Thursday, June 4, 2009

The book of laughter and forgetting (Milan Kundera)

Esse é o segundo livro que leio do Milan Kundera, o primeiro - The unbearable lightness of being - A insuportável leveza do ser - marcou a minha vida com aquela personagem adorável e sofrida, que carregava com orgulho Ana Karenina embaixo dos braços por onde quer que fosse. Ainda não comentei sobre esse aqui, não sei o porque, mas o farei em breve.

The book of laugher and forgetting - O livro da risada e esquecimento - relata fatos e histórias ocorridos no período da repressão comunista e a invasão Russa em Praga, capital da República Tcheca, começando em 1948.

O interessante é que Kundera mistura histórias fictícias com realidade, a sua realidade durante o período sombrio em que jornalistas, escritores, professores universitários, filósofos, poetas e demais cidadãos que não concordassem com o sistema comunista, eram perseguidos, presos e muitas vezes mortos, ou viam-se obrigados a abandonar o país, buscando exílio em países vizinhos.

Sendo um deles, Kundera perde o privilégio de trabalhar e tendo conhecimento de que os invasores russos proibiram qualquer um de o empregar, começa a escrever uma coluna astrólogica (rs) semanal numa revista de grande circulação, usando o pseudônimo de "importante físico nuclear"... tudo isso à pedido de R. (uma jovem tímida, delicada e inteligente, editora da revista).

''A única parte divertida disso era a minha existência, a existência de um homem apagado da história, da referência literária de livros, e até da lista telefônica, um cadáver trazido de volta à vida na incrível reincarnação de um pregador fazendo sermão a milhões de jovens socialistas nas suas grande verdades astrológicas''

Durante o período em que escreveu a coluna Kundera recebeu o pedido para fazer o mapa astral de um oficial do alto escalão comunista (secretamente, claro!). Não durou muito tempo, R. foi pressionada pelo sistema para revelar a identidade do físico nuclear. Temendo pela vida dos seus amigos e principalmente de R., Kundera abandona Praga a caminho de Paris.

As histórias são as mais variadas possíveis... a história de Gottwald, um líder da revolução que havia sido morto, junto com os seus... e dele só restava a boina.

A história de Mirek que um dia fora líder e agora via-se seguido onde quer que fosse, durante muitos anos foi amante da feia e velha Zdena que agora derramava lágrimas por Masturbov.

Marketa e Karel recebem a visita da mãe de Karel. Marketa que nunca gostara da sogra por ter sido destratada enquanto morava com ela, vê-se obrigada a recebê-la em sua casa após tantos anos. A visita coincide com uma das visitas da amiga (apresentada como prima) Eva, que visita de tempos e tempos para apimentar a relação de Marketa e Karel - Eva na verdade é amante de Karel, que fez um esquema para que a amante e a esposa se conhecessem, virassem amigas e tivessem ''suas festinhas'' para melhorar a relação - sexo grupal.

As duas estudantes americanas em Praga, Michelle e Gabrielle, tem como tarefa de casa analisar e apresentar perante a classe o texto de Ionesco - Rhinoceros. Equivocadas nas suas análises, vêem seus colegas de classe às gargalhadas no dia da apresentação. Humilhadas e aos prantos, percebem a professora - Madame Rapahel - também às gargalhadas por ter confundido os prantos e o movimento do corpo das alunas como a dança que ela sempre quis dançar e nunca teve coragem. A história termina com a professora e as alunas em círculo dançando e gargalhando.

''Um homem possesso pela paz jamais para de sorrir"

O único personagem que Kundera realmente diz criar é Tamina - "Bem, dessa vez, só para deixar claro, minha heroína pertence a mim e somente a mim (...) Eu a imagino alta e bonita, 33 anos, e nascida em Praga." (pag. 79)

Tamina tem uma história sofrida, abandonou Praga com o marido Mirek após a invasão, deixando para trás não só a família, as lembranças, mas também da sua vida, percorreram várias cidades Européias até a morte de Mirek, trabalha como garçonete num café numa cidadezinha provinciana no oeste europeu. Deposita suas esperanças de ter de volta as cartas escritas pelo marido e deixadas em Praga em Bibi e Hugo, o que não acontece. Seu irmão, com quem não fala a anos é responsável pelo resgate das cartas da casa da sogra, agora nas mãos de seu pai, informada que as cartas foram lidas. É como se tivessem invadido sua vida, devastada jura nunca mais ver o pai e o irmão. Ao tentar fugir para uma vida sem dores, vê-se numa ilha cercada por crianças, por ser o único adulto na ilha, é vítima da curiosidade sexual das crianças, que a abusam e dão prazer. Morre ao tentar fugir da ilha.

Kundera tem essa forte característica de ser extremamente sexual, o tema é abordado abertamente e sem pudores ou tabus em várias histórias, incluindo a de Jan, que ao saber que deixará o país, decide participar da festa na casa Bárbara, conhecida por promover noites de orgias. Jan quer cruzar a fronteira, não apenas a fronteira que separa dois países, mas a fronteira da liberdade sexual, a fronteira que libera seus desejos mais secretos, dos desejos que ele não mais quer controlar, reprimir.

Essas e outras histórias ilustam o livro de Kundera, é difícil falar de todas elas mas o que é interessante no livro é a mistura de ficção e realidade, de prazer e sofrimento, comicidade e aquela sensação de ridículo das situações da vida. Momentos que nos trazem alegrias, outros em que "rimos para não chorar", e tantos outros que são bem melhores longe da nossa memória.

Se você não consegue separar seus princípios, sejam religiosos, éticos, morais, etc., quando ler um livro, é melhor nem começar a ler porque alguns podem se chocar com o estilo de Kundera mas para aqueles que lêem por prazer... Kundera é uma surpresa, provocante, ardente sem esquecer das dores, desamores e desastres de uma guerra.

"Romances gráficos são frutos da ilusão humana que nos fazem entender o ser humano"

(Milan Kundera)

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