Tuesday, October 26, 2010

Literacy and Longing in L.A. (Jennifer Kaufman & Karen Mack)

Recebo uma ligação da Southwest que meu vôo mudou de portão de entrada, eu que sentada estava a ler "Lost in Austen" em frente ao portão que eu supostamente deveria embarcar. Guardo meu livro no bolso da frente da minha carry-on e corro para o novo portão, o povo já na fila de embarque (droga, isso que dá viajar barato em vôo de assento livre!). Entro no avião, que já estava praticamente lotado, e coloco minha malinha naquele compartimento de cima, enquanto apressadamente corro para salvar meu lugar na janela (eu só viajo se sentar na janela, nem que seja lá no último assento!).

Quando finalmente me aconchego no meu  assento percebo que esqueci meu livro lá... lá na minha carry-on. Saco! O que vou fazer durante 1:30h.? Olho no bolso da poltrona na minha frente e... um livro!!! Não acredito, esse é meu dia de sorte? E foi assim que esbarrei em "Literacy and Longing in L.A.", uma alma abençoada fez o favor de esquecer? Deixar de lembrança? E já que de imediato começo a ler...

A mãe bêbada dirigindo com as duas filhas no banco de trás, perde controle do carro, e cai de uma ponte em um córrego... fato corriqueiro e repetitivo na vida de uma família cuja mãe sofre com problemas de alcoolismo. O pai, pouco tempo depois, cansado de lidar com a situação, abandona a família e deixa as filhas Dora e Virginia sozinhas nos braços de uma mãe ausente e doente.

"Coleciono livros novos do mesmo modo que minhas amigas compram bolsas de designers famosos. Alguma vezes, só o fato de saber que os tenho me basta, ler ou não é um outro ponto. Não que no fim eu não acabe lendo-os um por um. Eu os leio. Mas o simples fato de comprá-los já me deixa feliz". (pag. 15)
Durante os poucos momentos de sobriedade, o passa-tempo da mãe é muita leitura e viagens literárias com as filhas. Seu refúgio é os livros, sua resposta para as dores do abandono do marido é a reclusão e leitura. Problemas surgiram? Pega um livro e esquece do mundo. Paixão esta que é passada às filhas, bem como as cicatrizes de uma família desestruturada.

"Mas, para mim, ler é tão mais que isso. Livros me ensinam como os outros pensam, e o que eles sentem, e como eles se transformam de pessoas comuns para extraordinárias. Eles são frequentemente cativantes e inteligentes, eu preferia muito mais passar meu tempo lendo sobre eles que fazendo qualquer outra coisa". (pag. 71)

Dora, a protagonista da história, é a que mais lembra as características da mãe. Recém separada de Palmer, um diretor de cinema famoso em Los Angeles, Dora está numa fase transitória onde a busca por emprego, pela própria identidade e propósito na vida, deixam-na um tanto perdida e sobrecarregada. Entre as festas vazias e glamurosas da amigas ricas, as idas e vindas à livraria, e os dias reclusos em depressão que resultam em maratona de leitura, Dora conhece Fred - o vendedor de livros da McKenzie - com seu ar de gatão intelectual e suas frases recheadas de citações literárias, não demora muito para que a nossa devoradora de livros apaixone por ele.

Mas o que se esconde atrás de Fred, o encantador vendedor de livros? O que de comum poderão compartilhar, além da paixão por literatura? E a história com Palmer, é um ponto final ou apenas uma vírgula?

Esse foi meu segundo chick-lit do ano, e não vou dizer que não gostei! As autoras mencionam centenas de livros durante a história (ótimas dicas de leitura!), sem esquecer a mistura de citações e diálogo. Cada capítulo começa com citações de escritores famoso sobre leitura, charmoso! Mas não esperem uma super-história-extraordinariamente-original, não... fora que tem uns pontinhos de superficialidade e futilidade... mas é o que se pode esperar de uma história que se passa em Los Angeles, em meio aos ares esnobes e artificiais de Hollywood.

"Pelo que aprendi, sexo após uma briga não significa que a causa da discussão está resolvida. Tem mais a ver com prazer momentâneo e uma pausa nos problemas a serem resolvidos- a feracidade, o falso prazer do apenas uma noite que culminam em ondas de remorso na manhã seguinte. É isso que aqueles pensamentos ranzinzas, as dúvidas, as intrusões preocupantes significam quando ele se aproxima e te segura pelas costas, e sussura palavras doces no ouvido". (pag. 261)

Saturday, October 23, 2010

Poema de Sábado

Because that you are going
Por essa razão partirás
And never coming back
Sem nunca mais voltar
And I, however absolute
E eu, mesmo que resolvida
May overlook your Track-
Guardarei teus passos-

Because that Death is final,
Por essa razão Morte é ultimato, 
However first it be
Mesmo que pela primeira vez
This instant be suspended
Seja este momento marcado
Above Mortality.
Além da Mortalidade.

Significance that each has lived
Que o significado do que cada um viveu
The other to detect
Seja notado pelo outro
Discovery not God himself
Fato que nem o prórpio Deus
Could now annihilate
Poderá hoje apagar

Eternity, Presumption
Eternidade, Presunção
The instant I perceive
No instante em que percebo
That you, who were Existence
Que tu, que Existência foi
Yourself forgot to live-
Esqueceste Tu de viver-

(Emily Dickinson, do livro The best Poem
of the English Language,
pag. 577)

Tuesday, October 19, 2010

Aniversário de Vinicius de Moraes

Em 19 de outubro de 1913 nascia Vinicius de Moraes. Pensando o que escrever sobre Vinicius, percebi que não há palavras que descrevam sua importância e seu talento... ele é excesso, é amor ao extemo, daqueles que se arrastam e choram rios de lágrimas, tudo por amor.

Quando o filme sobre ele foi lançado, lembro da voz de Tônia Carrero descrevendo Vinicius como "um camarada que viveu de paixões... Vinicius era capaz de tudo, qualquer baixeza para conquistar uma mulher" enquanto Adriana Calcanhoto canta "Eu sei que vou te amar, desesperadamente...", Vinicius é isso, é amor à moda antiga, amor sem limites, exagerado, desesperado!

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

(do livro Nova Antologia Poética, pag. 20)

Saturday, October 16, 2010

Poema de Sábado

The Floating Old Man

There was an Old Man in a boat,
Havia num barco um Velho Homem,
Who said, "I'm afloat! I'm afloat!"
A dizer, "Estou a deriva! Estou a deriva!"
When they said, "No! you ain't!" he was ready to faint,
Quando lhe responderam, "Não! Não estás!" quase pôs-se o velho a desmaiar,
That unhappy Old Man in a boat.
Aquele infeliz Velho Homem no barco. 

(Edward Lear, The best Poem
of the English Language, pag. 734)

Saturday, October 9, 2010

Poema de Sábado

Remember
Lembre-se

Remember me when I am gone away,
Lembre-se de mim quando eu partir,
Gone far away into the silent land;
Quando longe estiver naquela terrra distante;
When you can no more hold me by the hand,
Quando não mais puderes comigo de mãos dadas andar,
Nor I half turn to go yet turning stay.
Nem quando finjo partir mas acabo ficando.
Remember me when no more day by day
Lembre-se de mim quando não mais dia após dia
You tell me of our future that you planned:
Contar-me sobre os planos que tens para o nosso futuro:
Only remember me; you understand
Apenas lembre-se de mim; entendes

It will be late to counsel then or pray.
Tarde será pois para conselhos ou pedidos.
Yet if you should forget me for a while
E ainda que esqueças-me por um segundo
And afterwards remember, do not grieve:
Mas de mim lembrares novamente, não fique triste:
For if the darkness and corruption leave
Pois se a escuridão e corrupção deixarem
A vestige of the thoughts that once I had,
Uma vertigem dos pensamentos que um dia eu tive,
Better by far you should forget and smile
Prefiro muito mais que esqueças e sorria
Than that you should remember and be sad.
Que lembres de tudo e triste fique.

(Christina Rossetti, The best Poem of the English Language, pag. 712)

Friday, October 8, 2010

Captive (Clara Rojas)

Após meses de uma longa espera consegui ler Captive - "Eu, prisioneira das Farc", em português. Li um pouco sobre a história em alguns blogs ano passado e os comentários me chamaram muita atenção... esperei ansiosamente pela tradução para o inglês, o que aconteceu em maio desse ano, e em julho o livro chegou às livrarias americanas.

"FARC, formada em 1964, é uma organização revolucionária Marx-Lenista da qual fazem parte entre 9 mil a 12 mil combatentes armados e mais outros milhares de incentivadores, em sua maioria na parte rural do sudeste e oeste colombiano." (pag. 8)

Clara Rojas, gerente de campanha da candidata a presidência da República da Colômbia, e a própria candidata, Ingrid Betancourt são sequestradas em 2002 pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - as FARC. São 6 anos sob o controle (ou descontrole) do grupo revolucionário até que por intermédio de vários políticos, embaixadores, forças de paz, etc., Clara é libertada.

Durante o tempo em cativeiro Rojas passa por muitos mal-bocados, entre doenças, estresse físico e mental,
há também a delicada situação de que Clara engravida enquanto sequestrada - fato que ela menciona desde o início do livro mas as perguntas nunca são ou serão respondidas... Quem é o pai? Como aconteceu? Porque?

"Como grande parte dos habitantes da Colômbia, eu tinha familiaridade com a tragédia e o drama humano causado por sequestros, mas era algo que se ouvia sobre e que nunca se chega a pensar que pode acontecer com você." (pag. 25)

O livro conta a história de forma progressiva, os dias antes do dia D, durante, e depois. A história é chocante, como não poderia deixar de ser quando se leva em consideração o fato de que uma pessoa foi privada de sua liberdade por 6 infinitos anos, presa dentro de uma floresta do meio da selva amazônica, enfrentando os perigos de um lugar ermo, sob intensa pressão psicológica e sem nenhuma noção do que esperar para o futuro.

Porém, eu honestamente não consegui gostar de Clara Rojas, eu simpatizei com o que ela sofreu, admiro sua coragem e persistência, o instinto de sobrevivência especialmente após nascimento de Emmanuel, mas não simpatizei com a Clara Rojas, como pessoa. Não sei se foi efeito da tradução, que cá pra nós, foi bem ruim, mas o modo com o qual a história foi contada (ou traduzida) não me fez simpatizar com Rojas, senti que ela se faz o tempo todo de vítima, e ela toma uma atitude de superioridade em relação aos outros sequestrados, como se ela fosse melhor que eles e merecesse melhor tratamento que os demais.

Achei os comentários que ela fez sobre os outros sequestrados exagerados e um tanto maldosos, e alguns outros comentários feitos, por exemplo, sobre a alimentação ou o espaço físico um tanto superficiais... sem deixar de mencionar que ao ser salva do ataque de uma cobra gigante, ao ver a cobra ser carregada por membros da guerrilha, ela comenta que a cobra "daria uma ótima bolsa!"... faça-me o favor, né?!

A história é verdadeira e é toda dela, tendo a mesma o direito de expressar-se da maneira que melhor achar, mas o leitor não deixa de notar a atitude da escritora nas entrelinhas de seus desabafos, um pouco mais de humildade não faria mal a ninguém - opinião também compartilhada por minha amiga Jennifer, a quem eu dei o livro de presente de aniversário bem antes de eu comprar o meu exemplar.

"Falaram sobre um grande drama e história de amor acontecidos na selva. A única verdade em tudo isso é que eu tive um filho em cativeiro. Isto é um fato. Qualquer outra coisa é pura conversa." (pag. 124)
Se você já leu o livro e quer compartilhar a opinião (especialmente se for contrária) favor sinta-se a vontade.

Compartilho com vocês o video que encontrei no YouTube, Clara e o filho, Emmanuel.