''Talvez Nujood ainda não tenha se dado conta, mas acabou de quebrar um tabu. A notícia do seu divórcio se espalhou pelo mundo, relatada por vários jornais internacionais, pondo um fim ao silêncio que encobre uma prática que, infelizmente, é bem comum em vários países: Afeganistão, Egito, Índia, Iran, Mali, Paquistão... Se sua história nos toca assim tão profundamente, é também porque nos faz olhar para dentro de nós mesmos. No Ocidente, é moda instintivamente lamentar o destino das mulheres Islâmicas, porém violência doméstica e a prática de casamentos arranjados para crianças não é uma realidade restrita apenas ao mundo Islâmico.'' (pag. 172)
Nascida na província de Hajja no interior do Yêmen, Nujood nem mesmo sabia a idade que tinha - 7, 8, 9 anos de idade? - quando o pai arranjou seu casamento com um homem quase 30 anos mais velho. Acordo feito, e em menos de 2 semanas, Nujood ainda uma criança, nem sequer menstruando, já era uma mulher casada. O novo marido a separa da família, mudam para o interior, onde é humilhada, maltratada, e espancada pelo marido.
''Minha mãe teve dezesseis filhos. Para ela, cada gravidez foi um grande desafio. Ela sofreu em silêncio por três abortos espontâneos, e perdeu um dos bebês durante o parto. E por que não havia médicos, quatro dos meus irmãos, que nunca cheguei a conhecer, morreram por doença entre as idades de dois meses e quatro anos.'' (pag. 24)
O desejo de ter a infância perdida de volta, e a saudade da família, incentivaram Nujood a emplorar ao marido que a levasse de volta à cidade de seus pais por um certo período, e foi durante esse período de alívio que Nujood tomou coragem para fugir de casa em busca de ajuda. A única informação que tinha era a de que precisava encontrar um juiz e informar que queria um divórcio. Divórcio. Nujood nem sabia o que a palavra significava na verdade, mas de acordo com o que foi informada, divórcio a livraria do casamento que nunca desejou, e do homem que a estuprava e espancava diariamente. Divórcio. E é assim que a história começa.
Nem consigo resumir em palavras o sofrimento da história de Nujood. O livro é narrado por ela, e foi escrito por Delphine Minoui, jornalista do Oriente Médio correspondente para o jornal francês Le Figaro, que acompanhou de perto o caso de Nujood e a conheceu dois meses após o divórcio.
A história de Nujood não é a primeira e nem será a última, sua vida é semelhante à de milhares de outras meninas no Yêmen, Afeganistão, Paquistão e por aí vai, mas a história de Nujood traz esperança, traz uma luz no fim do túnel para tantas outras meninas que sofrem com o mesmo destino. Com a ajuda de advogados locais - que mesmo dividindo a mesma cultura, ficaram impactados e chocados que a história dessa criança, e decidiram abraçar sua causa - e da imprensa, Nujood consegue sua liberdade, e vai além... passa a inspirar muitas outras jovens a também buscar uma saída.
''Nesse país da península Árabe, onde o casamento de crianças é comum, e tem base em tradições que, a princípio, pareciam não ter como por um fim, esse ato inacreditável de bravura [de Nujood] tem encorajado outras pequenas vozes.'' (pag. 171)
Nujood foi a primeira jovem a conseguir um divórcio no Yêmen, aos 10 anos de idade. E foi eleita ''A mulher do ano'' em 2008 pela revista Glamour (reportagem em inglês aqui), e teve sua história relatada em jornais como The New York Times (reportagem em inglês aqui), Los Angeles Times (reportagem em inglês aqui), e na revista Time (reportagem em inglês aqui).