Wednesday, April 20, 2011

Aniversário de Augusto dos Anjos

Em 20 de abril de 1884 nascia Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, um dos poetas mais críticos da Literatura Brasileira. Seus poemas nada convencionais, expressam a agressividade e a tensão da sua visão cientificista, encaixa-se no Parnasianismo... alguns acham que é Pré-Moderno. Cabe ao leitor decidir.


Debaixo do tamarindo


No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvore de amplos agasalhos
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade,
A minha sombra há de ficar aqui!

Tuesday, April 19, 2011

Aniversário de Manuel Bandeira

Em 19 de abril de 1886 nascia Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho. Sempre que sinto saudade da minha terrinha, lembro de Bandeira e seu lirismo, seu apego às coisas simples da vida, seu jeito de fazer piada do que muitos considerariam vulgar.

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Saturday, April 16, 2011

Poema de Sábado

O poema de hoje é dedicado a minha querida amiga Nari e ao Chris, que casam hoje numa cerimônia tão ansiosamente esperada. Sei que derramarei muitas lágrimas, sei que daremos muitas risadas, e acima de tudo, sei que estarei extremamente feliz por poder fazer parte deste momento. Que o dia de hoje seja uma celebração para o primeiro dia do resto da vida deles. Luv ya, Nari!

Vai alta no céu a lua da primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelos campos,
E eu andarei contigo pelos a ver-te colher flores.

Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo pelos campos a colher flores,

Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

(Fernando Pessoa, 
Poemas Completos de 
Alberto Caeiropag 82)

Friday, April 15, 2011

Rumores sobre 4º livro da série Millennium!!

O jornal Los Angeles Times publicou no dia 28 de março, um artigo sobre a possibilidade de exigir um 4º livro da série Millenium de Stieg Larsson, que faleceu em 2004 após a entrega dos 3 manuscritos da série.


Os três livros lançados: The girl with the dragon tattoo (Os homens que não amavam as mulheres), The girl who played with fire (A menina que brincava com fogo), The girl who kicked the Hornet's nest (A rainha do Castelo de ar), viraram sucesso de vendas e rapidamente entraram na lista de best-sellers do The New York Times, e não demorou muito para que a versão cinematorgáfica sueca fosse lançada também. Mas o que os leitores, eu inclusive, mais desejavam mas pouco esperavam, era a possibilidade de haver um 4º livro!


De acordo com o artigo, a família de Larsson e a namorada no escritor declararam ter visto o manuscrito, e há rumores de que uma das partes publicará o livro. Kurdo Baksi, amigo confidente de Larsson, em reportagem para o jornal sueco Expressen, informou alguns detalhes do conteúdo do 4º livro da série. Segundo Baksi, a Larsson desenvolve o personagem de Camila, irmã de Lisbeth Salander - e foi exatamente isso que eu disse pra minha amiga Mel quando conversávamos sobre o livro, Larsson menciona Camila diversas vezes no último livro, de certeza ele teria que desenvolvê-la cedo ou tarde.


Ainda segundo o artigo, Larsson teria enviado o manuscrito por e-mail para seu irmão Joakim, que confirma ter recebido o e-mail 10 dias antes da morte do escritor.


Para nós amantes da trilogia, só nos resta torcer muito para que essa história seja verdade, e que muito em breve possamos ver o 4º livro sentadinho esperando por nós nas prateleiras das livrarias.


Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

Tuesday, April 12, 2011

The Almost Moon (Alice Sebold)

Primeiras linhas:
"Quando tudo é dito e feito, matar minha mãe até que não foi uma escolha difícil. Demência, e seus sintomas, tem seu modo de revelar os sentimentos mais profundos das pessoas que sofrem dessa doença. Os sentimentos da minha mãe eram podres como água suja e escura após sentar por dias e dias no prato embaixo de um jarro de flores."

Baaaam! A história já começa como que uma explosão, e foi por essa razão que Beth escolheu The Almost Moon para o BookClub de Fevereiro. Alice Sebold - autora de The Lovely Bones (Vida Interrompida) e Lucky (Sorte), sabe como chocar o leitor, suas histórias são escuras, pesadas, e para mim, opressivas.

The Almost Moon é um livro controverso, algumas de nós do clube detestou a história, outras foram sugadas pelo enredo. O tempo cronológico é curto, apenas 2 dias se passam do momento da morte da mãe a conclusão da história, e Sebold encaixa o passado de Helen nesse meio tempo, para que o leitor, talvez, possa simpatizar com a protagonista, e julgar seu ato de forma mais amena.

"Puxei ainda mais forte. As toalhas se moveram, e eu vi seus olhos. Segurei as toalhas por um bom tempo, olhando-a bem de frente, até que senti a ponta do seu nariz quebrar e vi os seus músculos aos poucos relaxando e então eu soube que ela estava morta" (pag. 14)

Quais ações justificariam o ato cometido por Helen? Seria o homicídio justificável? O que fazer quando a raiva e o ressentimento te levam ao ponto mais extremo? Não sei o que me perturbou mais na história, se foi o fato de Helen ter matado a própria mãe; a maneira que ela se porta após o crime; ou os motivos desenrolados no decorrer da história. Eu não quero expor muito da história porque apesar de eu ter minha opinião pessoal sobre o tópico escolhido, a história em si foi bem escrita, bem desenvolvida, e é por isso que causa tamanho conflito interno no leitor.

Helen foi filha única desse casal que se conheceu muito por acaso. A mãe era modelo, tinha o sonho de mudar para Nova Iorque e seguir carreira quando conheceu o pai de Helen, e acabou engravidando. Por ter tido os sonhos destruídos, e ter acabo em uma cidadezinha suburbana, a mãe de Helen busca a reclusão e aos poucos desenvolve os sintomas de depressão, e síndrome do pânico, que acabam virando demência. O pai de Helen nunca abandonou a esposa, e sacrificou muito de si por aquela mulher, mas cabia à filha tomar conta da mãe - Helen nada mais era que uma criança, o pai nunca sentou e informou a filha que o motivo pelo qual a mãe não levantava da cama por semanas, recusava qualquer contato com o mundo exterior, chorava compulsivamente,  era causado por uma doença. Quando Helen mais precisava de apoio, de amor, sua mãe era cruel e seca. A demência deixava florescer o que de mais amargo e feio havia por trás do rosto encantador.

"Eu sabia que o aquele esforço era heroico para ela. Mas alguma coisa havia acontecido naquele meio tempo em que cruzei a sala e vesti, como mais tarde repensando nomeei, minha capa de super-herói. Minha mãe, naquele exato momento, havia deixado de existir para mim" (pag. 106)

Os sintomas da doença apenas pioram com o passar dos anos, Helen cresce sem saber o que é o relacionamento entre pais e filhos, e ainda pior, sendo insultada e rejeitada pela mãe, mãe esta que ela protege e acolhe como uma criança. O pai, sobrecarregado com tantas outras obrigações, pouco tempo tinha para ela... até o dia em que decide que nem ele mesmo consegue levar adiante a situação e comete suicídio.

Quando Helen mata a mãe, ela já é uma mulher, mãe de 2 filhas, avó, divorciada, tem sua própria história. E eu cheguei a me perguntar se Helen fez o que fez por ela, pela mãe, ou pela sua própria família - de fato Helen precisava de ajuda, seu comportamento grita por socorro, conseguiria Helen apagar as cicatrizes de todos os anos amargos em que sofreu devido a doença da mãe? Após a morte do pai, Helen sem perceber passa a carregar o mesmo peso que o pai carregava. Como um sanguessuga, a mãe doente encontra um novo alvo, e torna-se um parasita na vida e nos relacionamentos de Helen. E agora com a mãe morta, teria Helen também matado aquilo que a deixava viva?


"Minha mãe não foi oficialmente declarada culpada pela morte do Billy porque, de acordo com o relatório da autopsia, os traumatismos causados pelo acidente foram de tal gravidade que ele teria falecido mesmo se ela tivesse prestado algum tipo de socorro (...) Ela poderia tê-lo abraçado, como qualquer outra pessoa faria, ou corrido para chamar a família dele, ou uma ambulância, mas nenhuma dessas ações, de acordo com a autopsia, teria salvado a vida de Billy Murdoch." (pag. 108)
Justificado ou não, Alice consegue provocar reações e reflexões profundas no leitor. Eu comecei a história já não mais querendo ler, mas não conseguindo não parar, senti calafrios, senti repulsa, já não via a hora de acabar... e o final, ah, aquele eu não esperava, cabe a mim decifrar.


Sunday, April 10, 2011

Poema de Sábado (no domingo)

O bailarino

Não sei dançar.
Minha maneira de dançar é o poema.

(Mario Quintana, A cor do Invisível, pag. 82)

Saturday, April 2, 2011

Poema de Sábado

Jardim Interior

Todos os jardins deviam ser fechados,
Com altos muros de um cinza muito pálido,
onde uma fonte
pudesse cantar
sozinha
entre os vermelhos dos cravos.
O que mata um jardim não é mesmo
alguma ausência
nem o abandono...
O que mata um jardim é esse olhar vazio
de quem por eles passa indiferente.


(Mario Quintana, A cor do Invisível
pag. 31)