Recebo uma ligação da Southwest que meu vôo mudou de portão de entrada, eu que sentada estava a ler "Lost in Austen" em frente ao portão que eu supostamente deveria embarcar. Guardo meu livro no bolso da frente da minha carry-on e corro para o novo portão, o povo já na fila de embarque (droga, isso que dá viajar barato em vôo de assento livre!). Entro no avião, que já estava praticamente lotado, e coloco minha malinha naquele compartimento de cima, enquanto apressadamente corro para salvar meu lugar na janela (eu só viajo se sentar na janela, nem que seja lá no último assento!).
Quando finalmente me aconchego no meu assento percebo que esqueci meu livro lá... lá na minha carry-on. Saco! O que vou fazer durante 1:30h.? Olho no bolso da poltrona na minha frente e... um livro!!! Não acredito, esse é meu dia de sorte? E foi assim que esbarrei em "Literacy and Longing in L.A.", uma alma abençoada fez o favor de esquecer? Deixar de lembrança? E já que de imediato começo a ler...
A mãe bêbada dirigindo com as duas filhas no banco de trás, perde controle do carro, e cai de uma ponte em um córrego... fato corriqueiro e repetitivo na vida de uma família cuja mãe sofre com problemas de alcoolismo. O pai, pouco tempo depois, cansado de lidar com a situação, abandona a família e deixa as filhas Dora e Virginia sozinhas nos braços de uma mãe ausente e doente.
"Coleciono livros novos do mesmo modo que minhas amigas compram bolsas de designers famosos. Alguma vezes, só o fato de saber que os tenho me basta, ler ou não é um outro ponto. Não que no fim eu não acabe lendo-os um por um. Eu os leio. Mas o simples fato de comprá-los já me deixa feliz". (pag. 15)
Durante os poucos momentos de sobriedade, o passa-tempo da mãe é muita leitura e viagens literárias com as filhas. Seu refúgio é os livros, sua resposta para as dores do abandono do marido é a reclusão e leitura. Problemas surgiram? Pega um livro e esquece do mundo. Paixão esta que é passada às filhas, bem como as cicatrizes de uma família desestruturada.
"Mas, para mim, ler é tão mais que isso. Livros me ensinam como os outros pensam, e o que eles sentem, e como eles se transformam de pessoas comuns para extraordinárias. Eles são frequentemente cativantes e inteligentes, eu preferia muito mais passar meu tempo lendo sobre eles que fazendo qualquer outra coisa". (pag. 71)
Dora, a protagonista da história, é a que mais lembra as características da mãe. Recém separada de Palmer, um diretor de cinema famoso em Los Angeles, Dora está numa fase transitória onde a busca por emprego, pela própria identidade e propósito na vida, deixam-na um tanto perdida e sobrecarregada. Entre as festas vazias e glamurosas da amigas ricas, as idas e vindas à livraria, e os dias reclusos em depressão que resultam em maratona de leitura, Dora conhece Fred - o vendedor de livros da McKenzie - com seu ar de gatão intelectual e suas frases recheadas de citações literárias, não demora muito para que a nossa devoradora de livros apaixone por ele.
Mas o que se esconde atrás de Fred, o encantador vendedor de livros? O que de comum poderão compartilhar, além da paixão por literatura? E a história com Palmer, é um ponto final ou apenas uma vírgula?
"Pelo que aprendi, sexo após uma briga não significa que a causa da discussão está resolvida. Tem mais a ver com prazer momentâneo e uma pausa nos problemas a serem resolvidos- a feracidade, o falso prazer do apenas uma noite que culminam em ondas de remorso na manhã seguinte. É isso que aqueles pensamentos ranzinzas, as dúvidas, as intrusões preocupantes significam quando ele se aproxima e te segura pelas costas, e sussura palavras doces no ouvido". (pag. 261)