Friday, March 23, 2012

When She Woke (Hillary Jordan)


“Quando ela acordou, ela estava vermelha. Não de vergonha, não por queimadura do sol, mas o sólido, vermelho berrante de uma placa de trânsito. Ela viu suas mãos primeiro. Ela as observou em frente aos seus olhos. (...) Ela sabia o que a esperava— já havia visto muitos Vermelhos antes, logicamente, pela rua e na vid— mas ainda assim, ela não estava preparada para ver a sua própria pele transformada.” (pag. 01)


Gente, desde que terminei de ler esse livro em Outubro venho me preparando para essa resenha. When She Woke - Quando ela Acordou - foi escolhido pela Nari do meu BookClub, que recebeu uma cópia da editora antes da publicação para review. Todas nós gostamos da história, ou da maioria dela...  um dos poucos livros que não faltou assunto para conversa.

When She Woke relata o drama de Hannah Payne, numa América futurística controlada pela religião. Guerras devastaram países, e 'O grande Flagelo' deixou metade das mulheres estéreis. Los Angeles nada mais é do que uma grande bola radioativa. Com o sistema penitenciário falido, a crise obriga enormes cortes no orçamento. E para aliviar o sistema penitenciário e esvaziar as prisões,  o governo americano cria a 'melocromia', onde aqueles que cometem crimes têm sua pele tonalizada de acordo com o crime cometido—pequenas contravenções: Amarelo; crimes sexuais: Azul; Homicidas: Vermelho.

“Pelo menos ela ainda tinha seus olhos para lembrá-la quem era: Hannah Elizabeth Payne. Filha de John e Samantha. Irmã de Rebecca. Homicida de uma criança, sem nome. Hannah se pergunta se aquela criança herdaria os olhos melancólicos do pai e sua boca suave, sua sobrancelha arqueada e grossa e a pela alva.” (pag. 7)

Hannah se apaixona e acaba tendo um romance com o Reverendo Super-Famoso, Aidan Dale. Engravida e decide fazer um aborto numa clínica clandestina. Aborto é tratado como homicídio pelo novo Código Penal americano.

Hannah cresceu numa família cristã extremista, envolve-se com o reverendo de sua igreja - casado. Aidan,  devido a um ato-falho cometido antes do casamento, contraiu uma DST, ainda sem cura na época. A doença foi transmitida a esposa, que, pelo tempo que a cura foi encontrada, já havia perdido os ovários e nunca pôde ter filhos.


“Quero saber o nome dele. O nome do homem que te desonrou e te mandou abortar teu bebê.
Hannah balançou a cabeça involuntariamente, lembrando do dos lábios de Aidan em sua pele, beijando a curva de seu braço, a curva macia de seus pés; puxando suas pernas aparte para que sua boca tomasse posse de cada parte escondida de seu corpo. Para ela, aquilo não era desonra. Para ela parecia uma forma de adoração.”
(pag. 23)


É quando Hannah deixa a prisão que se dá conta do peso de ser Vermelha, a sociedade fecha suas portas para os 'cromos'. Não há onde morar, não há emprego. Uma nova era de segregação baseada na cor da pele. Rejeitada pela mãe, sem auxílio da irmã, Hannah conta com a ajuda limitada do pai para enfrentar sua nova realidade. Até ser encontrada pelos Novembristas, uma organização secreta que advoca o direito de escolha da mulher, nesse caso, o direito ao aborto, e condena o fato desse ato ser considerado e punido como homicídio.

Hannah se vê num dilema: aceita a proposta dos Novembristas - fugir para o Canadá onde se submeterá a um procedimento médico que a livrará da monocromia - ou, fica no Texas e cumpre sua sentença pelo crime cometido. Fugir  significa abandonar a família, Aidan, sem nunca olhar para trás, esquecer Hannah Payne e recomeçar do zero. Ficar é alimentar a esperança por Aidan, é enfrentar as acusações da mãe, a repressão do cunhado, o desapontamento do pai, e viver por quinze anos sendo lembrada diariamente daquela vida que não permitiu nascer.

Hillary Jordan não nega sua inspiração em The Scarlet Letter - A Letra Escarlate - do Nathaniel Hawthorne. Hannah Payne, assim como Hester Prynne, desafia a família, suas crenças e a sociedade, e sacrifica a si mesma, para proteger a identidade do homem que ama. Aidan Dale, bem como Arthur Dimmensdale, fica dividido entre sua posição como Ministro da Fé e o amor por Hannah. Porém a semelhança termina por aí. Na minha opinião, When She Woke trás muitos tópicos para discussão, a história é forte e controversa, leva-se um pouco de tempo para entender o estado em que a sociedade se encontra e se adaptar aos novos termos usados, mas não se consegue parar de ler. No entanto, há alguns tópicos que me incomodaram.


De certo Jordan tem como intuito realmente chocar o leitor e deixar claro que a Hannah daquele momento já não era mais a mesma Hannah do início da história, e que 'aquele' fato a afastaria definitivamente de qualquer possibilidade de existir Aidan e Hannah, mas acredito que a história poderia ter existido sem 'aquele' detalhe... quem ler vai entender mais tarde. Na minha opinião, já haviam elementos discutíveis o bastante na obra e aquela situação foi desnecessária. 


Outro detalhe é que os personagens masculinos são ou fracos, covardes, ou violentos - até os membros masculinos Novembristas submetem-se às imposições femininas. Também achei que Religião é mostrada de forma tão pejorativa que por vezes soa ofensivo. Incômodos a parte, valeu a pena a experiência de Quando ela Acordou, recomendado! ...  E quando terminei, bateu uma saudade daquelas de A Letra Escarlate e lembrei que ainda não comentei sobre essa obra aqui no blog. Hora de marcar um encontro com Hawthorne!


2 comments:

Eloise Schmitz said...

Oi,faz um tempo que venho de olho nele, achei seu blog quando procurava a lista de livros da Rory Gilmore e só achei aqui.
Só queria dizer que gosto muito do seu blog!
beijos :)

Eloise Schmitz said...

Então, acabei meio obcecada por ela também. Realmente todos os personagens femininos do Larsson tem características bem marcantes!
Gosto das duas Lisbeths, mas quando li alguns trechos do livro depois que olhei os filmes a Salander que me vem a cabeça é a Rooney Mara, gostei muito da interpretação e da transformação dela no personagem.
Bjs :)