Quando finalmente me aconchego no meu assento percebo que esqueci meu livro lá... lá na minha carry-on. Saco! O que vou fazer durante 1:30h.? Olho no bolso da poltrona na minha frente e... um livro!!! Não acredito, esse é meu dia de sorte? E foi assim que esbarrei em "Literacy and Longing in L.A.", uma alma abençoada fez o favor de esquecer? Deixar de lembrança? E já que de imediato começo a ler...
A mãe bêbada dirigindo com as duas filhas no banco de trás, perde controle do carro, e cai de uma ponte em um córrego... fato corriqueiro e repetitivo na vida de uma família cuja mãe sofre com problemas de alcoolismo. O pai, pouco tempo depois, cansado de lidar com a situação, abandona a família e deixa as filhas Dora e Virginia sozinhas nos braços de uma mãe ausente e doente.
"Coleciono livros novos do mesmo modo que minhas amigas compram bolsas de designers famosos. Alguma vezes, só o fato de saber que os tenho me basta, ler ou não é um outro ponto. Não que no fim eu não acabe lendo-os um por um. Eu os leio. Mas o simples fato de comprá-los já me deixa feliz". (pag. 15)
Durante os poucos momentos de sobriedade, o passa-tempo da mãe é muita leitura e viagens literárias com as filhas. Seu refúgio é os livros, sua resposta para as dores do abandono do marido é a reclusão e leitura. Problemas surgiram? Pega um livro e esquece do mundo. Paixão esta que é passada às filhas, bem como as cicatrizes de uma família desestruturada.
"Mas, para mim, ler é tão mais que isso. Livros me ensinam como os outros pensam, e o que eles sentem, e como eles se transformam de pessoas comuns para extraordinárias. Eles são frequentemente cativantes e inteligentes, eu preferia muito mais passar meu tempo lendo sobre eles que fazendo qualquer outra coisa". (pag. 71)
Dora, a protagonista da história, é a que mais lembra as características da mãe. Recém separada de Palmer, um diretor de cinema famoso em Los Angeles, Dora está numa fase transitória onde a busca por emprego, pela própria identidade e propósito na vida, deixam-na um tanto perdida e sobrecarregada. Entre as festas vazias e glamurosas da amigas ricas, as idas e vindas à livraria, e os dias reclusos em depressão que resultam em maratona de leitura, Dora conhece Fred - o vendedor de livros da McKenzie - com seu ar de gatão intelectual e suas frases recheadas de citações literárias, não demora muito para que a nossa devoradora de livros apaixone por ele.
Mas o que se esconde atrás de Fred, o encantador vendedor de livros? O que de comum poderão compartilhar, além da paixão por literatura? E a história com Palmer, é um ponto final ou apenas uma vírgula?
"Pelo que aprendi, sexo após uma briga não significa que a causa da discussão está resolvida. Tem mais a ver com prazer momentâneo e uma pausa nos problemas a serem resolvidos- a feracidade, o falso prazer do apenas uma noite que culminam em ondas de remorso na manhã seguinte. É isso que aqueles pensamentos ranzinzas, as dúvidas, as intrusões preocupantes significam quando ele se aproxima e te segura pelas costas, e sussura palavras doces no ouvido". (pag. 261)