As vezes me pergunto se as mulheres de Henry James são secretamente inspiradas nas de Flaubert (de modo menos egoísta, diga-se de passagem), ou se James busca apenas fazer uma justaposição das sociedades Americana e Europeia. Digo isso porque, assim como a protagonista de The Portrait of a Lady, Daisy Miller é uma jovem nascida na América que, ao viajar para a Europa, vê-se em conflito com a opinião e comportamento daquela sociedade conservadora, considerada como o centro do pensamento livre, e modos liberais. Ambas sofrem humilhações nas mãos dos europeus, e acabam coagidas por serem consideradas insubmissas às normais sociais locais.
Escrita em terceira pessoa, o narrador relata a história usando o ponto de vista dos personagens, como se estivesse lendo suas mentes, explorando suas percepções e consciência.
Daisy Miller viaja com a mãe, o irmão e os criados pela Europa, vinda de Nova York. É na Suiça que conhece Winterbourne, que sem perceber se apaixona pela destemida e inocente Daisy Miller, e a segue até Roma, onde a história se desenvolve.
Ainda na Suiça percebe-se pelos comentários da tia de Winterbourne, Senhora Costello, que aquela sociedade não vê com bons olhos o modo liberal com que Daisy Miller se relaciona com os recém-conhecidos— e aqui a história me traz à memória Orgulho e Preconceito, quando Mr. Darcy demonstra pouco caso ao interagir com a família de Elizabeth Bennett até ser devidamente apresentado e ganhar certa intimidade... e quem não lembra como Mr. Darcy tratou Mr. Collins quando este último tentou uma aproximação? — É preciso uma introdução formal para que ambas as partes sejam consideradas 'conhecidos'. A sociedade europeia é seletiva e elitista, são poucos os que têm acesso ao círculos sociais mais elevados, e os que não se encaixam nos pré-requisitos dessa seleção são excluídos sem qualquer cerimônia ou discrição.
Ao chegar a Roma, Daisy Miller conquista certa notoriedade, em pouco tempo circula pelos jantares mais badalados, convites chegam diariamente requisitando sua presença. No entanto, quando certo tempo depois, Winterbourne decide visitá-la em Roma, o curso da história de Daisy Miller já é outro. Rumores circulam pela cidade sobre as liberdades da moça, sobre seus passeios diários desacompanhada da mãe, e cercada por italianos de certa reputação.
E assim acontece o declínio de Daisy, ainda mais rápido que sua ascensão. Não se sabe se por ingenuidade ou teimosia, ela insiste em não aceitar os conselhos da mãe e dos amigos mais chegados, recusa-se a mudar seus hábitos para agradar a sociedade, projeta-se como inabalável. Prefere a liberdade... e a liberdade acaba lhe custando mais do que esperava.
As biografias sobre Henry James parecem concordar em um ponto, o próprio James era considerado expatriado, os primeiros vinte anos de sua vida foram marcados por suas idas e vindas da America para Europa, até que decide fixar residência na Inglaterra pouco tempo antes de sua morte. E aqui a minha pergunta do início desse post é respondida... como expatriado que era, James tinha conhecimento de causa e por esse motivo muitas de suas obras retratam o choque de culturas e de personalidades quando visitando terras estrangeiras: The Portrait of a Lady, Daisy Miller, Roderick Hudson, The American... e por ai vai. Outro ponto marcante em suas obras é a excelência com que James escreve sobre os países que seus personagens visitam, nesse ponto ele me lembra Tolstoy, ao descrever minuciosamente os cenários que se misturam com o ambiente natural, e na minha mente se transformam em obras-de-arte como as pinturas de Rembrandt... e não é esse um dos maiores prazeres da leitura?
“Na pequena cidade de Vevey, na Suiça, existe um hotel particularmente confortável. Existem, na verdade, muitos hotéis; uma vez que entreter turistas é a maior fonte de renda do lugar, que, como muitos viajantes lembrarão, é localizado às margens de um lago azul inesquecível— um lago que atrai cada turista para uma visita.” (pag. 135)
Escrita em terceira pessoa, o narrador relata a história usando o ponto de vista dos personagens, como se estivesse lendo suas mentes, explorando suas percepções e consciência.
Daisy Miller viaja com a mãe, o irmão e os criados pela Europa, vinda de Nova York. É na Suiça que conhece Winterbourne, que sem perceber se apaixona pela destemida e inocente Daisy Miller, e a segue até Roma, onde a história se desenvolve.
Ainda na Suiça percebe-se pelos comentários da tia de Winterbourne, Senhora Costello, que aquela sociedade não vê com bons olhos o modo liberal com que Daisy Miller se relaciona com os recém-conhecidos— e aqui a história me traz à memória Orgulho e Preconceito, quando Mr. Darcy demonstra pouco caso ao interagir com a família de Elizabeth Bennett até ser devidamente apresentado e ganhar certa intimidade... e quem não lembra como Mr. Darcy tratou Mr. Collins quando este último tentou uma aproximação? — É preciso uma introdução formal para que ambas as partes sejam consideradas 'conhecidos'. A sociedade europeia é seletiva e elitista, são poucos os que têm acesso ao círculos sociais mais elevados, e os que não se encaixam nos pré-requisitos dessa seleção são excluídos sem qualquer cerimônia ou discrição.
“Em Geneva, como ele tinha perfeita ciência, um jovem não deveria tomar a liberdade de falar com uma jovem solteira, com exceção de algumas certas raras condições; mas aqui, em Vevey, que condição mostraria-se mais favorável que esta? - uma bela jovem americana caminhando e parando bem a sua frente no meio do jardim.” (pag. 139)
Ao chegar a Roma, Daisy Miller conquista certa notoriedade, em pouco tempo circula pelos jantares mais badalados, convites chegam diariamente requisitando sua presença. No entanto, quando certo tempo depois, Winterbourne decide visitá-la em Roma, o curso da história de Daisy Miller já é outro. Rumores circulam pela cidade sobre as liberdades da moça, sobre seus passeios diários desacompanhada da mãe, e cercada por italianos de certa reputação.
“A garota circula pela cidade sozinha cercada pelos estranhos. Sobre o que acontece nesses passeios, deves inquirir a outra fonte pela informação. Ela se associou a meia-duzia de romanos em busca de fortuna, e os leva como companhia aos jantares que frequenta. Quando ela vem a uma festa ela traz consigo um cavalheiro com boas maneiras e um bigode maravilhoso.” (pag. 162)
E assim acontece o declínio de Daisy, ainda mais rápido que sua ascensão. Não se sabe se por ingenuidade ou teimosia, ela insiste em não aceitar os conselhos da mãe e dos amigos mais chegados, recusa-se a mudar seus hábitos para agradar a sociedade, projeta-se como inabalável. Prefere a liberdade... e a liberdade acaba lhe custando mais do que esperava.
As biografias sobre Henry James parecem concordar em um ponto, o próprio James era considerado expatriado, os primeiros vinte anos de sua vida foram marcados por suas idas e vindas da America para Europa, até que decide fixar residência na Inglaterra pouco tempo antes de sua morte. E aqui a minha pergunta do início desse post é respondida... como expatriado que era, James tinha conhecimento de causa e por esse motivo muitas de suas obras retratam o choque de culturas e de personalidades quando visitando terras estrangeiras: The Portrait of a Lady, Daisy Miller, Roderick Hudson, The American... e por ai vai. Outro ponto marcante em suas obras é a excelência com que James escreve sobre os países que seus personagens visitam, nesse ponto ele me lembra Tolstoy, ao descrever minuciosamente os cenários que se misturam com o ambiente natural, e na minha mente se transformam em obras-de-arte como as pinturas de Rembrandt... e não é esse um dos maiores prazeres da leitura?
“A noite estava encantadora, e ele prometeu a si mesmo a satisfação de caminhar até a casa, passar por debaixo do Arco de Constantino e além dos monumentos levemente iluminados do Forum. Num céu de lua minguante, o esplendor não era brilhante mas a lua estava coberta por uma fina cortina de nuvens que parecia dissolver e igualar-se a sua cor. Quando, ao retornar da vila (já eram vinte e três horas), Winterbourne aproximou-se do círculo abstruso do Colosseo, pareceu para ele, amante eterno do pitoresco, valer muito a pena visitar o interior do monumento, à luz do pálido esplendor da lua. (...) E então ele atravessou por entre as sombras cavernosas da estrutura colossal, e reapareceu na clara e silenciosa arena. O lugar nunca lhe havia parecido tão impressionante.” (pag. 187)