Tuesday, October 7, 2008

A hora da estrela - Clarice Lispector


Conheci as obras da Clarice Lispector nas aulas de Literatura do 2º ano no Ensino Medio quando li Laços de Familia, apaixonei pelo jeito critico, comico e direto dos seus livros. A hora da estrela me lembra O lustre (outra obra da Clarice) em muitos aspectos principalmente o final, uma obra unica! Vale a pena ler...

A historia eh contada em primeira pessoa por um narrador-personagem chamado Rodrigo S.M. que por sua vez eh apaixonado pela "estrela" do livro, uma moça do sertao de Alagoas que "nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de um nao-sei-o-que com ar de se desculpar por ocupar espaço", perde os pais muito cedo e eh criada por uma tia carrasca.

Apos a morte da tia, muda-se para o Rio de Janeiro e apesar de ter estudado apenas ateh o 3º ano primario "a moça ganhara uma dignidade: era enfim datilografa"(pag. 15). O nome da moça? MACABEA! O que soh se descobre na pag. 43. E Macabea nao tem nenhuma graça pois falta-lhe o jeito de se ajeitar, era calada por nao ter o que dizer, aceitava a vida que tinha porque era assim mesmo, eh tola, feia e magra de da do, e que "como uma cadela vadia era teleguiada exclusivamente por si mesma. Pois reduzira-se a si" (pag. 18), "trata-se de uma moça que nunca se viu nua porque tinha vergonha", "Ninguem olhava para ela na rua, ela era cafe frio" (pag. 27).

Dividia um quarto com mais quatro moças (Maria da Penha, Maria Aparecida, Maria Jose e Maria - apenas) balconistas das Lojas Americanas, num velho sobrado da Rua Acre entre prostituas que serviam marinheiros, depositos de carvao e cimento em po. Gasta horas e horas da sua noite ouvindo a Radio Relogio (que dava a hora certa e cultura), no intervalo das gotas de minutos ouvia os anuncios (adorava anuncios) e os ensinamentos que talvez um dia viesse precisar saber: "assim aprendeu que o Imperador Carlos Magno era na terra dele chamado Carolus" (...) " Ouvira tambem que o unico animal que nao cruza com filho era o cavalo".

Durante uma chuva encontra o paraibano Olimpico de Jesus, apaixona-se, e vivem um namoro ralo. Achava-o muito sabedor das coisas principalmente quando ele usava palavras dificeis como quando numa conversa disse a ela: "Voce tem cara de quem comeu e nao gostou, nao aprecio cara triste, ve se muda de EXPRESSAO", nao sabia o que era expressao e nem " 'e'lgebra", "eletronico", "cultura", "renda per capita"... palavras ouvidas na Radio Relogio. Desse modo Macabea vai passando pela vida... por passar.


Pra saber o que acontece com a pobre Macabea, Olimpico e o narrador-personagem: leiam o livro, claro!

Clarice mostra de modo comico a vida de pessoas que, como Macabea, conformam-se com o pouco que tem "porque a vida eh assim mesmo", talvez por desamparo ou falta de oportunidade, talvez por nao saber como mudar ou por onde começar e assim a vida vai passando e se apenas se existe, aceitando os contras e nao lutando pelos pros.

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