família... mas para mim, ele deixou um legado à humanidade!

Saturday, June 5, 2010

Poema de Sábado

Who?

MY friend must be a bird,
MEU amigo deve ser um pássaro,
Because it flies!
Porque voa!
Mortal my friend must be,
Mortal meu amigo deve ser,
Because it dies!
Porque morre!
Barbs has it, like a bee,
Pelos também tem, como uma abelha,
Ah, curious friend,
Ah, curioso amigo,
Thou puzzlest me!
Deixas-me confusa!

(Emily Dickinson,
Emily Dickinson POEMS, pag. 198)

Tuesday, June 1, 2010

...

"A máquina mais tecnologicamente eficiente que o homem já inventou foi o livro".
(Northrop Frye, crítico literário canadense, 1912-1991)

*Foto: Praia San Andreas, Santa Cruz, CA.