Tuesday, September 28, 2010

Clarice na Cabeceira (Clarice Lispector)

Devo dizer que a idéia de uma coletânea dos contos de Clarice Lispector foi brilhantíssima!
Há poucas semanas atrás realizei um dos meus sonhos, encontrei não apenas um, mas dois livros - A hora da estrela e Uma maçã no Escuro - de Clarice em dois sebos diferentes aqui nos Estados Unidos, nem preciso dizer que comprei-os.

O que me preocupa é se a tradução para o inglês consegue manter a essência das obras. A hora da Estrela (resenha aqui) é um dos meus livros favoritos, que me fez parecer uma louca gargalhando enquanto lia em lugares públicos - será que a tradução consegue passar a mesma comicidade e ironia de Clarice quando lido na língua inglesa?

Mas hoje estou aqui pra falar de Clarice na Cabeceira, que reune alguns contos dos livros Laços de Família, A Legião Estrangeira, Felicidade Clandestina, A Via Crucis do Corpo, Onde estivestes de Noite, e A Bela e a Fera... eu não sou muito fã de contos porque no momento em que eu começo a gostar dos personagens a história acaba, coisa chata né?! Mas os contos de Clarice, em sua maioria, são curtos e grossos, como se costuma dizer, e acaba mesmo algumas vezes com aquela sensação de "hummm, será que eu entendi?" ou "ha ha isso me parece familiar", só lendo para experienciar.

Lembro que quando li Laços de Família, anos-luz atrás, eu apaixonei por Clarice mas ela me pareceu uma escritora sem muito sentido, alguns contos me deixaram com uma interrogação na cabeça - escrever sobre uma galinha? E aquela outra que tira sarro do cego? E a outra que nunca explica o problema que tem e ainda perde tempo decidindo se dá ou não dá as rosas? Na verdade para alguns é preciso um pouco mais que vontade de ler, é preciso re-ler, re-re-ler para entender essa mulher enigmática. Hoje re-lendo alguns dos contos de Laços de Família me pego compartilhando as divagações daqueles personagens, será que isso é mal de gente grande? Pensar demais e agir de menos? Minha imaginação usa o melhor de mim?

E o que continua me encantando em Clarice é a forma simples, coloquial em que ela escreve suas histórias, como se ao ler estivéssemos conversando com nossas idéias, de tão simples que tudo parece, mas ao mesmo tempo se perguntando, de onde foi que ela tirou uma coisa dessas? É meus caros, é esse o efeito Clarice...

Conto favorito? É para lá que eu vou (pag. 161)


"Quero usar a palavra 'tertúlia' e não sei onde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou."

O mais engraçado? O relatório da coisa (pag. 121)
"Eu creio no Sveglia. Ele não crê em mim. Acha que minto muito. E minto mesmo. Na Terra se mente muito."

O mais sem noção? O Ovo e a Galinha (pag. 89)

"O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos e a galinha existe. Mãe é para isso."

Ri pra não chorar? A Língua do "P". (pag. 109)
"E ela a se requebrar que nem sambista de morro. Tirou da bolsa o batom e pintou-se exageradamente. E começou a cantarolar."

Sunday, September 26, 2010

"À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo."
(Clarice Lispector, do livro
Clarice na Cabeceira, pag. 164.)

Saturday, September 18, 2010

Poema de Sábado

"My life has been the poem I would have writ,"

My life has been the poem I would have writ,
Minha vida tem sido o poema que eu deveria ter escrito,
But I could not both live and utter it.
Mas não pude eu vivê-la e escrevê-la ao mesmo tempo.

(Henry David Thoreau,
do livro The best Poems
of the English Language,
pag. 523)

Sunday, September 12, 2010

The girl who played with Fire (Stieg Larsson)

É a primeira vez que fico tão fascinada por com um escritor e me pego viciada em uma trilogia... Estou adiando ler o último livro só porque não quero que a história acabe antes mesmo de começar.

Stieg Larsson tinha como meta uma série de 10 livros sobre a misteriosa Lisbeth Salander, mas infelizmente o escritor nos abandonou após entregar o manuscrito dos terceiro livro, para desespero dos fãs dessa baixinha de tantas faces.

The girl who played with fire - A menina que brincava com fogo, em português -  não deixa nada a desejar em relação ao primeiro livro, The girl with the dragon tattoo - A garota com tatuagem de dragão - resenha aqui. As aventuras de Salander não diminuem e nem ficam mais fáceis. Porém, nesse segundo livro, o leitor fica sabendo os detalhes mais íntimos do passado da personagem: o motivo de seu ódio por homens canalhas, o porque de sua internação em clínicas psiquiátricas, e mais um pedaço do quebra-cabeça que é a sua vida, Zala.

Svensson, jornalista recém-contratado pela revista Millennium, há alguns anos vem fazendo uma investigação profunda sobre a mafia de prostituição Sueca. A namorada de Svensson, Mia, está prestes a concluir sua tese de doutorado no mesmo assunto. Os dois planejam lançar um livro publicado por Millennium, junto com uma edição especial da revista expondo toda a documentação e provas colhidas durantes os anos de investigação, para desmascarar a rede de prostituição que envolve desde policiais e jornalistas a traficantes de droga e empresários.

Um dia antes de entregar os 3 últimos capítulos finais do livro para Blomkvist, Mia e Svensson são friamente assassinados em casa. No dia seguinte, o corpo do advogado e guardião de Salander, Bjurman, é encontrado em seu apartamento com um tiro na cabeça... as impressões digitais de Salander estão na arma que matou o casal de jornalistas, bem como na que matou Bjurman... O que é que se passa aqui minha gente?

O mistério vai se desenrolando como cebola... camadas por camadas, e acaba que o crime é investigado triplamente... primeiro pela polícia, segundo por Blomkvist e terceiro por Armanski, o diretor da Milton Security. Por onde Salander anda torna-se um mistério por até mais da metade da história, o que não significou necessariamente que ela estava ausente. Quando mais fatos eram descobertos sobre sua vida, mais motivos haviam para acreditar em sua culpa, até que o "grande  mistério" vem à tona e as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar...

Assim como o primeiro, esse livro é daqueles que não se quer parar de ler. Larsson mostrou mais uma vez que tem um talento danado para contar histórias, sabe como prender a atenção do leitor e manter o segredo guardado até o fim, sem deixar a história perder a graça ou o leitor perder o interesse... não vejo a hora de começar o livro 3! Aaah não, daí significa que não tem mais Salander depois disso... acho que vou adiar um pouco mais ;)

"Não existem inocentes. Existem, no entanto, diferentes níveis de responsabillidade".
(pag. 403)

Monday, September 6, 2010

Boom! (Mark Haddon)

Livro escolhido por Beth oara o BookClub do mês de agosto.
Boom! Foi publicado pela primeira vez em 1992 com o estranho título de "Gridzbi Spudvetch!". Na época o livro não teve muita sorte, não sei se por causa do título que poucos sabiam pronunciar e nada de atrativo tinha, mas poucos exemplares foram vendidos e meio que caiu no esquecimento... alguns anos depois o livro resurge das cinzas como uma fênix, graças a leitores que se diziam envolvidos com a história.

A nova edição foi lançada em 2007, trazendo uma história melhorada. De acordo com o autor, muito da história foi re-escrito, as lacunas preenchidas e, obviamente, o título foi mudado para "Boom!". O livro conta as aventuras de Jim e seu melhor amigo Charles que muito por acaso perceberam que havia algo de esquisito com seus professores de História e Matemática. Decidido a desvendar o mistério em torno daquelas figuras estranhas, Charles envolve o coitado e medroso Jim na investigação, e o que parecia ser apenas uma sisma de adolescentes acaba se transformando em caso de polícia sci-fi inter-galático.

A história não é muito minha praia e é voltada para o público pré-adolescente, e se não fosse pelo Bookclub, não teria lido esse livro mesmo (tanto que nem cheguei a comprar!) mas até que o enredo tem alguns pontos que me agradaram. Gostei como Haddon abordou sutilmente os problemas de desemprego e "inversão de papéis sociais" - o pai de Jim acabara de perder o emprego e estava naquela fase de transição e aceitação... uma vez patriarca da família, agora se via renegado a empregado de sua própria casa, enquanto a mãe outrora dona-de-casa, vira o esteio da família, ganhando mais do que o pai jamais ganhara... como lidar com isso numa sociedade onde o homem ainda é visto como mantenedor principal do lar?

Também gostei do fato de que Haddon usou várias expressões características inglesas na história, dá pra sentir um gostinho da Inglaterra em cada página, fiel às raízes. Boom! é um livro curtinho, leitura rápida... tem um mistériozinho no meio para adicionar um sal à história, tem ET, tem uma irmã revoltada com namorado metaleiro, que detesta o irmão mas no fundo, no fundo daria a vida para protegê-lo. Tem teste de amizades, tem criatividade e uma pitadinha de humor... Para as outras meninas do grupo, que já leram outras obras de Mark Haddon, ler Boom! após ter lido as outras obras fez com que elas percebessem o quanto Haddon cresceu como escritor durante os últimos anos,  Boom! foi o primeiro livro e como primeiro, tem um certo grau de experientalismo, imaturidade, inexperiência mas não deixa de ser o primeiro passo... afinal de contas, tudo começa com o primeiro não é mesmo?

Saturday, September 4, 2010

Poema de Sábado

Conha e cavalo-marinho.

Pálpebras cerradas
Ao poder violeta
Sombras projetadas
Em mansuetude
Sublime colóquio
Da forma com a eternidade.

Conha e cavalo-marinho.

(Vinícius de Moraes,
Nova Antologia Poética,
pag. 82)