Thursday, December 23, 2010

Final de Ano e afins

Gente do céu, eu abandonei meu blog completamente esse mês. Que vergonha!
Dezembro deve ser o mais corrido para todo mundo, ainda não consegui terminar de ler o livro escolhido para o BookClub de Dezembro - The Mistery of Edwin Drood, sendo que a primeira reunião já aconteceu (e nenhuma de nós conseguiu ler o livro todo) e a segunda reunião tá chegando e eu não estou nem na metade.

Mas eu amo Dezembro, amo essa época de Natal. Amo as casas decoradas, as luzes, o frio, a empolgação de todos, as comidas, a troca de presentes... é minha temporada favorita - "It's the most wonderful time of the year"...
E com Dezembro também temos a Feira de Natal do Charles Dickens, que já está virando tradição no BookClub. Esse é o segundo ano que participo, e como regra, temos que ler um livro do Charles Dickens para discutirmos durante a feira de Natal. Ano passado comentei com vocês aqui e aqui, esse ano levei comigo o marido e a enteada e foi muitíssimo bom. Compartilho a foto tirada com as minhas companheiras do Clube do Livro, nem todas estão aí porque não poderam comparecer.

E vocês, amam Dezembro também? Onde passarão o Natal? Em casa? Viajando?
Desabafem, compartilhem!

Friday, December 10, 2010

Aniversário de Clarice Lispector

Em 10 de dezembro de 1920 nascia Haia Lispector, nossa querida Clarice Lispector.
Nem preciso ser repetitiva e dizer o quanto gosto da Clarice, seus textos, a história da sua vida.
Clarice Lispector consegue colocar em palavras o que não conseguimos nem organizar em pensamento. Sua escrita introspectiva que vasculha fundo a problemática existencialista cativa seus leitores... quem consegue não gostar de Clarice?!

Então vamos deixar de blablabla e nos deliciar com um poema de Clarice...

Estrela perigosa


Estrela perigosa
Rosto ao vento
Marulho e silêncio
leve porcelana
templo submerso
trigo e vinho
tristeza de coisa vivida
árvores já floresceram
o sal trazido pelo vento
conhecimento por encantação
esqueleto de idéias
ora pro nobis
Decompor a luz
mistério de estrelas
paixão pela exatidão
caça aos vagalumes.
Vagalume é como orvalho
Diálogos que disfarçam conflitos por explodir
Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é.

No obscuro erotismo de vida cheia
nodosas raízes.
Missa negra, feiticeiros.
Na proximidade de fontes,
lagos e cachoeiras
braços e pernas e olhos,
todos mortos se misturam e clamam por vida.
Sinto a falta dele
como se me faltasse um dente na frente:
excrucitante.
Que medo alegre,
o de te esperar.

Saturday, December 4, 2010

Poema de Sábado

Music I Heard

Music I heard with you was more than music,
Música que contigo ouvi foi mais que música,
And bread I broke with you was more than bread;
E pão que contigo compartilhei foi mais que pão;
Now that I am without you, all is desolate;
Agora que sem ti estou, tudo é vazio;
All that was once so beautiful is dead.
Tudo que o dia bonito foi morreu.

Your hands once touched this table and this silver,
Tuas mãos um dia essa mesa e talheres tocou,
And I have seen your fingers hold this glass.
E teus dedos eu vi a segurar essa taça.
These things do not remember you, beloved,
Essas coisas não lembrar-te-ás, amada,
And yet your touch upon them will not pass.
E ainda assim teu toque neles ficará.

For it was in my heart you moved among them,
Pois foi em meu coração que por eles mover-te,
And blessed them with your hands and with your eyes;
Abençoando-os com tuas mãos e olhos;
And in my heart they will remember always,-
E em meu coração para sempre será lembrado,-
They knew you once, O beautiful and wise.
Que um dia te conhecemos, Oh sábia mais bela.

Conrad Aiken,  1889-1973

Tuesday, November 30, 2010

The Curious Incident of the Dog in the Night-Time (Mark Haddon)

Primeiras linhas:


"Eram 7 minutos depois de meia-noite. O cachorro estava deitado na grama no meio do gramado em frente a casa da Sra. Shear. Seus olhos estavam fechados. Parecia que corria de lado, como aqueles cães quando pensam que perseguem um gato enquanto sonham. Mas o cachorro não estava nem correndo nem dormindo. O cachorro estava morto."


The Curious Incident of the Dog in the Night-Time - O Estranho Caso do Cachorro Morto, em português - relata a conturbada e corajosa vida de Christopher John Francis Boone, um adolescente inglês com síndrome de Asperger, e sua investigação para descobrir quem matou Wellington, o cachorro.

Decidi ler esse livro após lermos Boom! (resenha aqui) para o clube do livro de Agosto. As meninas do clube já haviam lido este e mencionaram quão diferente aquele primeiro livro era em comparação a este. O quanto Haddon havia amadurecido e progredido como escritor. E isso, realmente, ficou claríssimo após ler essa história.

Síndrome de Asperger é um transtorno relacionado com o Autismo (apesar de serem dois transtornos diferentes) onde indivíduos apresentam dificuldades em interação social, bem como padrões repetitivos de comportamento e interesses. A diferença do Autismo se dá no fato de que indivíduos que sofrem com síndrome de Asperger não têm comprometimento ou atraso no desemvolvimento cognitivo e/ou da linguagem, muito pelo contrário, portadores da síndrome apresentam alto nível de inteligência, especialmente em Ciências Exatas. Mas usam a linguagem de forma literal, tendo dificuldade em entender o que não é concreto - metáforas, por exemplo - além de não desenvolverem o lado afetivo, não gostam de ser tocados, abraçados, beijados.

"Os capítulos de um livro são normalmente listados em número cardinais 1, 2, 3, 4, 5, 6 e assim por diante. Mas eu decidi listar meus capítulos em número primos 2, 3, 5, 7, 11, 13 e etc., porque eu gosto de número primos." (Pag. 11)
Como seria ver o mundo através do olhos de uma criança que sofre de Asperger? Quais são os seus medos? Como eles pensam? Como se comportam? E é curioso ler a história através da perspectiva de Christopher e entender o porque de tais comportamentos e como agir diante portadores da síndrome (caso um dia tenha que interagir com um) para que eles não se sintam coagidos ou em perigo.

Christopher estuda em um colégio para crianças especiais. A mãe abandona o pai pouco tempo antes de incidente com o cachorro, não mais suportanto conviver com o peso de uma criança especial. O pai, enfurecido e envergonhado, informa ao filho que a mãe morrera de parada cardíaca e assim passa a cuidar do filho sozinho. E tudo iria voltar à rotina normal, se Christopher não tivesse encontrado Wellington morto em frente à casa da Sra. Shear. Sendo ele apaixonado por cães, e por sua postura de querer sempre os fatos muito bem explicados, Christopher decide investigar a morte do cachorro, e por sugestão de sua professora, decide escrever esse livro relatando os fatos e progressos da investigação... e é durante a investigação que toda verdade vem à tona e os sintomas da Síndrome de Asperger tornam-se mais gritantes no comportamento do nosso protagonista.


Haddon fez um trabalho maravilhoso em The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, é uma história única, excêntrica, e inteligente. Christopher é tão detalhista, quer tudo tão do seu jeito - não come se uma porção da comida encostar na outra, tudo tem que estar separado; não come nada marrom ou amarelo; não fala com estranhos, detesta visitar lugares diferentes, a vida precisa seguir uma rotina, saber onde vai, que horas vai, quando volta, o que vai fazer, etc, etc - que as vezes irrita ler suas peculiaridades, mas é exatamente esse fato que Haddon quer explicitar, o quão dolorido e difícil é para um portador da Síndrome quando um detalhe está fora de lugar, quando uma mentira é contada, quando o arroz encosta na salada, quando Christopher vê 3 carros amarelos um atrás do outro em um dia.

É um livro especialmente interessante para outros adolescentes, para entender e saber respeitar as diferenças, o espaço de cada um, a aceitar que há sempre o que aprender com o outro, que ser especial não é contagioso e não é motivo de vergonha, e não deve ser motivo para piada ou exclusão.
"Decidi que vou descobrir quem matou Wellington mesmo depois de Papai dizer para não me envolver nos problemas dos outros (...) E isso é porque quando as pessoas te dizem o que fazer, pra mim é confuso e não faz sentido. Por exemplo, adultos sempre dizem "Fica queito!", mas eles não dizem por quanto tempo querem que alguém fique quieto".

Saturday, November 27, 2010

Poema de Sábado

Na última quinta-feira foi Dia de Ação de Graças - Thanksgiving Day - aqui nos Estados Unidos. Pela primeira vez tivemos a ceia em nossa casa. Queridos amigos na mesma situação que eu (família longe), e os poucos parentes do marido compareceram para celebrar conosco. Amo receber amigos em casa, especialmente porque cresci em uma familia enorme, onde nos reuniamos todos os finais de semana (ainda reunem!), uma família onde irmãos são melhores amigos e se gosta de estar junto... e para mim é uma enorme diferença, até mesmo um vazio, fazer parte de uma família onde o marido é filho único e os parentes mais próximos são primos de 3º, 4º grau... Por esse motivo eu me deleito quando podemos recebê-los em casa, todo mundo reunido, barulho, conversa, risadas e taças e taças de Moscato.

Com Thanksgiving vem o Outono, as folhas aos poucos tornam-se laranja e em breve marrons e logo, logo, só veremos galhos... Thanksgiving me faz lembrar que em poucas semanas o Natal chega e o ano já se foi... E assim eu lembrei de Emily e o poema que hoje compartilho com vocês.

Autumn.
Outono.

THE morns are meeker than they were,
AS manhãs são mais mansas que outrora,
The nuts are getting brown;
Marrons estão ficando as castanhas;
The berry's cheek is plumper,
O rosto das frutas roliços estão,
The rose is out of town.
Enquanto as rosas partem dessa estação.

The maple wears a gayer scarf,
A macieira veste um gorro cinza,
The field a scarlet gown.
Os campos um vestido vermelho.
Lest I should be old-fashioned,
Para que eu não fique fora de moda,
I'll put a trinker on.
Vestirei eu meu ornamento.

Emily Dickinson,
 Emily Dickson Poems, pag. 56.

Sunday, November 21, 2010

Poema de Sábado (no Domingo!)

As vezes é difícil perceber o quanto uma pessoa faz falta quando se vê aquela pessoa diariamente.
Quando a distância física se faz presente, aquele espaço vazio na cama na hora de dormir, o café da manhã sozinha, voltar para casa do trabalho para uma casa vazia, faz com que percebamos o quanto a presença daquela pessoa faz falta. É como se minha vida estivesse em pausa durante a semana... e na Sexta-feira eu aperto o botão do PLAY no meu controle remoto da minha vida. É, Sexta-feira, quando busco o marido no aeroporto, após longos e solitários dias de ausência, que minha vida volta ao normal por 2 dias e eu me sinto completa... a cama não mais vazia, o café da manhã com gostinho de casa feliz, e nesses dois dias quando acordo com a minha outra metade ao meu lado, eu lembro da Elizabeth e suas doces palavras que descrevem tudo o que eu não consigo expressar com minhas próprias palavras. Os dois dias que me fazem perceber: "How I do love thee"...

How Do I Love Thee? (Sonnet 43)

How do I love thee? Let me count the ways.
Como amo-te? Deixa-me contar os modos.
I love thee to the depth and breadth and height
Amo-te com toda a profundeza e fôlego e altura
My soul can reach, when feeling out of sight
Que minha alma pode alcançar, quando nem mais se pode ver
For the ends of being and ideal grace.
Nos confins do ser e graça ideal.
I love thee to the level of every day's
Amo-te ao limite diário
Most quiet need, by sun and candle-light.
Dos mais calmos desejos, sob o sol e luz de velas.
I love thee freely, as men strive for right.
Amo-te sem limites, como aqueles que lutam por seus direitos.
I love thee purely, as they turn from praise.
Amo-te puramente, como os que rejeitam a glória.
I love thee with the passion put to use
Amo-te com a paixão posta em prática
In my old griefs, and with my childhood's faith.
Nas minhas velhas dores, e crença da infância.
I love thee with a love I seemed to lose
Amo-te com aquele amor que pensei ter perdido
With my lost saints. I love thee with the breath,
Por meus santos perdidos. Amo-te com o fòlego,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,
Sorrisos, lágrimas, de toda minha vida; E, caso Deus permita,
I shall but love thee better after death.
Amar-te-ei ainda mais após a morte.

 (Elizabeth Barrett Browning, poeta Romântica Inglesa)
 
 


Thursday, November 11, 2010

Lost in Austen (Emma Campbell Webster)

Vida de gente grande não é fácil, percebo isso claramente toda vez que precisamos marcar nossa reunião do Bookclub - "Só tenho tempo livre às Quintas e Sextas."; "Só estou disponível às Terças"; "Não estarei disponível na última semana de Outubro"... Isso não acontecia nos meus 19 e pouco... "Quando? Ah, sem problemas, não tenho nada marcado"... era a resposta de sempre.

Por esse motivo, nossas reuniões do Clube do Livro estão ficando cada vez mais escassas, o tempo cada vez mais curto, a única coisa que aumenta é o tamanho da conversa com o grau de intimidade, e eu amo!

Andrea roubou a escolha da Nari e lemos Lost in Auten para o Bookclub de Outubro. O livro parecia super interessante pela descrição da Nari - são várias histórias misturadas, no final de cada capítulo há perguntas ou opções, e de acordo com a decisão do leitor a história muda de rumo, e pode até mudar a história toda.

No início tudo parece muito interessante, até separei uma folhinha para calcular meus pontos para as 5 categorias diferentes que a autora propõe no início da história: Inteligência, Confidência, Fortuna, Conquistas e Conexões. Conforme a história vai se desenvolvendo, o leitor pode ganhar ou perder pontos de acordo com os acontecimentos ou escolhas feitas. Huum... ler sobre Mr. Darcy e ainda pensar que é joguinho... promete né?

Até o ponto que eu não quis ir visitar a Jane, doente, na casa dos Bingley pelo caminho da direita e escolhi a esquerda - encontrei um grupo de ciganos que queria meu dinheiro, eu não ando com dinheiro assim no bolso do meu vestido longo - se é que tem bolso, né? - e os ciganos me espancaram de tal forma que meu rosto ficou tão deformado que nenhum pretendente jamais quis pedir minha mão... realiza!

E história prossegue assim, de forma que você realmente não cria a sua própria história porque a autora meio que manupula o leitor para seguir o curso que ela deseja. Em alguns outros capítulos, tentei fugir da história original mas minha Liz Bennet acabou se transformando naquilo que ela mais criticava na mãe... uma mulher que só pensa em arranjar um bom casamento, buscando fortuna - fugindo totalmente do caráter da minha personagem preferida de todas as obras de Jane Austen. Daí já havia até parado de contar-somar-diminuir os pontos durante a história porque virou um peso...

Todas as meninas do Clube do Livro concordaram que a história se perdeu da idéia original lá pela metade, o que tirou o encanto do propósito de todas nós. A idéia foi criativa mas chegou a um ponto que se desvirtuou do conceito... Eu preferi seguir o roteiro original e optei por, logicamente, casar com o Mr. Darcy... mas dependendo da sua escolha, podes acabar casando com o Mr. Collins, ou personagens de outros livros de Austen que foram misturados à história (Mansfield Park, Sense and Sensibility, Emma e por aí vai).

Sunday, November 7, 2010

Aniversário de Cecília Meireles

Em 7 de novembro de 1901 nascia Cecília Benevides de Carvalho Meireles.
Cecília foi precoce em todos os fatos de sua vida... perdeu o pai aos 3 meses de idade, a mãe aos 3 anos... começou a escrever poesia aos 9 anos, aos 18 veio o primeiro livro.

Corrijam-me se estiver errada, mas Cecília é uma das escritores mais completas da Literatura Brasileira (incluindo os homens na contagem) porque suas obras sofrem influência de diversos movimentos literários... embora estivesse sob influência Modernista, há traços do Simbolismo, Surrealismo, Realismo, Romantismo, e mais tantos outros ISMOS pelo caminho.

Parando o blablabla... vamos à Cecília...

Suavíssima

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
No céu de outono, anda um langor final de pluma
Que se desfaz por entre os dedos, vagamente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
Tudo se apaga, e se evapora, e perde, e esfuma . . .

Fica-se longe, quase morta, como ausente . . .
Sem ter certeza de ninguém . . . de coisa alguma . . .
Tem-se a impressão de estar bem doente, muito doente,

De um mal sem dor, que se não saiba nem resuma . . .
E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
A alma das flores, suave e tácita, perfuma
A solitude nebulosa e irreal do ambiente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
Tão para lá! . . . No fim da tarde . . . além da bruma . . .

E silenciosos, como alguém que se acostuma
A caminhar sobre penumbras, mansamente,
Meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma . . .

Põem-se a tecer frases de amor, uma por uma . . .
E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .

Saturday, November 6, 2010

Poema de Sábado

Song

When I am dead, my dearest,
Quando eu morrer, meu querido,
Sing no sad songs for me;
Não me cante músicas tristes;
Plant thou no roses at my head,
Não me plante rosas na cabeã,
Nor shady cypress tree:
Nem cipestre para sombra fazer:
Be the green grass above me
Que seja a grama verde em cima de mim
With showers and dewdrops wet:
Com chuvas e gotas de orvalho:
And if thou wilt, remember,
E se por acaso, lembrares,
And if thou wilt, forget.
E se por acaso, esquecere.

I shall not see the shadows,
Não verei eu as sombras,
I shall not feel the rain;
Não sentirei a chuva;
I shall not hear the nightingale
Não ouvirei eu o pássaro da noite
Sing on as if in pain:
A cantar como se com dor:
And dreaming through the twilight
E sonhando até o crepúsculo
That doth not rise nor set,
Que não clareia nem escurece,
Haply I may remember,
Feliz então lembrarei,
And haply may forget.
E feliz então esquecerei.

(Christina Rossetti, The best Poem
of the English Language, pag. 710)

Tuesday, October 26, 2010

Literacy and Longing in L.A. (Jennifer Kaufman & Karen Mack)

Recebo uma ligação da Southwest que meu vôo mudou de portão de entrada, eu que sentada estava a ler "Lost in Austen" em frente ao portão que eu supostamente deveria embarcar. Guardo meu livro no bolso da frente da minha carry-on e corro para o novo portão, o povo já na fila de embarque (droga, isso que dá viajar barato em vôo de assento livre!). Entro no avião, que já estava praticamente lotado, e coloco minha malinha naquele compartimento de cima, enquanto apressadamente corro para salvar meu lugar na janela (eu só viajo se sentar na janela, nem que seja lá no último assento!).

Quando finalmente me aconchego no meu  assento percebo que esqueci meu livro lá... lá na minha carry-on. Saco! O que vou fazer durante 1:30h.? Olho no bolso da poltrona na minha frente e... um livro!!! Não acredito, esse é meu dia de sorte? E foi assim que esbarrei em "Literacy and Longing in L.A.", uma alma abençoada fez o favor de esquecer? Deixar de lembrança? E já que de imediato começo a ler...

A mãe bêbada dirigindo com as duas filhas no banco de trás, perde controle do carro, e cai de uma ponte em um córrego... fato corriqueiro e repetitivo na vida de uma família cuja mãe sofre com problemas de alcoolismo. O pai, pouco tempo depois, cansado de lidar com a situação, abandona a família e deixa as filhas Dora e Virginia sozinhas nos braços de uma mãe ausente e doente.

"Coleciono livros novos do mesmo modo que minhas amigas compram bolsas de designers famosos. Alguma vezes, só o fato de saber que os tenho me basta, ler ou não é um outro ponto. Não que no fim eu não acabe lendo-os um por um. Eu os leio. Mas o simples fato de comprá-los já me deixa feliz". (pag. 15)
Durante os poucos momentos de sobriedade, o passa-tempo da mãe é muita leitura e viagens literárias com as filhas. Seu refúgio é os livros, sua resposta para as dores do abandono do marido é a reclusão e leitura. Problemas surgiram? Pega um livro e esquece do mundo. Paixão esta que é passada às filhas, bem como as cicatrizes de uma família desestruturada.

"Mas, para mim, ler é tão mais que isso. Livros me ensinam como os outros pensam, e o que eles sentem, e como eles se transformam de pessoas comuns para extraordinárias. Eles são frequentemente cativantes e inteligentes, eu preferia muito mais passar meu tempo lendo sobre eles que fazendo qualquer outra coisa". (pag. 71)

Dora, a protagonista da história, é a que mais lembra as características da mãe. Recém separada de Palmer, um diretor de cinema famoso em Los Angeles, Dora está numa fase transitória onde a busca por emprego, pela própria identidade e propósito na vida, deixam-na um tanto perdida e sobrecarregada. Entre as festas vazias e glamurosas da amigas ricas, as idas e vindas à livraria, e os dias reclusos em depressão que resultam em maratona de leitura, Dora conhece Fred - o vendedor de livros da McKenzie - com seu ar de gatão intelectual e suas frases recheadas de citações literárias, não demora muito para que a nossa devoradora de livros apaixone por ele.

Mas o que se esconde atrás de Fred, o encantador vendedor de livros? O que de comum poderão compartilhar, além da paixão por literatura? E a história com Palmer, é um ponto final ou apenas uma vírgula?

Esse foi meu segundo chick-lit do ano, e não vou dizer que não gostei! As autoras mencionam centenas de livros durante a história (ótimas dicas de leitura!), sem esquecer a mistura de citações e diálogo. Cada capítulo começa com citações de escritores famoso sobre leitura, charmoso! Mas não esperem uma super-história-extraordinariamente-original, não... fora que tem uns pontinhos de superficialidade e futilidade... mas é o que se pode esperar de uma história que se passa em Los Angeles, em meio aos ares esnobes e artificiais de Hollywood.

"Pelo que aprendi, sexo após uma briga não significa que a causa da discussão está resolvida. Tem mais a ver com prazer momentâneo e uma pausa nos problemas a serem resolvidos- a feracidade, o falso prazer do apenas uma noite que culminam em ondas de remorso na manhã seguinte. É isso que aqueles pensamentos ranzinzas, as dúvidas, as intrusões preocupantes significam quando ele se aproxima e te segura pelas costas, e sussura palavras doces no ouvido". (pag. 261)

Saturday, October 23, 2010

Poema de Sábado

Because that you are going
Por essa razão partirás
And never coming back
Sem nunca mais voltar
And I, however absolute
E eu, mesmo que resolvida
May overlook your Track-
Guardarei teus passos-

Because that Death is final,
Por essa razão Morte é ultimato, 
However first it be
Mesmo que pela primeira vez
This instant be suspended
Seja este momento marcado
Above Mortality.
Além da Mortalidade.

Significance that each has lived
Que o significado do que cada um viveu
The other to detect
Seja notado pelo outro
Discovery not God himself
Fato que nem o prórpio Deus
Could now annihilate
Poderá hoje apagar

Eternity, Presumption
Eternidade, Presunção
The instant I perceive
No instante em que percebo
That you, who were Existence
Que tu, que Existência foi
Yourself forgot to live-
Esqueceste Tu de viver-

(Emily Dickinson, do livro The best Poem
of the English Language,
pag. 577)

Tuesday, October 19, 2010

Aniversário de Vinicius de Moraes

Em 19 de outubro de 1913 nascia Vinicius de Moraes. Pensando o que escrever sobre Vinicius, percebi que não há palavras que descrevam sua importância e seu talento... ele é excesso, é amor ao extemo, daqueles que se arrastam e choram rios de lágrimas, tudo por amor.

Quando o filme sobre ele foi lançado, lembro da voz de Tônia Carrero descrevendo Vinicius como "um camarada que viveu de paixões... Vinicius era capaz de tudo, qualquer baixeza para conquistar uma mulher" enquanto Adriana Calcanhoto canta "Eu sei que vou te amar, desesperadamente...", Vinicius é isso, é amor à moda antiga, amor sem limites, exagerado, desesperado!

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

(do livro Nova Antologia Poética, pag. 20)

Saturday, October 16, 2010

Poema de Sábado

The Floating Old Man

There was an Old Man in a boat,
Havia num barco um Velho Homem,
Who said, "I'm afloat! I'm afloat!"
A dizer, "Estou a deriva! Estou a deriva!"
When they said, "No! you ain't!" he was ready to faint,
Quando lhe responderam, "Não! Não estás!" quase pôs-se o velho a desmaiar,
That unhappy Old Man in a boat.
Aquele infeliz Velho Homem no barco. 

(Edward Lear, The best Poem
of the English Language, pag. 734)

Saturday, October 9, 2010

Poema de Sábado

Remember
Lembre-se

Remember me when I am gone away,
Lembre-se de mim quando eu partir,
Gone far away into the silent land;
Quando longe estiver naquela terrra distante;
When you can no more hold me by the hand,
Quando não mais puderes comigo de mãos dadas andar,
Nor I half turn to go yet turning stay.
Nem quando finjo partir mas acabo ficando.
Remember me when no more day by day
Lembre-se de mim quando não mais dia após dia
You tell me of our future that you planned:
Contar-me sobre os planos que tens para o nosso futuro:
Only remember me; you understand
Apenas lembre-se de mim; entendes

It will be late to counsel then or pray.
Tarde será pois para conselhos ou pedidos.
Yet if you should forget me for a while
E ainda que esqueças-me por um segundo
And afterwards remember, do not grieve:
Mas de mim lembrares novamente, não fique triste:
For if the darkness and corruption leave
Pois se a escuridão e corrupção deixarem
A vestige of the thoughts that once I had,
Uma vertigem dos pensamentos que um dia eu tive,
Better by far you should forget and smile
Prefiro muito mais que esqueças e sorria
Than that you should remember and be sad.
Que lembres de tudo e triste fique.

(Christina Rossetti, The best Poem of the English Language, pag. 712)

Friday, October 8, 2010

Captive (Clara Rojas)

Após meses de uma longa espera consegui ler Captive - "Eu, prisioneira das Farc", em português. Li um pouco sobre a história em alguns blogs ano passado e os comentários me chamaram muita atenção... esperei ansiosamente pela tradução para o inglês, o que aconteceu em maio desse ano, e em julho o livro chegou às livrarias americanas.

"FARC, formada em 1964, é uma organização revolucionária Marx-Lenista da qual fazem parte entre 9 mil a 12 mil combatentes armados e mais outros milhares de incentivadores, em sua maioria na parte rural do sudeste e oeste colombiano." (pag. 8)

Clara Rojas, gerente de campanha da candidata a presidência da República da Colômbia, e a própria candidata, Ingrid Betancourt são sequestradas em 2002 pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - as FARC. São 6 anos sob o controle (ou descontrole) do grupo revolucionário até que por intermédio de vários políticos, embaixadores, forças de paz, etc., Clara é libertada.

Durante o tempo em cativeiro Rojas passa por muitos mal-bocados, entre doenças, estresse físico e mental,
há também a delicada situação de que Clara engravida enquanto sequestrada - fato que ela menciona desde o início do livro mas as perguntas nunca são ou serão respondidas... Quem é o pai? Como aconteceu? Porque?

"Como grande parte dos habitantes da Colômbia, eu tinha familiaridade com a tragédia e o drama humano causado por sequestros, mas era algo que se ouvia sobre e que nunca se chega a pensar que pode acontecer com você." (pag. 25)

O livro conta a história de forma progressiva, os dias antes do dia D, durante, e depois. A história é chocante, como não poderia deixar de ser quando se leva em consideração o fato de que uma pessoa foi privada de sua liberdade por 6 infinitos anos, presa dentro de uma floresta do meio da selva amazônica, enfrentando os perigos de um lugar ermo, sob intensa pressão psicológica e sem nenhuma noção do que esperar para o futuro.

Porém, eu honestamente não consegui gostar de Clara Rojas, eu simpatizei com o que ela sofreu, admiro sua coragem e persistência, o instinto de sobrevivência especialmente após nascimento de Emmanuel, mas não simpatizei com a Clara Rojas, como pessoa. Não sei se foi efeito da tradução, que cá pra nós, foi bem ruim, mas o modo com o qual a história foi contada (ou traduzida) não me fez simpatizar com Rojas, senti que ela se faz o tempo todo de vítima, e ela toma uma atitude de superioridade em relação aos outros sequestrados, como se ela fosse melhor que eles e merecesse melhor tratamento que os demais.

Achei os comentários que ela fez sobre os outros sequestrados exagerados e um tanto maldosos, e alguns outros comentários feitos, por exemplo, sobre a alimentação ou o espaço físico um tanto superficiais... sem deixar de mencionar que ao ser salva do ataque de uma cobra gigante, ao ver a cobra ser carregada por membros da guerrilha, ela comenta que a cobra "daria uma ótima bolsa!"... faça-me o favor, né?!

A história é verdadeira e é toda dela, tendo a mesma o direito de expressar-se da maneira que melhor achar, mas o leitor não deixa de notar a atitude da escritora nas entrelinhas de seus desabafos, um pouco mais de humildade não faria mal a ninguém - opinião também compartilhada por minha amiga Jennifer, a quem eu dei o livro de presente de aniversário bem antes de eu comprar o meu exemplar.

"Falaram sobre um grande drama e história de amor acontecidos na selva. A única verdade em tudo isso é que eu tive um filho em cativeiro. Isto é um fato. Qualquer outra coisa é pura conversa." (pag. 124)
Se você já leu o livro e quer compartilhar a opinião (especialmente se for contrária) favor sinta-se a vontade.

Compartilho com vocês o video que encontrei no YouTube, Clara e o filho, Emmanuel.

Tuesday, September 28, 2010

Clarice na Cabeceira (Clarice Lispector)

Devo dizer que a idéia de uma coletânea dos contos de Clarice Lispector foi brilhantíssima!
Há poucas semanas atrás realizei um dos meus sonhos, encontrei não apenas um, mas dois livros - A hora da estrela e Uma maçã no Escuro - de Clarice em dois sebos diferentes aqui nos Estados Unidos, nem preciso dizer que comprei-os.

O que me preocupa é se a tradução para o inglês consegue manter a essência das obras. A hora da Estrela (resenha aqui) é um dos meus livros favoritos, que me fez parecer uma louca gargalhando enquanto lia em lugares públicos - será que a tradução consegue passar a mesma comicidade e ironia de Clarice quando lido na língua inglesa?

Mas hoje estou aqui pra falar de Clarice na Cabeceira, que reune alguns contos dos livros Laços de Família, A Legião Estrangeira, Felicidade Clandestina, A Via Crucis do Corpo, Onde estivestes de Noite, e A Bela e a Fera... eu não sou muito fã de contos porque no momento em que eu começo a gostar dos personagens a história acaba, coisa chata né?! Mas os contos de Clarice, em sua maioria, são curtos e grossos, como se costuma dizer, e acaba mesmo algumas vezes com aquela sensação de "hummm, será que eu entendi?" ou "ha ha isso me parece familiar", só lendo para experienciar.

Lembro que quando li Laços de Família, anos-luz atrás, eu apaixonei por Clarice mas ela me pareceu uma escritora sem muito sentido, alguns contos me deixaram com uma interrogação na cabeça - escrever sobre uma galinha? E aquela outra que tira sarro do cego? E a outra que nunca explica o problema que tem e ainda perde tempo decidindo se dá ou não dá as rosas? Na verdade para alguns é preciso um pouco mais que vontade de ler, é preciso re-ler, re-re-ler para entender essa mulher enigmática. Hoje re-lendo alguns dos contos de Laços de Família me pego compartilhando as divagações daqueles personagens, será que isso é mal de gente grande? Pensar demais e agir de menos? Minha imaginação usa o melhor de mim?

E o que continua me encantando em Clarice é a forma simples, coloquial em que ela escreve suas histórias, como se ao ler estivéssemos conversando com nossas idéias, de tão simples que tudo parece, mas ao mesmo tempo se perguntando, de onde foi que ela tirou uma coisa dessas? É meus caros, é esse o efeito Clarice...

Conto favorito? É para lá que eu vou (pag. 161)


"Quero usar a palavra 'tertúlia' e não sei onde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou."

O mais engraçado? O relatório da coisa (pag. 121)
"Eu creio no Sveglia. Ele não crê em mim. Acha que minto muito. E minto mesmo. Na Terra se mente muito."

O mais sem noção? O Ovo e a Galinha (pag. 89)

"O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos e a galinha existe. Mãe é para isso."

Ri pra não chorar? A Língua do "P". (pag. 109)
"E ela a se requebrar que nem sambista de morro. Tirou da bolsa o batom e pintou-se exageradamente. E começou a cantarolar."

Sunday, September 26, 2010

"À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo."
(Clarice Lispector, do livro
Clarice na Cabeceira, pag. 164.)

Saturday, September 18, 2010

Poema de Sábado

"My life has been the poem I would have writ,"

My life has been the poem I would have writ,
Minha vida tem sido o poema que eu deveria ter escrito,
But I could not both live and utter it.
Mas não pude eu vivê-la e escrevê-la ao mesmo tempo.

(Henry David Thoreau,
do livro The best Poems
of the English Language,
pag. 523)

Sunday, September 12, 2010

The girl who played with Fire (Stieg Larsson)

É a primeira vez que fico tão fascinada por com um escritor e me pego viciada em uma trilogia... Estou adiando ler o último livro só porque não quero que a história acabe antes mesmo de começar.

Stieg Larsson tinha como meta uma série de 10 livros sobre a misteriosa Lisbeth Salander, mas infelizmente o escritor nos abandonou após entregar o manuscrito dos terceiro livro, para desespero dos fãs dessa baixinha de tantas faces.

The girl who played with fire - A menina que brincava com fogo, em português -  não deixa nada a desejar em relação ao primeiro livro, The girl with the dragon tattoo - A garota com tatuagem de dragão - resenha aqui. As aventuras de Salander não diminuem e nem ficam mais fáceis. Porém, nesse segundo livro, o leitor fica sabendo os detalhes mais íntimos do passado da personagem: o motivo de seu ódio por homens canalhas, o porque de sua internação em clínicas psiquiátricas, e mais um pedaço do quebra-cabeça que é a sua vida, Zala.

Svensson, jornalista recém-contratado pela revista Millennium, há alguns anos vem fazendo uma investigação profunda sobre a mafia de prostituição Sueca. A namorada de Svensson, Mia, está prestes a concluir sua tese de doutorado no mesmo assunto. Os dois planejam lançar um livro publicado por Millennium, junto com uma edição especial da revista expondo toda a documentação e provas colhidas durantes os anos de investigação, para desmascarar a rede de prostituição que envolve desde policiais e jornalistas a traficantes de droga e empresários.

Um dia antes de entregar os 3 últimos capítulos finais do livro para Blomkvist, Mia e Svensson são friamente assassinados em casa. No dia seguinte, o corpo do advogado e guardião de Salander, Bjurman, é encontrado em seu apartamento com um tiro na cabeça... as impressões digitais de Salander estão na arma que matou o casal de jornalistas, bem como na que matou Bjurman... O que é que se passa aqui minha gente?

O mistério vai se desenrolando como cebola... camadas por camadas, e acaba que o crime é investigado triplamente... primeiro pela polícia, segundo por Blomkvist e terceiro por Armanski, o diretor da Milton Security. Por onde Salander anda torna-se um mistério por até mais da metade da história, o que não significou necessariamente que ela estava ausente. Quando mais fatos eram descobertos sobre sua vida, mais motivos haviam para acreditar em sua culpa, até que o "grande  mistério" vem à tona e as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar...

Assim como o primeiro, esse livro é daqueles que não se quer parar de ler. Larsson mostrou mais uma vez que tem um talento danado para contar histórias, sabe como prender a atenção do leitor e manter o segredo guardado até o fim, sem deixar a história perder a graça ou o leitor perder o interesse... não vejo a hora de começar o livro 3! Aaah não, daí significa que não tem mais Salander depois disso... acho que vou adiar um pouco mais ;)

"Não existem inocentes. Existem, no entanto, diferentes níveis de responsabillidade".
(pag. 403)

Monday, September 6, 2010

Boom! (Mark Haddon)

Livro escolhido por Beth oara o BookClub do mês de agosto.
Boom! Foi publicado pela primeira vez em 1992 com o estranho título de "Gridzbi Spudvetch!". Na época o livro não teve muita sorte, não sei se por causa do título que poucos sabiam pronunciar e nada de atrativo tinha, mas poucos exemplares foram vendidos e meio que caiu no esquecimento... alguns anos depois o livro resurge das cinzas como uma fênix, graças a leitores que se diziam envolvidos com a história.

A nova edição foi lançada em 2007, trazendo uma história melhorada. De acordo com o autor, muito da história foi re-escrito, as lacunas preenchidas e, obviamente, o título foi mudado para "Boom!". O livro conta as aventuras de Jim e seu melhor amigo Charles que muito por acaso perceberam que havia algo de esquisito com seus professores de História e Matemática. Decidido a desvendar o mistério em torno daquelas figuras estranhas, Charles envolve o coitado e medroso Jim na investigação, e o que parecia ser apenas uma sisma de adolescentes acaba se transformando em caso de polícia sci-fi inter-galático.

A história não é muito minha praia e é voltada para o público pré-adolescente, e se não fosse pelo Bookclub, não teria lido esse livro mesmo (tanto que nem cheguei a comprar!) mas até que o enredo tem alguns pontos que me agradaram. Gostei como Haddon abordou sutilmente os problemas de desemprego e "inversão de papéis sociais" - o pai de Jim acabara de perder o emprego e estava naquela fase de transição e aceitação... uma vez patriarca da família, agora se via renegado a empregado de sua própria casa, enquanto a mãe outrora dona-de-casa, vira o esteio da família, ganhando mais do que o pai jamais ganhara... como lidar com isso numa sociedade onde o homem ainda é visto como mantenedor principal do lar?

Também gostei do fato de que Haddon usou várias expressões características inglesas na história, dá pra sentir um gostinho da Inglaterra em cada página, fiel às raízes. Boom! é um livro curtinho, leitura rápida... tem um mistériozinho no meio para adicionar um sal à história, tem ET, tem uma irmã revoltada com namorado metaleiro, que detesta o irmão mas no fundo, no fundo daria a vida para protegê-lo. Tem teste de amizades, tem criatividade e uma pitadinha de humor... Para as outras meninas do grupo, que já leram outras obras de Mark Haddon, ler Boom! após ter lido as outras obras fez com que elas percebessem o quanto Haddon cresceu como escritor durante os últimos anos,  Boom! foi o primeiro livro e como primeiro, tem um certo grau de experientalismo, imaturidade, inexperiência mas não deixa de ser o primeiro passo... afinal de contas, tudo começa com o primeiro não é mesmo?

Saturday, September 4, 2010

Poema de Sábado

Conha e cavalo-marinho.

Pálpebras cerradas
Ao poder violeta
Sombras projetadas
Em mansuetude
Sublime colóquio
Da forma com a eternidade.

Conha e cavalo-marinho.

(Vinícius de Moraes,
Nova Antologia Poética,
pag. 82)

Tuesday, August 31, 2010

The Falls (Joyce Carol Oates)

Eu basicamente escolhi esse livro não pelo livro, mas pela escritora que é o tema do desafio literário que fiz o favor de entrar no início do ano. Nunca fui fã de desafios, especialmente literários porque escolho meu próximo livro pelo meu humor, estado de espírito, ou TPM do dia... seja lá o que for, não consigo seguir listas, padrões, essas coisas. Meio que me forcei a pensar no desafio porque metade do ano já se passou e eu só li 01 livro que se encaixa no bendito desafio, e Oates era a única que eu não tinha lido e que começava com "O" (blééé que li Flannery O'Connor ano passado!).

A história até que começa interessante... O noivo, agora marido, comete suicídio no primeiro dia de lua-de-mel, jogando-se de umas das cachoeiras das Cataratas do Niágara, lugar escolhido pelos noivos para passar a noite de núpcias. Ele, Gilbert, recém nomeado pastor titular de uma igrejinha em Troia, Nova York. Ela, Ariah, professora de canto e piano e filha de pastores. Ambos já passando da idade de casar, quase ficando para titios, têm o casamento meio que arranjado pelos pais. Situação resolvida! Imagina... Gilbert comete suicídio, os motivos até hoje anônimos para Ariah... Gilbert escondia seu amor pelo amigo de faculdade e também pastor, D.

Ariah que mal casara já era viúva. Por sete dias e sete noites, Ariah acompanhou as equipes de resgate, na busca pelo marido. Por sete dias e sete noites, a jovem noiva-esposa-viúva, de cabelos vermelhos e magricela se fez presente na Gorge, a espera do corpo de Gilbert.

Até aí parece que a história promete né?! Não sei em que ponto, o fio da meada foi perdido.
Ariah casa poucos meses depois com Dirk Burnaby, advogado rico e famoso de Gorges, que a auxiliou durante as buscas pelo corpo do marido. Dick apaixona-se por aquela esposa obstinada, aparentemente tão frágil, carente, mas determinada a cumprir até o último minuto seu dever de esposa. Talvez Dick tenha fantasiado uma esposa assim, que o esperaria incansavelmente, que não perderia as esperanças, que cuidaria dele mesmo contra sua vontade.

Ariah e Dick tiveram 3 filhos, o primeiro, Chandler subentende-se que foi fruto da única noite de amor com o primeiro marido. Ariah e Dick nunca mencionaram isso, mas ambos sabiam que Chandler era na verdade filho de Gilbert. Royall chegou para aliviar a vida de Ariah, esse com certeza era filho do pai. Anos mais tarde chega Juliett, no desespero por uma família perfeita. Ariah torna-se anti-social, vive para os filhos, o marido e os poucos alunos de piano. Após a traumática perda do primeiro marido, Ariah tenta ignorar os acontecimentos fora dos limites de sua casa, vive num mundo só seu, onde as maldades e a realidade do mundo exterior não entram.

Ariah passa a viver totalmente alienada. Até mesmo quando Dick se envolve num caso judicial que resulta em sua morte. Ariah ignora a perda do marido, era como se ele nunca tivesse existido.

Honestamente eu não consegui entender o propósito da história no que diz respeito à protagonista. E a história foi bem batida no que diz respeito às denúncias de corrupção das empresas Corporativas e o Estado - o caso em que Dick Burnaby se envolve e que acaba em sua morte, nada mais é que uma cópia do caso de Erin Brockovich... empresas milionárias que se instalam em pequenas cidades, poluem até o último grau, os moradores ficam doentes, doenças raras viram rotinas, o governo local protege as corporações e ignoram os apelos populares... até que alguém muito mais tarde, consegue ganhar através de um processo judicial, milhões para pagar as despesas médicas dos moradores afetados.

A história se arrasta de maneira irritante, cheguei a querer desistir várias vezes. Durante vários capítulos tive ligeira impressão de que a autora só estava querendo encher páginas, porque assunto e conteúdo já não mais existiam. Foi um alívio quando finalmente consegui terminar. Achei os personagens fracamente desenvolvidos, há vários hiatos durante a história que me deixaram ainda menos interessada em ler qualquer outra obra de Oates. Joyce Carol Oates definitivamente não tem um estilo que me agrada, mas pelo menos risquei mais um livro do meu desafio literário.

Ufa!